MP denuncia diretor da FAEP, ligada à CNA, por homicídio de Sem Terra no Paraná

Da Página do MST

Tarcísio Barbosa de Souza é acusado de participação na morte de Sebastião Camargo, mesmo caso em que Marcos Prochet é réu. O júri popular de Prochet será nesta sexta-feira (22), no Tribunal do Júri de Curitiba.

O Ministério Público do Paraná oficiou denúncia contra Tarcísio Barbosa de Souza, presidente da Comissão Fundiária da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) – ligada à Confederação Nacional da Agricultura (CNA) – por participação no assassinato do trabalhador Sem Terra Sebastião Camargo, ocorrido em 1998.

Souza também é ex-tesoureiro da União Democrática Ruralista (UDR) e ex-vereador em Paranavaí pelo ex-partido Democratas (DEM).

A denúncia foi encaminhada pelo MP-PR no dia 10 de julho à Comarca de Nova Londrina, onde tramita o processo. Em 2011 diversas organizações enviaram representação criminal ao Promotor da comarca, pedindo a instauração de ação penal, pois várias provas apontam para a participação ativa de Tarcisio no despejo forçado que resultou na morte do Sem Terra. Este é o mesmo caso pelo qual Marcos Prochet, presidente da UDR na época, será julgado.

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Entre os elementos apresentados na denúncia, o MP-PR aponta a participação do acusado em despejos ilegais realizados na época, além do envolvimento direto com Osnir Sanches, condenado em 2012 por participação no crime.

“No ano de 1998 o denunciado Tarcísio Barbosa de Sousa exercia a função de coordenador da UDR, na região de Paranavaí (PR), sendo pessoa responsável por realizar desocupações forçadas em fazendas ocupadas por integrantes do Movimento Sem Terra (MST), ocasião em que, mesmo quando não participava efetivamente dos atos, abastecia os executores com armas, munição, máscaras para cobrir o rosto, efetuava os pagamentos, incumbência partilhada com Osnir Sanches, contratado pelo próprio denunciado com a função de ‘segurança’”, diz o MP-PR.

Testemunhas

Osnir Sanches, durante interrogatório no júri em que foi condenado a 14 anos de prisão por participação no crime em novembro do ano passado, apontou o envolvimento do integrante da FAEP como articulador da milícia que executou o despejo ilegal em que Camargo foi morto.

Segundo o réu, que tinha uma “empresa” ilegal de segurança particular e detetives privados, Tarcísio Barbosa Souza se apresentou como representante da UDR no contato feito antes do despejo.

“Eu fui procurado por Tarcísio Barbosa e convidaram mais seis a oito pessoas para ir até a Fazenda Santo Ângelo. Aí ele disse para mim que era para fazer uma passeata seguida da desocupação do pessoal que estava lá”, revela no depoimento.

A desocupação ilegal realizada por uma milícia fortemente armada deixou 17 trabalhadores Sem Terra feridos e assassinou Sebastião Camargo, de 65 anos.

Osnir Sanches afirmou em outros depoimentos que Souza atuou, junto com o advogado Ricardo Baggio, para fraudar provas do processo. Segundo Osnir, Ricardo Baggio, a pedido de Souza, teria fraudado um depoimento à polícia em que Osnir negava a participação no homicídio.

Outras provas do processo registram que Souza foi citado por diversas testemunhas durante a investigação sobre o caso Sebastião Camargo. Há acusações em denúncias e depoimentos de que o integrante da FAEP participou ativamente na organização da milícia armada.

Além de Osnir Sanches, a testemunha Eduardo Mady Barbosa, delegado que apurou o caso, e o réu Augusto Barbosa da Costa, dentre outros, apontaram o envolvimento de Souza no assassinato do Sem Terra.

Reginaldo Nascimento Batista, outra testemunha do processo, declarou ainda que as armas usadas pela milícia desciam ilegalmente de avião no aeroporto de Loanda e que Souza era a pessoa responsável por recebê-las. Declarou que Souza recebia os armamentos e distribuía, em seu carro pessoal, para Querência do Norte, Nova Londrina, e Loanda.

Outros envolvidos

Em novembro de 2012 duas pessoas foram condenadas por participação no assassinato de Sebastião Camargo: Teissin Tina, ex-proprietário da fazenda Boa Sorte, onde o agricultor foi morto, recebeu condenação de seis anos de prisão por homicídio simples; e Osnir Sanches foi condenado a 13 anos de prisão por homicídio qualificado e constituição de empresa de segurança privada, utilizada para recrutar jagunços e executar despejos ilegais.

Em fevereiro desse ano, Augusto Barbosa da Costa, também acusado de envolvimento no caso, foi absolvido.

O quarto réu no processo é Marcos Prochet, presidente da UDR quando ocorreram os fatos. Prochet está sendo defendido por Roberto Brzezinski Neto, um dos advogados do ex-deputado Carli Filho. O latifundiário é o principal acusado de atirar e matar o trabalhador Sebastião Camargo.