Camponesas ocupam fábrica de agrotóxicos e Incra no Rio Grande do Sul

A multinacional israelense Adama é uma das maiores empresas de agroquímicos do Sul do país, incluindo um dos componentes do agente laranja.

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Da Página do MST

As cerca de 800 mulheres do MST e do MAB ocuparam no final da manhã desta terça-feira (10) a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), na cidade de Porto Alegre.

Na parte da manhã, elas já haviam ocupado a sede da multinacional israelense Adama, em Taquari, no Rio Grande do Sul.

As camponesas seguem no órgão federal até esta quarta, quando saem em marcha pela capital com outras organizações da Via Campesina, em que esperam mais de 5 mil pessoas nas ruas. À tarde, os movimentos sociais da Via terão uma agenda com o governador do estado, José Ivo Sartori (PMDB)

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A mobilização faz parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Camponesas da Via Campesina em defesa da soberania alimentar, contra a violência e o modelo do agronegócio na agricultura, considerado pelos movimentos prejudicial à vida das mulheres camponesas. Ao longo desta segunda-feira (9), mais de 15.000 mulheres participaram das ações em 15 estados brasileiros, com marchas, ocupações e trancamento de rodovias. 

 

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“Em contraponto ao agronegócio que não produz alimentos, destrói a biodiversidade e contamina os alimentos, com o uso intensivo de agrotóxicos, defendemos a agricultura camponesa para a produção de alimentos saudáveis, sem venenos e a preservação da vida das camponesas e camponeses”, denuncia a dirigente estadual do setor de gênero do MST, Arlete Bulcão.

A multinacional Adama é uma das maiores empresas de agroquímicos do Sul do país, na produção de princípios ativos de agrotóxicos para sementes, incluindo o veneno 2,4-D, que estava proibido no Brasil por ser cancerígeno. O 2,4D é um dos principais componentes do agente laranja, usado como arma química no Vietnã.

As camponesas denunciam o uso intensivo de agrotóxicos pelo agronegócio, que transformou o Brasil hoje no maior consumidor de venenos do mundo, com mais de um bilhão de litros despejados nas terras e águas brasileiras. Denunciam ainda o envenenamento dos alimentos consumidos pela população e, conforme pesquisas da Fiocruz, causa doenças como depressão, má formação em fetos, câncer e infertilidade.

As ações das mulheres do campo e da cidade também reivindicam a Reforma Agrária Popular, com o assentamento de todas as 120 mil famílias acampadas no país, o fim da violência contra a mulher e a criação de políticas públicas para as mulheres do Rio Grande do Sul.

“Segundo os dados da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, criada pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, entre as mulheres do campo e da floresta, 93,7% afirmaram ter sofrido violência doméstica e familiar. O que mostra como o cotidiano das mulheres é marcado pela violência”, explica a dirigente estadual do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Adriana Mezadre.

As pesquisas também apontam que as mulheres camponesas têm mais dificuldade de acesso para fazer as denuncias. Nesse sentido, a Via Campesina vem desenvolvendo uma campanha de combate à Violência contra as Mulheres Camponesas para romper com a opressão.

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Programação: Jornada das Mulheres do campo e cidade

Paralelo à ação na multinacional, a partir das 11h, 300 mulheres de movimentos do campo e da cidade realizam um ato público na Praça Matriz de Porto Alegre, em denuncia à violência contra as mulheres e cobrança a implementação da Lei do Feminicídio, sancionada ontem pela presidenta Dilma Rousseff. Em seguida, por volta das 13h30, as mulheres também participam de uma Audiência Pública para denunciar o uso de agrotóxicos e a violência contra a mulher, na Assembleia Legislativa.

 

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A Lei do Feminicídio prevê penas que podem variar de 12 a 30 anos de prisão e torna mais dura a pena de homicídios cometidos contra mulheres por motivo de discriminação de gênero ou violência doméstica.

A partir das 9h, dezenas de trabalhadoras desempregadas do MTD de Eldorado do Sul também realizam uma caminhada no centro da cidade para denunciar a falta de creche e de educação infantil para os filhos e filhas de trabalhadores, e reivindicar a implementação de políticas públicas para as mulheres do município.

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