Pequenas propriedades têm 95,9% de produção ativa contra 3% das grandes

 

Por Maura Silva
Da Página do MST


O lobby do agronegócio, baseado na figura da terra produtiva, coberta de verde e alimentos foram criado em cima de falácias e dados que não condizem com a realidade. 


Essa foi uma lenda construída exclusivamente para beneficiar o setor que mais lucra economicamente no país. E que só este ano aumentou seu faturamento em 117%.

 

Por Maura Silva
Da Página do MST

O lobby do agronegócio, baseado na figura da terra produtiva, coberta de verde e alimentos foram criado em cima de falácias e dados que não condizem com a realidade. 

Essa foi uma lenda construída exclusivamente para beneficiar o setor que mais lucra economicamente no país. E que só este ano aumentou seu faturamento em 117%.

Baseado nisso, o Professor Doutor em Geografia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Marco Antonio Mitidiero Junior, criou tabelas comparativas em cima de dados do Censo Agropecuário do IBGE 2006. 

Os números mostram uma média de 95,9% de produção ativa dos “pequenos” agricultores contra menos de 3% das grandes propriedades.

A ideia do professor foi confrontar as informações que dão conta de que o setor da agricultura camponesa é comprovadamente mais produtivo do que os grandes campos nutridos pelo agronegócio. 

Abaixo segue a entrevista à Página do MST:


Podemos dizer que o lobby do agronegócio é o principal responsável pela ilusão que foi criada em cima de sua produtividade?

É uma conjunção de fatores, dentre eles, o principal é a força política do agronegócio. Essa força política não é um simples lobby, é sim poder político de decisão na sua plenitude. Não importa qual é o governo ou o partido político que está no comando, o agronegócio sempre está presente com muita força de decisão. 

Diante dessa força, o governo perpetua a supremacia das políticas públicas voltadas a esse setor e, em concomitância, a mídia brasileira informa a população sobre um campo/rural pujante, “batedor” de recordes de produção e exportador, assim vai criando essa ilusão, a ilusão de que os grandes estabelecimentos rurais, personificação direta do que chamam de agronegócio, é imensamente mais produtiva do que os pequenos estabelecimentos.  

Os números mostram uma média de 95,9% de produção ativa dos “pequenos” agricultores contra menos de 3% das grandes propriedades. Diante disso, qual a maior dificuldade da agricultura camponesa em levar seus produtos para todo o país?

Existe uma diversidade de situações para caracterizar a circulação dos alimentos produzidos pelo camponês ou agricultor familiar. Geralmente são produtos que circulam em mercados locais ou regionais, mas há também produtos produzidos pelos camponeses que são comercializados até fora do país, tudo isso dependendo do tipo de produto que é produzido e das relações comerciais ou integração com agroindústrias que o produtor possui. 

Porém, o que mais caracteriza a comercialização dos produtos do campesinato é a dependência do “atravessador”, ou seja, como muitos desses produtores não possuem transporte, ficam na dependência de comerciantes que compram sua produção e revendem na cidade. 

Existe muita gente que ganha muito dinheiro indo comprar os produtos na casa do pequeno produtor. Esse é um problema histórico da pequena produção, pois ficam sempre na dependência do “atravessador” que abocanha boa parte da renda desses produtores.   


Explique a categoria do “Quase Pequeno” citada em seu artigo.

Essa foi uma categoria inventada deliberadamente com intenção política de defender a Reforma Agrária. Eu e meu orientando de iniciação científica, Humberto Barbosa, identificamos nos dados do Censo Agropecuário do IBGE-2006 que os estabelecimentos agropecuários até 10 hectares são altamente produtivos. 

Por isso, levando em considerações que o Brasil é um país com muita terra, chamado de país continental, entretanto com muitos latifúndios improdutivos e com uma concentração absurda de terra, consideramos que os estabelecimentos até 10 hectares não podiam ser considerados pequenos, por isso o “quase pequeno”. 

Pensamos colocar em evidência a produção dessa fração para causar certo espanto no leitor dos dados, pois quem lesse a tabela diria: “nossa, nem pequeno eles são e produzem tanto!”, e caso comparassem com os grandes estabelecimentos, o espanto seria ainda maior ao constatar a superioridade produtiva dos “quase pequenos” e “pequenos.” 

Os dados publicados em  2012 pelo governo federal demonstram um desinteresse das esferas públicas em investir nesse setor?

Não. Na verdade os dados publicados pelo governo mostraram o reconhecimento de que os pequenos são muito produtivos, mas só isso. Até ampliaram a quantidade de recursos para o que eles chamam de “Agricultura Familiar”, porém com pouca efetividade na aplicação dos recursos, na assistência a esses sujeitos e, principalmente, um descaso jamais visto na realização da Reforma Agrária. 


O que os movimentos sociais podem fazer para reverter esse quadro se supervalorização do agronegócio?

A longa marcha do campesinato brasileiro, título de um dos textos do geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira, é uma sugestão bem explícita a resposta dessa pergunta. 

Resta aos movimentos sociais continuar essa longa marcha que significa, sem outras palavras, continuar as ações de luta pela realização da Reforma Agrária e pela reestruturação completa e radical da estrutura fundiária e das políticas públicas para a agropecuária.