“Não podemos deixar de lutar pelo sangue de Eldorado dos Carajás”, afirma Marina dos Santos
Da Cloc – Via Campesina
No dia 17 de abril de 1996, o sangue de 19 pessoas foi derramado em Eldorado dos Carajás, município brasileiro do estado do Pará. Organizados no Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, os 19 militantes foram mortos quando se mobilizavam em defesa da terra.
Um deles, Oziel Alves, tinha 17 anos e tinha acabado de aprender a ler e escrever quando entrou para um acampamento sem-terra. No dia do massacre, Oziel foi detectado pela polícia como animador da marcha e foi colocado de joelhos no meio da rua com armas dos policiais apontadas para a sua cabeça.
“Até o último instante Oziel gritou: viva a reforma agrária. Oziel não se acovardou e continuou defendendo a reforma agrária até a morte. Não podemos deixar de lutar pelo sangue de Eldorado dos Carajás e todas as pessoas que morreram lutando pela reforma agrária.”
Foi com o resgate do Massacre de Eldorado dos Carajás que a integrante da Operativa da CLOC e dirigente do MST, Marina dos Santos, resumiu o espírito dos movimentos sociais para os próximos anos.
Responsável pelo encerramento do 6º Congresso Continental da CLOC – Via Campesina, Marina pontuou a reforma agrária como uma das principais bandeiras das organizações camponesas para o próximo período.
“A reforma agrária sempre foi a espinha dorsal da CLOC e da Via Campesina, e é imprescindivel que continuemos dando muita força a essa luta”, afirmou.
Outro ponto destacado em sua fala foi a necessidade da construção permanente da solidariedade entre os povos e nações do continente americano e de todo o mundo.
“Precisamos fortalecer o processo de internacionalismo proletário, de construir uma identidade da classe trabalhadora no continente e em todo o mundo. Retomando Che Guevara, que pode ser considerado o maior militante internacionalista que conhecemos até hoje, o sentimento de se indignar perante qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, é a qualidade mais bonita de todo militante popular”, assinalou.
Na mesma linha, a coordenadora da Via Campesina Internacional, Elizabeth Mpofu, destacou o internacionalismo como tarefa central das populações camponesas.
“Temos que seguir lutando por nossos direitos, pela liberdade das nossas nações, e contra as corporações, que não podem dizer para nós qual é o tipo que comida que queremos, porque nós já sabemos. O capitalismo vai cair”, assegurou.
Lutas
Além das diretrizes gerais que estarão registradas na declaração final do congresso, as organizações definiram datas de mobilizações continentais conjuntas para este ano:1º de maio (dia do trabalhador), 16 de outubro (dia da alimentação), 25 de novembro (basta de violência contra as mulheres), 3 de dezembro (dia de luta contra os agrotóxicos.
E amanhã, data que marca os 19 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, os participantes do 6º Congresso Continental da CLOC – Via Campesina, juntamente com outras organizações populares da Argentina, sairão às ruas de Buenos Aires para lutar pela reforma agrária popular, no Dia Internacional de Luta pela Terra e Reforma Agrária.