MST realiza prêmio Luta pela Terra e homenageia 22 lutadores

O prêmio é conferido em datas significativas a pessoas que se destacaram em defesa das lutas camponesas.

 

Por Luiz Felipe Albuquerque
Da Página do MST

Fotos: Rafael Stedile

Cerca de 600 pessoas participaram do prêmio Luta pela Terra, realizado neste sábado (24) na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP).

O prêmio é conferido pelo MST em datas significativas a pessoas que se destacaram em defesa das lutas camponesas, da Reforma Agrária e de uma sociedade socialista. 

 

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Sua última edição aconteceu em 2009, no período de celebração de 25 anos do MST. Agora, os Sem Terra realizam novamente o prêmio ao celebrar o 30° aniversário do Movimento, completado em 2014. 

Nesta 7° edição, 22 nomes foram homenageados, reconhecendo o trabalho de diversos lutadores e lutadoras do povo brasileiro.

Mauro Rubem, Marcelo Santa Cruz, Virgínia Fontes, Marluce Mello, Luiz Carlos Pinheiro Machado, Cristina Bezerra, Pereira da Viola, Irmã Anne, Olívio Dutra, Dom Pedro Casaldáliga, Leonardo Boff, Saulo Araujo, Paul Nicholson, Irmã Alberta Girardi, José Paulo Neto, Frei Henri dês Roziers, Adelaide Gonçalves Pereira, Dom Erwin Krautler, Gaudêncio Frigotto, Marcelo Barros, Sebastião Salgado e a homenagem póstuma a Dom Tomás Balduíno foram as pessoas reconhecidas.

 

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Erivan Hilário, da coordenação política pedagógica da ENFF, destacou que ao longo destes 30 anos de MST, nunca nos faltou solidariedade e apoio à luta. 

“Os momentos mais difíceis somente foram superados porque não estivemos sós. Enfrentamos as incertezas e indefinições na política, respaldados pelos debates coletivos e pelas contribuições de todos que lutam para concretizar os mesmos ideais de uma sociedade socialista”.

Para João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, o Movimento está animado neste novo ciclo de lutas e enfrentamentos que se abre.

“Esses sinais nos coloca a responsabilidade de irmos às ruas para defender as conquistas, mas acima de tudo, para construirmos um projeto popular e socialista para o país”.

 

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Ao lembrar de algumas perdas no ano de 2014, como Dona Ilda e Cidona, militantes históricas do MST, assim como Leandro Konder, Plínio de Arruda Sampaio e Dom Tomás Balduíno, Rodrigues afirmou que o MST saiu dessa conjuntura fortalecido, ao conseguir assentar, “com muito sacrifício”, mais de 20 mil famílias, e ter chegado “para as fileiras de nossos acampamentos mais de 45 mil novas famílias em 2014”.

 

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Além disso, destacou a parceria com dezenas de universidades públicas com mais de 62 cursos de graduação, especialização e mestrado, “com mais de 3.600 militantes Sem Terra ocupando as universidades brasileiras para estudar e fazer o enfrentamento na luta”.

Ao falar sobre a Reforma Agrária Popular, Rodrigues atentou para seu principal componente: a luta. “A luta é que vai nos permitir formar novos quadros, enfrentar o estado burguês e fazer alianças com outros setores. Esse é o compromisso do nosso Movimento com os amigos e companheiros que estão aqui”.

E finalizou ao lembrar que o MST se propôs o desafio “de transformar o ano de 2015 no ano da formação política no Movimento. Uma combinação de três elementos: a organização política, o estudo e a participação na luta, porque essa é nossa principal universidade: a ocupação de terra”.

Premiados

Ao receber o prêmio, a professora da Universidade Federal Fluminense, Virgínia Fontes, celebrou os 30 anos de MST e os 10 anos de ENFF, “uma das casas da classe trabalhadora da América Latina e do mundo”, e disse que “a maior miséria não é a fome, mas o fato de nos roubarem nosso horizonte e impedir a emancipação humana”.

Olívio Dutra disse se sentir honrado com a premiação, e que são “momentos como esse que nos energiza para os desafios que temos pela frente”.

Para o teólogo Leonardo Boff, esse é “um prêmio imerecível, já que há muitos lutadores que merecem ser lembrados e homenageados”. Em seu discurso, destacou que “quando se une luta com pensamento, o movimento é invencível. Vamos lutar até o fim da vida para estar ao lado de vocês e defender nossa mãe terra”.

O professor Luiz Carlos Pinheiro Machado lembrou que “todos esses anos de luta serviu para alcançar a soberania e a independência do país para se chegar ao socialismo”, e reafirmou a necessidade da construção da unidade entre as forças da classe trabalhadora.

Já Cristina Bezerra, da Universidade Federal de Juiz de Fora, destacou “o quanto a universidade ganhou com a entrada do MST nesse espaço”, e que o Movimento, assim como a ENFF, “são nossos nortes, e a eles que devemos e com eles que temos que nos comprometer”.

Anne Caroline, da Congregação de Notredame, dedicou o prêmio “a todos os que estão ao lado do MST”, e lembrou que este ano também se completam 5 anos do assassinado da Irmã Dorothy, e que devemos enfrentar a injustiça com amor, e não com armas.

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Seu Luis Beltrame, o Sem Terra mais velho do país com 106 anos.
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Mauro Rubem é um militante social do povo goiano. Atuou desde jovem nas lutas sociais do direito à saúde pública. Ajudou a organizar o MST, os sindicatos, a CUT e o PT.
Teve o reconhecimento do povo para ocupar diversos cargos públicos de vereador a deputado. Sofreu ameaças e perseguições por sua luta na causa dos direitos humanos e defesa dos mais humilhados em nossa sociedade.
Mas acima de tudo, sempre nos serviu de exemplo por sua dedicação, sua humildade e compromisso com a classe trabalhadora.
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Marcelo Santa Cruz é um advogado pernambucano dos bons e brabos. É reconhecido como defensor dos direitos humanos e da cidadania, sendo um dos fundadores do Movimento Nacional dos Direitos Humanos. Participou ativamente da luta pela Anistia aos perseguidos políticos. Marcelo Santa Cruz é um dos membros da Comissão da Memória, Justiça e Verdade. Sempre se apresentou como defensor jurídico do MST e de seus militantes.

 

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Luiz Carlos Pinheiro é professor universitário e pesquisador. Um verdadeiro cientista popular, que colocou a pesquisa e a ciência a serviço dos interesses do povo. É um dos nossos percursores da ciência da agroecologia. Difusor incansável das técnicas de produção de leite orgânico.   
Sempre nos ajudou a construir o conhecimento e as técnicas, formando técnicos-militantes para que pudéssemos ter uma agricultura sustentável e voltada para a produção de alimentos saudáveis.
Ele é um exemplo do cientista popular. E com orgulho o consideramos nosso militante.
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Virgínia Fontes é professora, estudiosa, talvez tenha sido uma das primeiras doutoras que o MST teve.  
Sempre usou seu conhecimento e sua sabedoria para multiplicar e democratizar o conhecimento entre mais e mais militantes. Estamos muito gratos por suas contribuições em nossos cursos e nos mais diferentes espaços educacionais, que sempre se colocou na defesa dos trabalhadores. E da necessária reforma agrária radical.

Carta de Dom Pedro Casaldáliga:

Companheiros e companheiras do MST

Associamo-nos às presenças tão representativas para celebrar o trigésimo aniversário do MST e o décimo aniversário da Escola Nacional Florestan Fernades.

Vocês fazem memória que é um gesto indispensável para caminhar na história, assumida com responsabilidade crítica e autocrítica. Recolhemos nesses 30 anos de MST desafios, vitórias, fracassos, testemunhas de tantos irmãos e irmãs que tem dado, com a sofrida vivência diária e com um gesto do “maior amor” um passo decisivo para a sociedade alternativa que sonhamos.

É hora de retomar a bandeira de um MST apaixonado e em companhia das forças políticas, sociais e culturais que assimilam o conselho do grande sertão:

Vocês sabem que o “essencial é a travessia”.

Com um Esperança inabalável sabemos que somos derrotados de uma causa invencível.

Eu peço para vocês, para todos os que estamos em caminhada, a bênção do Deus da Terra, da Vida e do Amor.

Pedro

São Félix do Araguaia, 20 de janeiro de 2015

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Cristina Bezerra é professora universitária, atuante e combativa nos propósitos da classe trabalhadora. Nos mostrou como o serviço social poderia deixar de ser assistencialismo para amenizar as maldades do capital, e transformá-lo em instrumento de libertação do capital. Sua sabedoria e capacidade de articulação permitiu a que centenas de jovens camponeses, militantes da reforma agrária, pudessem frequentar a universidade brasileira. E aplica como ninguém às idéias de Gramcsi, de que todas as trincheiras de sua luta são importantes, se estivermos do lado da classe trabalhadora.

 

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Irmã Anne é uma lutadora da Congregação de Notredame. Escolheu o Maranhão como sua terra. Lutadora internacional da saúde, terra, água, moradia, trabalho, cultura, alegria e amor. Mulher defensora das crianças e jovens, dos povos negros, indígenas e sem terra.

 

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Olívio de Oliveira Dutra é um lutador social criado pelo povo gaúcho. Missioneiro, resgatou ao longo de sua vida, os ideais de libertação de seu conterrâneo Sepé Tiaraju. Como lutador social, militou nos sindicatos, ajudou a construir a CUT, o PT e teve presença assídua nas lutas sociais do Rio Grande do Sul. Teve reconhecimento do povo e foi Prefeito de Porto Alegre e Governador do Estado. Mas para nós é sobretudo um militante do MST.

 

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Leonardo Boff é filho de camponeses no sul. Formou-se no espírito franciscano. Teólogo comprometido com a verdade, com o Deus verdadeiro e com o povo, enfrentou o conservadorismo das Cúrias. Não esmoreceu e continuou seu trabalho incansável. Um pensador da vida. Um pensador que nos ajuda a pensar. Um pensador que nos ajuda a lutar. Sempre esteve conosco nas lutas, nas alegrias e nos sofrimentos.
Oxalá, agora, o Papa Francisco, o jesuíta, também possa escutá-lo.
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Saulo Araújo é um os fundadores e membros mais ativos do Comitê de Amigos do MST nos EUA. A partir de sua atuação no Comitê, Saulo tem contribuído com o MST e a luta pela Reforma Agraria no Brasil em várias frentes.
Atuar no seio do império é muito difícil. Mas Saulo não se acovardou e transformou sua vida na prática permanente da mais bela qualidade do ser humano: a solidariedade. E essa solidariedade praticou não apenas com o MST e o povo brasileiro, mas também ajudando a Via Campesina e o povo do Haiti. Nosso reconhecimento.