Gilmar Mauro: “Não haverá golpe sem resistência; nossos movimentos não formaram covardes”
Por Maura Silva
Da Página do MST
Lideranças dos movimentos populares, centrais sindicais e partidos políticos realizaram na noite desta terça-feira (31), na Quadra dos Bancários, em São Paulo, uma plenária estadual com mais de 2 mil pessoas para defender a democracia, a reforma política, a Petrobras e os direitos trabalhistas.
“Estamos aqui em defesa de um legado dos últimos 12 anos que elevou a capacidade e melhoria da qualidade de vida da classe trabalhadora. Precisamos defender esse projeto político que nós construímos”, disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas.
“Jamais aceitaremos o golpismo, mas não aceitamos e não podemos achar que o ajuste fiscal feito pelo [ministro da Fazenda Joaquim] Levy vá levar esse Brasil à frente, porque não vai. Nós necessitamos que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados. E há insatisfação da classe trabalhadora, registre-se”, acrescentou o presidente da CUT.
Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, destacou que o movimento defenderá o governo se houver ameaça de golpe, mas criticou também a política econômica desenvolvida pelo Planalto. “Não haverá golpes no país sem resistência de massa nas ruas. Não iremos para debaixo da cama, nem para a França. É esse o nosso país e aqui nós vamos estar. Os nossos movimentos não formaram covardes”, disse.
Ao se dirigir ao ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva sobre o mercado econômico, o Sem Terra disse que “costumam dizer por aí que o mercado têm acordado nervoso. Esse mercado é 1% dos ricos, por mim, eles têm que acordar nervosos pelos próximos 500 anos. Enquanto eles acordarem nervosos, o nosso povo vai acordar dentro de uma casa, com trabalho, segurança, tendo água, comida, escola pública e garantia de vida. Esse é o ajuste que precisamos. E nós queremos dizer em nome dos movimentos do campo, como brasileiros, temos o direito de lutar pela terra, por educação e por direitos”.
“Nós precisamos de ajustes, mas não ajustes que agridam os direitos conquistados com muito sacrifício e esforço pelo nosso povo. Precisamos de ajustes contra o capital financeiro, contra as grandes fortunas. Precisamos de ajustes com esses 500 anos de latifúndio e 400 anos de escravidão no país”, acrescentou.
O dirigente do MST também falou sobre reforma política e a importância de uma Constituinte Exclusiva e Soberana. “Os movimentos e organizações aqui presentes precisam pautar a reforma política em suas bases, reforma feita pelo povo, não por um governo que não está interessado em atender as demandas da população”.
Raimundo Bomfim, coordenador da Central dos Movimentos Populares, ressaltou que os movimentos sociais não vão aceitar a retirada de direitos e destacou que o avanço conservador poderá ser combatido nas ruas, se necessário. “Se o andar de cima continuar insistindo em bater panela, o andar de baixo só tem uma alternativa: vamos botar fogo no fogão”.
Já Lula disse ter consciência que os sindicatos e movimentos sociais não concordam com a política do Planalto. “O sindicato não está contente, tenho certeza que o movimento social não está. Por isso que vocês têm feito reivindicações indo a Brasília. Com a Dilma vocês têm certeza de que podem negociar. Mas se fosse tucano, nem em Brasília vocês chegavam”, disse.
“A presidenta Dilma deveria saber o seguinte, e ela sabe. Ela sabe como eu sei, ela participou: quando eu estava no sufoco quem foi me estender a mão, jogar uma boia para me salvar, não foi o mercado, foi a classe trabalhadora brasileira”, afirmou.
Ao defender a Petrobras, o ex-presidente disse que “o que estão fazendo com a Petrobras, dizendo que tudo é bandalheira, se esquecem de dizer uma coisa. A Petrobras é uma empresa de alta governância, mas, se tiveram corruptos lá dentro, não foi uma totalidade, mas uma ou outra pessoa que deve pagar o preço por ter enganando o povo brasileiro”, disse.
Os pronunciamentos sobre a situação política brasileira na plenária foram uma prévia sobre os temas que serão levados às ruas nos dias 7 de abril e no 1º de Maio, Dia do Trabalhador, quando haverá grandes atos marcados pelos movimentos populares. No evento de ontem, estavam entre os diversos movimentos sociais a Coordenação Nacional das Entidades Negras, o Centro de Estudos de Comunicação Barão de Itararé, a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Marcha das Mulheres, e a Central dos Trabalhadoras e Trabalhadores do Brasil (CTB).