Sem Terra iniciam greve de fome contra despejo da área de Eunício de Oliveira

Trabalhadora rural sem terra fala sobre a greve de fome na Assembléia Legislativa de Goiás from HBorella on Vimeo.

 

Por Maura Silva
Da Página do MST

As 3.000 mil famílias do Acampamento Dom Tomás Balduíno, localizado na fazenda Santa Mônica, entre os municípios de Alexânia, Corumbá e Abadiânia, correm o risco de serem despejadas, caso o pedido de reintegração de posse marcado para até o dia 24 de novembro se cumpra.

Além da liminar que pede a suspensão do pedido de reintegração, parte das famílias iniciaram nesta terça-feira (18) uma greve de fome, por tempo indeterminado, na Assembleia Legislativa de Goiás, com o objetivo de chamar atenção das autoridades para a situação.

O acampamento está localizado em um dos 91 imóveis rurais que o Senador, Eunício Oliveira (PMDB-CE), possui no estado de Goiás.

Ao todo, são mais de 24.000 hectares de terra, (o equivalente a 20 mil campos de futebol), autodeclaradas improdutivas.

As terras foram ocupadas desde o dia 31 de agosto e, desde então, integrantes do MST pedem a sua desapropriação.

No entanto, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) concedeu limitar que autorizou a reintegração de posse e a retirada das famílias acampadas com o apoio da força policial.

Para o membro da direção estadual do MST de Goiás, Luiz Zarref, o pedido de reintegração de posse expedido pelo juiz da comarca de Corumbá, Levine Raja Gabaglia Artiaga, é ilegal, uma vez que o jurista é aliado pessoal e político de Eunício Oliveira.

“Essa liminar foi emitida com base em relações pessoais. O MST está entrando hoje (18/11) com o pedido de reconsideração no Tribunal de Justiça de Goiás. Não podemos permitir que milhares de pessoas sejam jogadas na rua”, afirma.

Zarref também pontua a especulação fundiária promovida na região e os vínculos do Estado brasileiro com o agronegócio, fator elucidado nas últimas eleições com o aumento no número de parlamentares ruralistas eleitos no Congresso Nacional.

“Eunício é o maior dono de terras na região. Terras improdutivas que só servem para enriquecê-lo cada vez mais. Essa é a maior ocupação de terras em Goiás dos últimos dez anos, e não vamos permitir que mais injustiças sejam feitas em prol do bem estar de latifundiários”, salienta.

Outra preocupação é com o contingente policial chamado para fazer a reintegração. Segundo Zarref, cerca de 5.000 mil policiais militares estão sob aviso.

“As famílias não estão dispostas a sair, mas também não queremos confronto. Temos mulheres, crianças, idosos que não podem ser colocados em risco. Um enfrentamento com a polícia nessas condições pode causar uma verdadeira tragédia. Confiamos no recuo do governo do estado. Essas milhares de famílias não podem sem tiradas à força dessas terras”, finaliza.

Uma carta assinada por diversos movimentos sociais e apoiadores também está circulando na internet.

O texto pede a suspensão da reintegração de posse e a descentralização da geração de renda na região.

Abaixo, leia a nota sobre a greve de fome:
 

Nota Pública  – Ocupação Dom Tomás Balduíno
 
Diante do despejo anunciado pela Polícia Militar de Goiás para o dia 21 de novembro, próxima sexta-feira, as famílias da ocupação Dom Tomás Balduíno decidiram por uma medida drástica: 22 companheiros e companheiras iniciaram nesta manhã do dia 18 de novembro uma greve de fome, que só será suspensa quando for cancelado o despejo.
 
Os 22 Sem Terra estão na Assembléia Legislativa de Goiás e optaram voluntariamente em entrar em estado de Greve de Fome para evitar um massacre anunciado. Segundo informações do próprio comando da Polícia Militar, mais de 5 mil policiais estão sendo deslocados para Corumbá para retirar as mais de 3 mil famílias que ocupam o latifúndio do senador Eunício de Oliveira.
 
O histórico dessas ações da PM não deixa dúvidas do grande perigo que correm as famílias Sem Terra: a última ação de tal envergadura foi o despejo da ocupação urbana Sonho Real, no Parque Oeste de Goiania, onde 02 foram assassinados, 07 desaparecidos e 16 feridos por arma de fogo e mais de 800 detidos.
 
Essa Greve de Fome se soma à ação do MST de Goiás de acionar o Tribunal de Justiça de Goiás para suspender a liminar de despejo. Segundo advogados populares que estão na causa, a medida de reintegração de posse é ilegal, pois não possui sequer os documentos que comprovam a propriedade do latifúndio em nome do Senador. 
 
O MST reitera sua total determinação de permanecer em diálogo, de forma pacífica, para encontrar a melhor forma de desapropriar o latifúndio Santa Mônica e assentar as famílias. Contamos com a solidariedade de diversas organizações, professores e cidadãos de Goiás e do Brasil, para que a justiça seja feita e as famílias trabalhadoras possam continuar na conquista de seu direito por terra, trabalho e dignidade.
 
Direção Estadual do MST-Goiás