Sem Terra exigem a destinação das terras do grupo João Lyra para Reforma Agrária

Somente aos bancos públicos e à Fazenda Nacional, o grupo deve aproximadamente R$ 697 milhões.

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Por Gustavo Marinho
Da Página do MST

Mais de 3 mil trabalhadores e trabalhadoras rurais protagonizaram nos últimos dias um histórico momento de luta na capital alagoana.

Após paralisar o Porto de Maceió por dois dias, os Sem Terra conseguiram marcar uma audiência para 1° de setembro em Brasília, com representação da Secretaria-Geral da Presidência da República e do Ministro do Desenvolvimento Agrário para pautar a destinação das terras da massa falida do Grupo João Lyra para fins de Reforma Agrária.  

Após negociações com o Governo do Estado, os Sem Terra apontaram a necessidade do envolvimento do Governo Federal na resolução das questões referentes à destinação das terras do Grupo para o assentamento das famílias Sem Terra da região.

Organizados no MST, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), Movimento de Luta pela Terra (MLT), Movimento Unidos pela Terra (MUPT), Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTL), Terra Livre e Via do Trabalho, os camponeses retornaram à capital Maceió denunciando a dívida do grupo liderado pelo empresário e ex-deputado federal (PSD), João Lyra, com falência decretada pela primeira vez há 7 anos, com dívida calculada em torno de R$ 2,1 bilhões aos governos estadual, federal, além de ex-funcionários.

Somente aos bancos públicos e à Fazenda Nacional, o grupo deve aproximadamente R$ 697 milhões.

“Essa não é a primeira vez que o Porto de Maceió é cenário da luta dos movimentos sociais em Alagoas. Ocupar esse espaço, além de se tratar de um órgão federal com possibilidade de articulação nacional, é um ato político de parar Alagoas, pois é aqui onde é escoada parte da riqueza do nosso estado, enquanto muitos filhos e filhas dessa terra vivem na miséria, com seus direitos negados diariamente”, explicou Carlos Lima, da CPT.

Para os movimentos, a dívida do grupo ao Estado deve ser revertida em terra para o assentamento das famílias acampadas.

“Somente entre as três usinas do grupo em Alagoas, Laginha, Uruba e Guaxuma, são cerca de 5 mil famílias vivendo na lona preta. É preciso que o Governo Federal transforme as dívidas que o Grupo JL, seja transformada em terra para assentar o nosso povo. Resolvendo o problema da dívida do grupo, o problema do governo e o problema das famílias acampadas que precisam trabalhar, gerando emprego e renda com a vida no campo”, esclareceu José Roberto, da direção do MST.

José Roberto ressaltou também a importância do processo de unidade entre os movimentos, considerando um marco na luta pela terra em Alagoas.

“Paralisamos com toda a nossa bravura as atividades do Porto, um momento para deixar nossa unidade e nossa força marcada na história de luta no nosso estado”, disse.

Débora Nunes, do MST, destacou o momento de luta que os trabalhadores rurais emplacaram na capital, “além da certeza da nossa agenda com os ministros em Brasília, retornamos para os nossos acampamentos e assentamentos com a conquista de termos deixado claro, mais uma vez, que em Alagoas tem gente que precisa trabalhar e é a terra a condição fundamental para garantir isso e se o Estado não garante, é preciso que estejamos em luta permanente, pressionando e fazendo cobrança com o povo nas ruas”.

“Retornamos em alerta, sabendo que a vitória só depende da nossa capacidade de seguir em luta e com a certeza de que podemos voltar quantas vezes for preciso para Maceió”, reforçou Nunes.
 

 

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Unidade campo e cidade

Também em mobilização pelo estado, servidores públicos estaduais somaram forças e prestaram solidariedade à mobilização dos trabalhadores rurais no Porto de Maceió.

Uma marcha dos trabalhadores urbanos de diversos segmentos seguiu ao encontro dos camponeses fortalecendo a aliança entre campo e cidade.

Os servidores denunciavam o descaso do atual governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), com os funcionários públicos que estão em jornada de luta pelas condições de trabalho e ajuste salarial.

Para Consuelo Correia, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal), a unidade entre campo e cidade é fundamental no processo de fortalecimento das lutas da classe trabalhadora.

“Nossas pautas se encontram no horizonte que vislumbramos para o nosso estado e nosso país, onde tanto quem viva no campo e na cidade possam viver dignamente, com seus direitos assegurados, por isso estamos irmanados mais uma vez nas lutas e nas ruas de Maceió”, disse Consuelo.
 

“O Brasil avermelhou”

A mobilização em Alagoas somou-se ao conjunto de ações em todo o país impulsionadas pelos trabalhadores Sem Terra em defesa da Reforma Agrária.

Entre as 13 ocupações de Ministérios da Fazenda, ocupações de terra, trancamento de ferrovia e rodovia, 18 estados estiveram mobilizados contra a paralisação da Reforma Agrária, intensificada com o corte de quase 50% dos recursos destinado à Reforma Agrária pelo Governo Federal.

Com a pressão nacional dos Sem Terra, o governo anunciou a recomposição do orçamento para obtenção de terra e o apontamento da recomposição do orçamento para habitação.

“Nós não vamos nos contentar com migalhas! Tivemos o resultado da recomposição do orçamento fruto da coragem do povo Sem Terra do Norte ao Sul do nosso país, avermelhando o Brasil, não pela bondade do governo, mas pela bravura dos construtores e construtoras da história desse país”, comentou Débora.