Reforma agrária popular depende da luta das mulheres

 

Por Vanessa Ramos


Mais do que força e raça, marca de luta no corpo, dor e alegria, mulheres mostraram que têm gana para enfrentar a atual conjuntura agrária brasileira. Durante o segundo dia do VI Congresso Nacional do MST, elas reafirmaram o papel que desempenham junto à sociedade, sobretudo, junto à luta camponesa.

 

Por Vanessa Ramos

Mais do que força e raça, marca de luta no corpo, dor e alegria, mulheres mostraram que têm gana para enfrentar a atual conjuntura agrária brasileira. Durante o segundo dia do VI Congresso Nacional do MST, elas reafirmaram o papel que desempenham junto à sociedade, sobretudo, junto à luta camponesa.

Em 30 anos de existência, esta foi a primeira vez que o Congresso Nacional do MST inseriu na programação do evento uma mesa de debates sobre a participação das mulheres no processo de construção de um projeto que vise mudanças no país. E para marcar o momento histórico, compuseram a mesa: Conceição Dantas, da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Adriana Mesadri, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), e Nivia Regina, do MST.

Segundo Nivia, o espaço não significou apenas mais uma mesa no VI Congresso, mas reforçou que o debate das mulheres, sobre a situação das mulheres, deve ser constante nas organizações e nos estados. Ainda na opinião dela “a luta das mulheres é uma condição essencial para o processo de transformação da sociedade”.

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Para que o processo de transformação se dê, o primeiro passo é deixar de enxergar as mulheres, durante os processos históricos de lutas camponesas, como simplesmente amantes de lutadores. De acordo com Conceição, do MMM, Manuela Sáenz, por exemplo, foi mais do que companheira do revolucionário Simón Bolívar. “Ela lutou ombro a ombro com ele, pegou em armas e, apesar disso, é conhecida na história como amante de um lutador”, disse.

Essa falta de reconhecimento acontece, segundo Conceição, porque existe uma relação muito íntima entre o capitalismo e o patriarcado. Esse capitalismo usufrui das ideias patriarcais para construir uma divisão social falsa, e isso faz com que o trabalho da mulher, que muitas vezes é fundamental para a sociedade, seja desvalorizado.

Para piorar, as mulheres ainda são submetidas a muitas formas de exploração. “Um exemplo disso é o trabalho na seleção de frutas, ainda realizadas em muito países, em que as mulheres são obrigadas a usar fraldas porque não podem se ausentar nem para ir ao banheiro”, contou Adriana.

Entretanto, historicamente, as mulheres sempre fizeram parte da luta de classe e contribuíram para a libertação dos seus países, para a libertação das suas comunidades e para a conquista de terras, mas o processo de reconhecimento ainda é um desafio a ser enfrentado.

No entanto, a experiência de luta das mulheres não é algo recente. Elas estiveram presentes nas lutas dos Quilombos, Canudos, Contestados e, recentemente, na luta contra a Monsanto, contra a Aracruz Celulose, além de outras tantas lutas.

O MST também contribuiu nesse processo de visibilidade das mulheres ao ousar em levar as mulheres para as ocupações de terras. Esse é um momento difícil para as mulheres, segundo Adriana do MMC, sobretudo, é um momento de um novo sujeito histórico, “em que elas são desafiadas a romper com o mundo privado da casa e ir ocupar terras”, completou Nivia.

E ainda, “se nós quisermos que as mulheres sejam parte da construção da Reforma Agrária popular e da transformação histórica da sociedade, temos que aprender com a experiência das mulheres”, ressaltou Conceição.

FOTO: Leonardo Melgarejo