Pelo terceiro dia consecutivo, Incra de MS segue ocupado e rodovias são bloqueadas

Com a perspectiva de um diálogo com um representante nacional sem terras podem desocupar o prédio do órgão nesta tarde.

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Da Página do MST

Desde quarta-feira (6), cerca de 600 sem terras de movimentos de luta pela reforma agrária ocupam a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária  (Incra) de Mato Grosso do Sul, na capital Campo Grande.

A principal reivindicação é a presença de um representante nacional do órgão, que possua poder de deliberação e resolução sobre a pauta dos sem terra, como a estagnação de cinco anos da Reforma Agrária no Estado.

Segundo Jonas Carlos da Conceição, da direção estadual do MST, três rodovias federais foram trancadas neste terceiro dia de mobilização, em solidariedade à luta dos que estão acampados no Incra.

“Nesta quinta-feira (7), outros sem terras bloquearam a rodovia BR-267, trecho que liga Nova Casa Verde a Nova Alvorada do Sul, e na sexta-feira (8), a BR 163, em Japorã e a BR 347, em Itaquirai, em solidariedade a nós que estamos a mais de uma semana em luta pela reestruturação do Incra “, disse.

As informações são de que a BR 163, no município de Japorã, teve cerca de 500 pessoas mobilizadas desde às 6h da manhã. Já em Itaquirai a mobilização chegou a cerca de 200 pessoas. As rodovias foram liberadas no final da manhã.

De acordo com Conceição, uma das normativas de negociação do Incra é a desocupação do prédio. Em Assembleia, os trabalhadores rurais decidiram deixar o prédio e decidiram pela saída do órgão, desde que haja certeza sobre a vinda da presidenta do Incra, Maria Lúcia Falcón, ou de seu adjunto, Leonardo Queiroz, o mais rápido possível.

“Temos conhecimento sobre a normativa do Incra Nacional, mas decidimos que só sairemos do órgão com a certeza da vinda de um dos dois maiores representantes do órgão o mais depressa possível”.

Os Sem Terra ainda afirmaram que acamparão em Campo Grande para que caso não haja essa deliberação, eles reocuparão o prédio novamente.

Avanços

“Nesses dias de mobilização avançamos em alguns pontos, como a liberação de R$ 6 milhões para o Incra de MS, pagando, por exemplo, os quatro meses de aluguel atrasados do prédio”, avalia Dinho Lopes, do MST.

Para Márcia Barille, assentada da Itamarati (Ponta Porã), o momento é de muita luta. “Estamos desocupando para atender uma normativa de negociação do Incra Nacional, porém se o que está sendo articulado não for cumprido só nos resta intensificar a nossa luta em todo o Estado e mobilizar mais gente para Campo Grande”, acredita.

Atualmente existem cerca de 12 mil acampados em Mato Grosso do Sul. Outras 30 mil famílias já são assentadas, mas que também sofrem com a inoperância do Incra, principalmente na parte de documentação e assistência.

De acordo com dados do IBGE, o Centro-Oeste concentra o menor número de propriedades rurais (317,5 mil) e a maior área (103,8 milhões de hectares), implicando numa área média de 327 hectares, portanto está claro a inoperância da política agrária brasileira, que não conseguiu atingir o seu principal objetivo no país, a Reforma Agrária.

Pautas estaduais

Além das pautas nacionais, os movimentos também pautam algumas questões estaduais, como o fato do atual governador, Reinaldo Azambuja (PSDB), ter se reunido com uma comissão de negociação no final de fevereiro, quando solicitou a realidade de cada assentamento, mas até o momento não deu nenhum retorno.

Sobre o nome do superintendente do INCRA/MS que está em aberto desde a semana passada, quando Celso Cestari pediu demissão do cargo, é consenso entre os movimentos a necessidade de que o novo nome seja uma pessoa com perfil técnico e que tenha compromisso com a Reforma Agrária.

Desde o dia 1º de maio os movimentos sociais e sindicais de Mato Grosso do Sul estão em luta. Após cinco dias da Marcha da Classe Trabalhadora do Campo e da Cidade, cerca de mil pessoas participaram de um ato na manhã da última terça-feira (5) numa das principais praça de Campo Grande, a Praça Ary Coelho.

Logo depois do ato, os movimentos ocuparam a sede do Incra, onde participam militantes do MST, da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetagri), do Movimento Camponês de Luta pela Reforma Agrária (MCLRA) e da Central Única dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul (CUT/MS).