Curva do “S”, em Eldorado dos Carajás, amanhece tomado pelos Sem Terra



Por Márcio Zonta 
Da Pagina do MST



A Curva do “S” na BR 155, em Eldorado dos Carajás, amanheceu como há 18 anos, tomado pelos Sem Terra.


Um mar vermelho monocolor tomou a pista e, com um ato político - cultural rememorou um dos principais massacres da história do Pará contra camponeses.

Por Márcio Zonta 
Da Pagina do MST

A Curva do “S” na BR 155, em Eldorado dos Carajás, amanheceu como há 18 anos, tomado pelos Sem Terra.

Um mar vermelho monocolor tomou a pista e, com um ato político – cultural rememorou um dos principais massacres da história do Pará contra camponeses.

Vinte e um trabalhadores tombados no dia 17 de abril de 1996 pela Polícia Militar marcaram para sempre a história de uma curva, antes, insignificante aos olhos de quem transitava pela rodovia.

“Eu sempre que passo por aqui olho para essas castanheiras, diminuo a velocidade e faço o sinal da cruz”, conta o caminhoneiro Manuel Catará, que de fora da boleia do caminhão assiste ao ato, fazendo referencia as arvores que simbolizam os trabalhadores assassinados.

Para Tito Moura da coordenação nacional do MST no Pará, o Massacre de Eldorado dos Carajás não foi somente contra o movimento: “Esse genocídio é contra toda a sociedade, não somente a nós, pois foi contra toda a classe trabalhadora do campo e da cidade”, expõe.

Esse é o sentimento de muitos que agüentam o sol forte intercalado aos chuviscos do inverno amazônico no meio da estrada. A professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), Célia Regina, afirma que sua presença é pela solidariedade de classe que tem pelos trabalhadores do campo.

“Minha vinda é pela questão da memória por um massacre que acontece todos os dias contra o povo e o fundamental é lutar a favor da concretização da reforma agrária que dê condições para as pessoas viverem no campo e garantir nosso alimento saudável na cidade”, diz.

Estudo de Cena 

A cena do crime ainda é real, quase duas décadas depois. Para dinamizar ainda mais o local, o grupo paulista Estudo de Cena acampou com os jovens militantes do MST por toda semana.  No meio da estrada interditada nessa manhã tirou sentimentos  do público que parou para assistir ao espetáculo teatral.

“Eu to ali no carro esperando os Sem Terra abrirem a pista, meio furiosa porque tenho compromisso em Marabá, mas agora até mais calma com essa gente encenado. Me emocionei, depois fiquei com raiva de quem matou eles”, fala Minerva Souza,que trabalha numa empreiteira.

A peça a qual a jovem se refere traz a história da carnificina ocorrida na tarde do dia 17 de abril, chamada a Farsa da Justiça, escrita em 2005 pelo coletivo de cultura do MST.

“Nosso objetivo é colocar o teatro a serviço da luta de classes. Estar aqui é somar com a força do movimento. A gente acredita que o esquecimento do massacre faz parte do massacre então não podemos nunca deixar isso acontecer e deixar essa burguesia assassina impune”, protesta Diogo Noventa, integrante da trupe.

Ayala Ferreira, também dirigente nacional do MST no Pará acredita que a mobilização todo ano do MST na pista ajuda a desnaturalizar o acontecido. “Desde que nós construímos a mística do acampamento o objetivo foi manter viva essa chaga de nossa história e afirmar a continuidade de nossas lutas por meio da nossa juventude Sem Terra”, define.  


No quintal do crime

Para uma mulher, em especial, já com seus quase setenta anos, o Massacre de Eldorado dos Carajás nunca vai se naturalizar.

Dona Rita, testemunha ocular da tarde sangrenta é dona do quintal onde tudo ocorreu. Desde abril de 1996 até hoje eu recebo os Sem Terra aqui com o maior prazer, já vi tanto menino e menina crescer por esses anos.

Com olhos marejados e abraços apertados começa a se despedir de homens, mulheres, crianças, jovens e idosos, que participaram de mais um ano da história do Massacre de Eldorado dos Carajás.

“Já estou ficando triste com a ida desse povo embora”.