Ruralistas são 63% dos deputados que serão investigados na Lava Jato
Por Rafael Tatemoto
Do Brasil de Fato
Mais da metade dos deputados da lista da Operação Lava Jato – que investiga denúncias de desvios de recursos da Petrobras – fazem parte da bancada ruralista. Levando-se em conta todos os enumerados no rol da Procuradoria Geral da República (PGR), os defensores dos interesses do agronegócio são cerca de um terço. Os dados foram obtidos por meio de um cruzamento com o levantamento “Radiografia do novo Congresso: Legislatura 2015-2019”, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
Dos 12 senadores mencionados pela Procuradoria, um faz parte da bancada: Benedito de Lira (PP – AL). Entre os 22 deputados, 14 são ruralistas. Isso equivale a 63% dos membros da Câmara que serão investigados. Um político sem mandato, Vilson Covatti (PP – RS), também foi citado. Membros da bancada representam cerca de um terço (29%) da lista completa, que tem 54 nomes.
De acordo com o documento, um congressista pode ser considerado ruralista quando, “mesmo não sendo proprietário rural ou atuando na área de agronegócio, assume sem constrangimento a defesa dos pleitos da bancada, não apenas em plenários e nas comissões, mas em entrevistas à imprensa e em outras manifestações públicas”. De forma geral, tais interesses são a contraposição à reforma agrária, questões ambientais e direitos dos indígenas.
Os outros deputados ruralistas na lista da Lava Jato são Aníbal Gomes, do PMDB do Ceará e Vander Loubet, do PT do Mato Grosso do Sul. De acordo com o levantamento do site Atlas Político – plataforma que agrega dados sobre todos os congressistas brasileiros – dos 16 ruralistas que constam na lista, seis já respondem a processos na Justiça: Gomes, Lira, Sperafico, Balestra, Britto e Loubet.
As acusações variam em cada caso, e incluem, por exemplo, crimes eleitorais, lavagem de dinheiro e irregularidades em licitações.Tal como na listagem geral, a maior parte dos ruralistas citados são filiados ao PP. Além dos dois políticos já citados, os 14 deputados representantes dos interesses dos grandes proprietários de terra membros do partido são: Afonso Hamm (RS), Arthur Lira (AL), Dilceu Sperafico (PR), Jerônimo Goergen (RS), Lázaro Botelho (TO), Luís Carlos Heinze (RS), Luiz Fernando Faria (MG), Nelson Muerer (PR), Renato Molling (RS), Roberto Balestra (GO), Roberto Britto (BA) e Waldir Maranhão (MA). Goergen e Heinze são, respectivamente, coordenador institucional e ex-presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), espécie de associação formal da bancada ruralista no Congresso Nacional.
Hoje, a bancada do agronegócio é composta por 126 congressistas segundo o Diap. Os partidos com mais representantes do setor são PMDB (25), PP (19) e PSDB (16).
Na agenda do setor, estão questões importantes a partir de 2015: a PEC 215, que passa ao Legislativo o poder demarcar terras indígenas (dificultando o processo); o projeto de decreto legislativo 2351/06, que contém normas de saúde e segurança do trabalhador rural e a regulamentação da emenda constitucional 81/13, a qual permite a expropriação de terras nas quais for encontrado trabalho escravo.
A lista
Na última sexta-feira (6), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki, relator dos processos relativos à operação Lava Jato, que investiga um suposto esquema de corrupção na Petrobras, autorizou que políticos de seis partidos – PP, PMDB, PT, PSDB, PTB e Solidariedade – passassem a ser investigados. O magistrado também suspendeu o caráter sigiloso dos pedidos de abertura de inquérito.
Entre os investigados, estão o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB – AL) e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB – RJ). A lista indica os políticos que teriam se beneficiado do desvio de recursos da empresa estatal vindos de empreiteiras