Jornada de Agroecologia da Bahia afirma luta por nova forma de produção
Da Página do MST
O assentamento Terra Vista, em Arataca (BA), foi o local escolhido para a 3° Jornada de Agroecologia da Bahia, que ocorreu entre os dias 3 a 7 de dezembro.
O evento reuniu diversos militantes e assentados do Movimento, além de quilombolas, indígenas e estudiosos, em atividades para debater formas concretas de implantar um projeto de agricultura que não use agrotóxicos e respeite a natureza.
Da Página do MST
O assentamento Terra Vista, em Arataca (BA), foi o local escolhido para a 3° Jornada de Agroecologia da Bahia, que ocorreu entre os dias 3 a 7 de dezembro.
O evento reuniu diversos militantes e assentados do Movimento, além de quilombolas, indígenas e estudiosos, em atividades para debater formas concretas de implantar um projeto de agricultura que não use agrotóxicos e respeite a natureza.
Destacou-se nos debates que a agroecologia está muito presa à academia, e deve vir para a prática, sendo apropriada pelos camponeses; além disso, não é possível pensar em agroecologia se não for realizada uma Reforma Agrária que dê condições aos camponeses de viver bem na terra.
A conscientização e união dos movimentos urbanos com os camponeses também foi apontada como uma característica fundamental para a implantação da agroecologia.
“Como podemos construir um movimento agroecológico que perceba que a luta pelo território não é só no campo? Que também precisamos lutar pela dignidade nos territórios urbanos de periferia, para que eles comunguem com a defesa do território rural”, afirma a militante Sayonara Adinkra.
Reconheceu-se a importância da Teia, iniciativa criada na 1° Jornada, que tem o papel de traçar a agenda de
ações anuais que auxiliam no desenvolvimento, empoderamento e emancipação das comunidades envolvidas.
Ao final da jornada, foi produzida uma carta, sintetizando os debates e afirmando os desafios para o próximo período.
Confira abaixo a carta na íntegra:
A III Jornada de Agroecologia da Bahia, que aconteceu no assentamento Terra Vista na primeira semana de dezembro de 2014, teve como tema “Sementes, ciência e tecnologia agroecologica, para mudar a realidade das comunidades no campo e na cidade”.
Foram cinco dias (03/12 a 07/12) intensos de partilhas, reflexões, práticas, celebrações e uma mística que envolvia a todos. As oficinas temáticas e práticas, os mini-cursos, as mesas redondas, os momentos lúdicos, as conversas ao pé da fogueira e nos diversos “cantos” do assentamento. A feira troca-troca, nos banhos no Rio Aliança. Toda essas experiências nos levaram às seguintes constatações:
– A certeza que a caminhada realizada desde a I Jornada, ocorrida no final de 2012, que consolidou a Teia de Agroecologia dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica, deve continuar. E a Teia deve atuar de forma permanente enquanto uma rede que reconstrói a solidariedade entre as comunidades tradicionais, movimentos do campo e da cidade, além de dar um sentido mais amplo à agroecologia, tão distorcida pelo excesso acadêmico e teórico e tão pouca prática.
Devemos desconstruir o tecnicismo perigoso para defender uma agroecologia que une os povos e saberes, para garantir saúde para nossos alimentos, solos e águas, para as nossas relações sociais, identidade cultural, espiritualidade e ancestralidade.
Nos comprometemos na luta pela preservação e garantia de nossas sementes, pois elas são o patrimônio genético dos povos e da humanidade.
– Assim como na II Jornada, percebemos e reafirmamos o compromisso de que não é possível consolidar uma vida saudável e autônoma, que represente novas formas de fazer política e militância, sem garantir nossos territórios, a vida de nosso povo e nossas lideranças.
A agroecologia é, então, também uma forma de enfrentamento desse sistema, e a Teia se propõe a ter ações solidárias diretas de defesa de nossos povos. Assim, nossa luta segue o caminho irrestrito de defesa da garantia da terra e por uma soberania dos povos que sabemos que só pode ser feita a partir de nosso suor.
– Exigimos a democratização da terra rural e urbana, com Reforma Agrária de verdade, a regulação imediata das terras indígenas e quilombolas e a reforma do solo urbano. Repudiamos veemente os ataques dos ruralistas contra os direitos dos povos do campo duramente conquistados, ataques estes com a conivência do Estado Brasileiro.
– Dizemos não às Propostas de Emendas Constitucionais-(PECs), Projetos de Leis-(PLs) e Portarias Ministeriais que atacam e tentam tirar direitos já conquistados. Todos esses instrumentos buscam inviabilizar e impedir o reconhecimento e a demarcação das terras dos povos tradicionais, reabrir e rever procedimentos de demarcação de terras indígenas já finalizados e facilitar a invasão, exploração e mercantilização dos territórios sagrados dos povos das florestas e suas riquezas.
Tudo isto é contrário aos princípios que vimos nesta III Jornada. Portanto, continuaremos numa luta constante contra todos estes instrumentos jurídicos e legislativos, que tentam deslegitimar as lutas e retirar os direitos constitucionais destas populações.
– Rechaçamos as propostas do REDD + e os “serviços ambientais”, no contexto da economia verde, contrários aos princípios agroecológicos, e vamos continuar lutando contra o capitalismo e as indústrias extrativas.
Basta de projetos extrativos! Não à criminalização dos povos que defendem seus territórios! Queremos um basta imediato ao processo de criminalização das lutas e das lideranças; lutar não é crime.
– Exigimos que os governos municipal, estadual e federal cumpram com suas obrigações constitucionais e garantam os nossos direitos, para que possamos ter políticas públicas de verdade, que atendam as nossas necessidades e respeitem as nossas especificidades. Isto não é um favor, é um direito.
– Lutaremos sempre por uma educação libertadora, que quebre os moldes do que o agronegócio tenta ensinar cotidianamente e que nos leve à concretização do nosso Bem Viver.
– Percebemos a necessidade e nos comprometemos em aperfeiçoar a prática da agroecologia nos nossos territórios, articulando os saberes ancestrais com os novos conhecimentos científicos, com tecnologias para o empoderamento popular, além do manejo e uso da agroecologia e biodiversidade em Sistemas Agroflorestais (SAFs), ações de desenvolvimento centradas na agricultura familiar e nas diversas produções dos povos e comunidades tradicionais.
Vamos ampliar nossos bancos de sementes e viveiros de mudas, fortalecer a formação cultural, saberes ancestrais, soberania alimentar e saúde familiar, entre muitos outros temas trabalhados nas diversas oficinas e reflexões coletivas.
– Nos comprometemos em continuar a essa jornada unidos, partilhando saberes, construindo coletivamente sonhos, protegendo as nossas sementes, organizando em mutirão as nossas lutas, exigindo com responsabilidade e de forma propositiva os nossos direitos, transformando espaços em territórios e semeando sementes de esperança, impedindo o uso de venenos e agrotóxicos.
Como nos diz o eterno poeta Gonzaguinha, na sua canção – Semente do amanhã: “Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs/ Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar! /Fé na vida Fé no homem, fé no que virá! / nós podemos tudo, Nós podemos mais. VAMOS LÁ FAZER O QUE SERÁ.
É preciso resistir para EXISTIR.
Assentamento Terra Vista, 07 de dezembro de 2014.