Jornada de Agroecologia reúne milhares de camponeses no Paraná
Por Maura Silva
Da Página do MST
A 14ª edição da Jornada de Agroecologia começou nesta quarta-feira (22), no município de Irati, Paraná. Cerca de 7 mil pessoas são esperadas para o encontro, que acontece até sábado (25), no Centro de Tradições Gaúchas Willy Lars.
A Jornada busca a construção de um Projeto Popular e Soberano para a agricultura, em contrapartida às empresas transnacionais do agronegócio.
Neste sentido, a mística de abertura denunciou as práticas do capital e ressaltou o papel da agroecologia que faz parte da batalha dos opostos. A briga do projeto popular, do conhecimento e da educação, contra o latifúndio do capital e do agronegócio.
Durante todos os dias serão realizados debates sobre a conjuntura agrária brasileira e a importância de se pensar e pôr em prática um novo modelo de agricultura a partir de uma matriz agroecólogica, além de oficinas práticas e noites culturais.
O deserto verde alimentado pelo monocultivo de eucaliptos, a contaminação por agrotóxicos, que hoje atinge mais de 90% dos alimentos consumidos atualmente, os transgênicos, os conflitos territoriais e o trabalho escravo são alguns dos temas que serão durante discutidos estes quatro dias de encontro.
Marcha pela Agroecologia
Ao longo da tarde desta quarta, os participantes saíram em marcha pela cidade com o objetivo de apresentar a Jornada à população de Irati e ampliar o diálogo com a sociedade sobre a importância de uma produção agroecológica.
No ato político durante a Marcha, ao saudar a marcha, o prefeito da cidade, Odilon Burgath, lembrou a fala do Papa Francisco em seu discurso realizado no segundo Encontro Mundial de Movimentos Sociais, na Bolívia: “nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá”.
Na ocasião, o líder da Igreja Católica, denunciou o atual sistema global que impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza. “É insuportável: não suportam os camponeses, os trabalhadores, as comunidades, não o suportam os povos”.
Histórico
Em 2002, no estado do Paraná, se estabeleceu uma ampla coalizão de movimentos sociais do campo e organizações da agricultura familiar, que deram início às Jornadas de Agroecologia, e se consolidaram como uma ação inédita e popular de caráter massivo, de denúncia e contraponto ao agronegócio, estudo, socialização da prática e da experiência agroecológica e camponesa.
Realizadas ao longo de mais de uma década, os encontros anuais passaram a representar a síntese do processo de construção da agroecologia e embate ao agronegócio, consolidando-se como uma escola popular e camponesa permanente, renovada ao longo de cada ano nos territórios camponeses, atingindo seu auge durante os quatro dias de encontro.
Ainda que as Jornadas de Agroecologia tenham nascido e se mantenham realizadas em municípios do Paraná, elas têm uma abrangência internacional em seus aspectos de participação e alcance político.
As jornadas não são um processo isolado do conjunto de lutas da classe trabalhadora, camponesa e urbana. Ao contrário, elas fortalecem o embate ao modelo explorador e degradante do capitalismo, apontando suas contradições e propondo alternativas concretas, na construção de outro campo.
Assim, elas são itinerantes, acontecem em diferentes regiões do estado a cada edição, assumindo hora um caráter combativo às transnacionais, aos transgênicos e ao agronegócio, e hora um caráter de estabelecimento de alianças com outros setores da classe trabalhadora, entidades, organizações da agricultura familiar e universidades.