Jornada de Agroecologia se consolida numa escola popular e camponesa

Por Ceres Hadich
Da Página do MST


Por muitos anos, a chamada agricultura industrial moderna, embrião de o que nos anos 90 se transformou no agronegócio, foi tomada como a saída para os problemas da fome e da miséria no mundo.


Dessa maneira, décadas de conhecimento e desenvolvimento das forças produtivas e das tecnologias estiveram voltadas a trazer respostas e argumentos que fortalecessem esse discurso.

Por Ceres Hadich
Da Página do MST

Por muitos anos, a chamada agricultura industrial moderna, embrião de o que nos anos 90 se transformou no agronegócio, foi tomada como a saída para os problemas da fome e da miséria no mundo.

Dessa maneira, décadas de conhecimento e desenvolvimento das forças produtivas e das tecnologias estiveram voltadas a trazer respostas e argumentos que fortalecessem esse discurso.

Diferentemente do que se propagandeava, porém, nem a revolução verde, tampouco o agronegócio resolveram a questão das diferenças sociais e das necessidades da humanidade, isso porque em ambos os casos o que se buscava não era – e continua não sendo -, a reestruturação de um modelo de produção menos centralizador, concentrador, explorador. Pelo contrário, a agricultura moderna e o agronegócio se baseiam na lógica da produção de mercadorias, geração de lucros, exploração de pessoas e dos recursos naturais e claro, toda essa engrenagem deitada sobre o berço da propriedade privada.

Diante da crise social, ecológica e econômica, gerada pelo fracasso da revolução verde, ficou cada vez mais clara a necessidade de construir um novo paradigma para a agricultura mundial.

Nessa perspectiva as forças populares, e, principalmente, os movimentos sociais do campo, a partir dos anos 90, passaram a identificar na Agroecologia a alternativa possível para a reconstrução da agricultura.

No Brasil, o MST amadurece essa necessidade reafirmando em seu IV Congresso Nacional, no ano 2000, a agroecologia como linha política, parte da construção de um projeto popular para o campo brasileiro.

A partir dai, surgem as escolas e centros de formação em Agroecologia. No Paraná, foram construídas cinco, sendo elas o Instituto Técnico de Estudos e Pesquisas da Reforma Agrária (ITEPA), Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (CEAGRO), Escola Milton Santos (EMS), e Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA), em parceria com a Via Campesina, e a Escola Técnica Padre Sasaki.


Jornadas de Agroecologia 

Em 2002, no estado paranaense, se estabeleceu uma ampla coalizão de Movimentos Sociais do Campo, Organizações da Agricultura Familiar e de assessoria dando início as Jornadas de Agroecologia, uma ação inédita e popular de caráter massivo, denúncia e contraponto ao agronegócio, estudo, socialização da prática e da experiência agroecológica e camponesa (leia mais).

Realizadas ao longo de mais de uma década, os encontros anuais passaram a representar a síntese do processo de construção da agroecologia e embate ao agronegócio, consolidando-se como uma escola popular e camponesa permanente, renovada ao longo de cada ano nos territórios camponeses, atingindo seu auge durante os quatro dias de encontro.

Ainda que as Jornadas de Agroecologia tenham nascido e se mantenham realizadas em municípios do Paraná, elas têm uma abrangência internacional em seus aspectos de participação e alcance político.

As jornadas não são um processo isolado do conjunto de lutas da classe trabalhadora, camponesa e urbana. Ao contrário, elas fortalecem o embate ao modelo explorador e degradante do capitalismo, apontando suas contradições e propondo alternativas concretas, na construção de outro campo.

Assim, elas são itinerantes, acontecem em diferentes regiões do estado a cada período histórico e, a partir da realidade e do momento, assumindo hora um caráter combativo, as transnacionais, aos transgênicos e ao agronegócio, e hora um caráter de estabelecimento de alianças com outros setores da classe trabalhadora, entidades e organizações da agricultura familiar, universidades.

De toda forma, se fortalecem ao longo dos anos uma alta capacidade e referência na promoção de atos políticos, envolvendo autoridades, aliados e apoiadores e pautando políticas concretas para a agricultura familiar, camponesa e agroecológica.

As jornadas estabelecem fortes relações de solidariedade à luta da classe trabalhadora, dos povos oprimidos, dos que resistem e constroem relações sociais, econômicas e novos valores, a nível nacional e internacional.

Os lemas “Cuidando da terra, Cultivando a Biodiversidade e Colhendo soberania alimentar; Terra Livre de Transgênicos e Sem Agrotóxicos; Por um Projeto Popular e Soberano para a Agricultura”, expressam o acúmulo ideológico e teórico do período.

Promovem as Jornadas:

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra;

MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores;

MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens;

MMC – Movimento de Mulheres Camponesas;

CPT – Comissão Pastoral da Terra;

Terra de Direitos

GAMA – Grupo de Agroecologia de Maringá

NADS – Núcleo de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável

Escola Milton Santos de Agroecologia

ELAA – Escola Latinoamericana de Agroecologia

SENGE – Sindicato dos Engenheiros do Paraná

ARAS – Associação de Reflexão e Ação Social de Maringá