Com arte e cultura, acampados mostram que a luta também é feita de amor, fé e união

Coletivo de Cultura levou grupos teatrais ao acampamento Dom Tomás Balduino, em Tapes, no Rio Grande do Sul.

Mística dos Sem Terrinha mostrou a luta do MST por Reforma Agrária Popular.jpg
 

Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

O acampamento do MST Dom Tomás Balduíno, localizado em Tapes (RS), foi tomado por arte e cultura neste sábado (29).

Por meio de uma iniciativa do Coletivo de Cultura, a Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA, a Companhia Palhaça Sem Lona e o Palhaços em Rebeldia realizaram intervenções teatrais prestigiadas por dezenas de Sem Terra.

Tainá Carollo, do coletivo de cultura do MST, acredita que a iniciativa teve o objetivo de levar arte e cultura aos acampados do Dom Tomás Balduíno, impulsionando o desenvolvimento do ser humano e da luta do MST, além de estreitar laços entre o campo e a cidade.

“O MST vive um momento de retomada da luta pela terra, o que não significa apenas ocupar um território, mas também construir e fortalecer o que é ser Sem Terra e a organização coletiva dos trabalhadores. Nesse sentido, a arte e a cultura têm a capacidade de aflorar os sentimentos e as emoções, os valores e a mística Sem Terra. É por isso que trouxemos essas atividades ao nosso acampamento”, disse Tainá.

Pela manhã, após mística dos Sem Terrinha que tratou da luta do Movimento por Reforma Agrária Popular, a Levanta FavelA apresentou “A Belíssima Fábula de Xuá-Xuá, a Fêmea Pré-Humana que Descobriu o Teatro”.

 

Acampados assistiram ao Espetáculo Bem Te Vida Marmotta.jpg

A intervenção também traz o assassinato do Sem Terra Elton Brum da Silva, ocorrido em agosto de 2009, pela polícia militar do Rio Grande do Sul, denunciando a violência policial em protestos, contra os Sem Terra e a criminalização dos movimentos sociais.

“O MST sofreu grande repressão pela polícia, e a gente que é artista de rua também tem enfrentado ameaças e abusos policiais, como a recente prisão de um palhaço durante uma apresentação artística no Paraná. Esses casos não podem ser esquecidos e encarados como só mais um número. Nesse contexto, a arte, a dança e a música nos ensinam a ser críticos e a questionar. E o teatro é uma forma de transformação do ser humano e da nossa realidade enquanto sociedade, e a Xuá-Xuá tem muito disso”, explicou a atriz do Levanta FavelA, Danielle da Rosa.

À tarde ocorreu a apresentação do Espetáculo Bem Te Vida Marmotta, da Companhia Palhaça Sem Lona,  em parceria com o Palhaços em Rebeldia.

“A peça conta a história de uma palhaça que está em busca do seu lugar no mundo, assim como acredito que todas as pessoas estão em busca do seu. A ideia foi levar um pouco de alegria e força aos acampados e dizer que não podemos esmorecer, que a luta também tem que ser de amor, fé e união, porque é isso o que move”, declarou a artista Lia Motta.
 

Intervenção teatral relembrou o assassinato do Sem Terra Elton Brum da Silva.jpg

As apresentações teatrais encantaram os Sem Terra do Dom Tomás Balduino, acampamento que abriga cerca de 150 famílias. A acampada Josiane Fontoura aprovou a inciativa do Coletivo de Cultura, inclusive, defendeu a realização de mais atividades artísticas e culturais no acampamento.

“É algo diferente, que nos proporcionou aprendizado e um sábado muito construtivo, com cultura ao nosso povo. Precisamos ter isso sempre presente em nossos meios”, apontou.

Para a coordenadora do Coletivo de Cultura, Luciana Frozzi, o teatro, a música e as linguagens artísticas devem estar sempre ligados à estratégia de luta e organização do MST.

“A arte tem o potencial de nos fazer olhar para frente ou para trás. Ela projeta uma memória do futuro na medida em que organiza esteticamente contradições do processo histórico. É uma articulação dialética entre o passado e o futuro, e precisa cumprir a função de organizar uma percepção de mundo e de vida diferente da que está estabelecida. A arte não pode ser vista como mercadoria”, concluiu Luciana.