Camponesas marcham pela Esplanada por mais direitos e menos retrocesso

Mais de 50 mil mulheres do campo participaram da Marcha das Margaridas, em Brasília.

margaridas.jpg

Por Iris Pacheco
Da Página do MST

Fotos: Mídia Ninja

Nesta quarta-feira (12), a cidade de Brasília amanheceu lilás com as mais de 50 mil mulheres do campo, agricultoras, ribeirinhas, pescadoras, indígenas, quilombolas na 5° Marcha das Margaridas.

Com o ponta pé iniciado no Estádio Mané Garrincha, a marcha percorreu pela Esplanada dos Ministérios até chegar ao Congresso Nacional.

A Marcha das Margaridas, que acontece a cada quatro anos, reúne milhares de mulheres, e este ano trouxe o lema “Margaridas em marcha por desenvolvimento sustentável, justiça, soberania, liberdade e igualdade”. Com isso, apresentaram uma pauta de reivindicações que atenda às necessidades das mulheres que vivem e trabalham no campo, contrapondo-se ao atual conservadorismo político, que pode levar ao retrocesso das conquistas históricas das trabalhadoras brasileiras.

De todo o país saíram caravanas organizadas pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) e um conjunto de movimentos parceiros da Marcha das Margaridas, como o MST, Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre outros.

Pelo fato de considerarem as mulheres como as responsáveis pela manutenção da terra e da sustentabilidade da vida camponesa, a Marcha trouxe inúmeras pautas que se relacionam à vida das mulheres e de gênero no campo, como a denúncia do modelo do agronegócio, considerado um modelo concentrador, degradador e excludente, a luta pelo direito à terra e contra as diversas formas de violência dirigidas às mulheres em todo o país.
 

O evento se encerra na tarde desta quarta-feira (12) com um ato político a partir das 15h, que contará com a presença da presidente Dilma Rousseff.

Abaixo, confira a carta na íntegra:

margaridas3.jpg

Por que Marchamos

No dia 12 de agosto de 2015, nós, margaridas do campo, da floresta e das águas estaremos nas ruas de Brasília, em marcha por desenvolvimento sustentável com democracia, justiça, autonomia, igualdade e liberdade.

Marchamos por um desenvolvimento centrado na sustentabilidade da vida humana, na defesa da terra e da água como bens comuns, pela realização da reforma agrária, por soberania alimentar e produção agroecológica.

Marchamos por liberdade e democracia com efetiva participação das mulheres, em defesa de seus direitos e por políticas públicas construídas com respeito às diversas identidades, que ajudem na desconstrução de padrões patriarcais e sexistas, valorizem tradições, culturas, os saberes regionais e protejam a sociobiodiversidade e o patrimônio genético. Tais medidas devem romper com as desigualdades econômicas, sociais e políticas, vencendo a pobreza, que é maior entre as mulheres e agravada entre as mulheres rurais, negras e jovens.

Marchamos para mostrar e valorizar a realidade das mulheres trabalhadoras rurais, que até recentemente não eram reconhecidas como sujeitos de direitos.

Marchamos para denunciar o modelo concentrador, degradador e excludente do agronegócio, que contamina os bens da natureza e impacta na perda da biodiversidade e na saúde da população, com o uso de agrotóxicos e transgênicos; impõe tecnologias que desconsideram os saberes e culturas tradicionais; explora as trabalhadoras e trabalhadores, inclusive se valendo do trabalho escravo, e provoca a violência no campo, especialmente pela expulsão dos povos e populações de seus territórios.

Marchamos em repúdio à ofensiva das forças reacionários, anti-direitos e fundamentalistas, que se utilizam dos espaços de poder, das religiões e da grande mídia para proliferar a intolerância e disseminar preconceitos, sexismo, misoginia, racismo e ódio de classe na sociedade brasileira. Neste processo atacam direitos e ameaçam a democracia pela qual tanto lutamos.

Repudiamos, veementemente, as práticas de incitação à violência e ao ódio contra as mulheres, como no caso da veiculação de adesivos ofensivos com a imagem da presidenta da República, que reforçam a cultura do estupro e agridem a todas as mulheres.
 

margaridas4.jpg

Outro exemplo de ameaça aos direitos e às conquistas populares, foi a aprovação da redução da maioridade penal pela câmara dos deputados, que afeta em particular a juventude negra e pobre, e, também, a ação coordenada por setores fundamentalistas das diversas igrejas, que vem impondo a retirada dos termos relativos à questão de gênero nos planos municipais de educação, em vários estados e municípios. Estamos organizadas ainda, contra o projeto que retira a obrigatoriedade da participação da Petrobrás na exploração dos campos de petróleo do pré-sal, lutando pela garantia do repasse dos recursos dos royaltes para a educação.

Denunciamos a imposição e as manobras do congresso nacional, que desconsiderou o amplo processo de mobilização popular por reforma do sistema político e aprovou uma contra reforma, negando o direito de ampliação da participação política das mulheres no parlamento e mantendo o financiamento privado de campanhas, entre outras medidas conservadoras.

Manifestamo-nos contra as orientações na política econômica em favor do capital. Não pagaremos pelos custos do ajuste fiscal. Exigimos que o estado não seja defensor de privilégios e sim portador do interesse geral dos povos, promovendo liberdades, garantindo direitos para todas e todos e ampliando os espaços de participação e de controle das políticas públicas, no fortalecimento da democracia.

Lutamos pela democratização da comunicação, pois não aceitaremos que a grande mídia privada continue disseminando informações tendenciosas e muitas vezes mentirosas, com o intuito de confundir a população, enfraquecer e criminalizar o governo, os partidos progressistas e os movimentos sociais.

Nos afirmamos como sujeitos de direitos e sujeitos políticos que seguem em luta pela garantia de reformas democráticas capazes de proporcionar mudanças em estruturas históricas que ainda sustentam as desigualdades e a discriminação no Brasil.

Dizemos a todas e todos que não aceitaremos nenhuma forma de golpe. Não aceitamos os ataques à democracia e exigimos respeito à escolha soberana do povo nas urnas.

Companheiras, mulheres de todo o Brasil, trabalhadoras do campo, da floresta e das águas, mulheres trabalhadoras das cidades, seguimos em marcha e conclamamos os movimentos sociais e a todos os companheiros de luta para se somarem a nós! Vamos juntas e juntos manter nossa coragem e ousadia na disputa de classe em defesa do projeto democrático que elegemos para o país.

Reafirmamos nossa luta por um Brasil soberano, democrático, laico, justo e igualitário e por uma vida livre de violência, com autonomia, igualdade e liberdade para as mulheres.

SEGUIREMOS EM MARCHA ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES!

ASSINAM:

CONTAG – CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS NA AGRICULTURA
AMB – ARTICULAÇÃO DE MULHERES BRASILEIRAS
CNS – CONSELHO NACIONAL DAS POPULAÇÕES EXTRATIVISTAS
CTB – CONFEDERAÇÃO DE TRABALHADORES E TRABALHADORAS DO BRASIL
CUT – CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES
GT MULHERES DA ANA – ARTICULAÇÃO NACIONAL DE AGROECOLOGIA
MAMA – MOVIMENTO ARTICULADO DE MULHERES DA AMAZÔNIA
MIQCB – MOVIMENTO INTERESTADUAL DE MULHERES QUEBRADEIRAS DE COCO BABAÇU
MMM – MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES
MMTR-NE – MOVIMENTO DE MULHERES TRABALHADORAS RURAIS DO NORDESTE
UBM – UNIÃO BRASILEIRA DE MULHERES
UNICAFES – UNIÃO NACIONAL DE COOPERATIVAS DE AGRICULTURA FAMILIAR E ECONOMIA SOLIDÁRIA