Laudo revela contaminação de água por agrotóxicos pela indústria Nortox


Por Rafael Fantin
Do Portal Bonde


A água tratada fornecida pela Sanepar aos moradores do distrito de Aricanduva, que pertence ao município de Arapongas (Região Metropolitana de Londrina), foi contaminada por oito tipos de agrotóxicos, aponta o relatório do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente. 


Por Rafael Fantin
Do Portal Bonde

A água tratada fornecida pela Sanepar aos moradores do distrito de Aricanduva, que pertence ao município de Arapongas (Região Metropolitana de Londrina), foi contaminada por oito tipos de agrotóxicos, aponta o relatório do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente. 

Técnicos do órgão de apoio do Ministério Público (MP) realizam a coleta no segundo semestre do ano passado em nove pontos na região onde está instalada a indústria produtora de inseticidas Nortox, entre Arapongas e Apucarana. 

Conforme o laudo ao qual o portal Bonde  teve acesso, em sete pontos foram coletadas amostras provenientes de rios e nascentes de duas microbacias próximas da indústria e de áreas de plantios, onde agricultores também podem estar utilizando pesticidas. Em alguns pontos, mais de 20 tipos de agrotóxicos foram encontrados. 

“É necessário destacar o histórico relatado pelo proprietário da pequena fazenda, segundo qual as plantações de subsistência no local jamais receberam pesticidas. Apesar disso, um total de 28 pesticidas diferentes foram identificados”, afirma a equipe técnica ao comentar as amostras retiradas de um dos rios pesquisados. 

As águas analisadas ainda foram retiradas de um poço e da torneira, o que é destacado pelos pesquisadores durante o laudo. “Observa-se grande variedade de pesticidas em todas as amostras, inclusive no Ponto P 15 T (torneira) após tratamento para distribuição de água.” Entre os oito agrotóxicos encontrados na água tratada está o atrazina, herbicida que é utilizado no plantio de cana-de-açúcar e milho. 

No relatório final, a equipe técnica conclui que a qualidade da água “não atinge os parâmetros” para os rios e “tampouco os de potabilidade”. “Sugere-se interromper o consumo humano e animal com as águas analisadas, devido ao risco sanitário oferecido pelas águas contaminadas”, recomenda o Centro de Apoio, sem apontar os responsáveis pelo dano ambiental. 

Necessidade de novas amostras 

O levantamento também pede que novas amostras provenientes de locais fora da influência da empresa e da estação de tratamento de efluentes desativada sejam analisadas “a fim de comparar a qualidade da água”. 

As promotorias do Meio Ambiente de Apucarana e Arapongas já solicitaram a avaliação de novas amostras depois que os inquéritos retornaram de Curitiba. 

O promotor do meio ambiente de Apucarana, Vilmar Antônio Fonseca, informou que abriu inquérito em separado para apurar a qualidade da água na cidade e solicitou a coleta e análise da Sanepar em diferentes pontos do município. 

Ele lembrou que a água tratada retirada de Aricanduva e avaliada pelo Centro de Apoio é proveniente do Parque da Raposa, responsável por abastecer bairros na zona norte de Apucarana. “Uma das medidas já tomadas é a proibição de atividades agrícolas em áreas próximas ao Parque da Raposa por conta do risco de contaminação”, explicou. 

Já a promotora do meio ambiente de Arapongas, Leda Barbosa Lorejan, vai solicitar que a prefeitura recolha novas amostras em diversas regiões do município e uma análise detalhada com a contratação de um laboratório para realização do exame de cromatografia, que não seria realizado pela Sanepar. 

“Infelizmente, os agrotóxicos são utilizados de maneira indiscriminada em todo Estado. Pesquisas realizadas no Paraná apontam a maior incidência de neoplasias em áreas com grande utilização de herbicidas e agrotóxicos”, alerta. 

A promotora tratou com cautela a sugestão do relatório de interrupção do abastecimento e ressaltou a necessidade de novas amostras para estudo do caso e ainda para verificar eventuais responsáveis pela contaminação. “Recentemente, Arapongas passou por um racionamento e não podemos tomar medidas que possam levar os moradores a buscar alternativas em outras fontes, que podem até estar em uma situação ainda pior”, respondeu. 

Em nota enviada ao portal Bonde, a assessoria de imprensa da Sanepar disse que a empresa tomou conhecimento do laudo no mês de abril. 

“Em contato com o MP, foi solicitado à Sanepar uma série de laudos e documentos. Sanepar efetuou em maio coletas e análises de água em 10 pontos do sistema de abastecimento de Aricanduva. Foram análises extras às que são feitas regularmente pela Sanepar, em rigoroso cumprimento à Portaria 2.914 do Ministério da Saúde, que determina os parâmetros da água potável e a frequência com que devem ser feitas as análises. Em nenhuma dessas amostras foi detectado qualquer índice de contaminação, assim como em todos os laudos feitos anteriormente. Foram encaminhados ao Ministério Público os laudos das análises de água in natura, produzida e distribuída pelo sistema de Apucarana, que abastece Aricanduva, dos últimos cinco anos. Todos os laudos feitos comprovam que a água distribuída à população de Apucarana e Aricanduva tem a qualidade exigida pelo Ministério da Saúde para ser distribuída à população”, garante a Sanepar. 

Entre quarta-feira (4) e sexta-feira (6), a reportagem procurou a Nortox, no entanto, não obteve uma posição da empresa sobre o assunto até o fechamento da matéria.