Mercantilização da educação brasileira é alvo de crítica em encontro de educadores

“Temos que manter objetividade na luta política, não podemos passar a formação das juventudes para as corporações”, afirma o reitor da UFRJ, Roberto Leher.

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Por Nadine Nascimento
Da Página do MST

A mesa de abertura dos painéis do 2° Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária (ENERA) recebeu, nesta segunda-feira (21), o debate “Educação Brasileira: situação, contradições e tendências do período atual”. 

Nela, os convidados relembraram o primeiro ENERA, realizado em 1997 e as mudanças na realidade da educação no campo após 18 anos do primeiro encontro, além de fazer críticas a mercantilização da educação no Brasil.

Segundo Rubneuza Leandro de Souza, do setor de educação do MST, “a realização desse segundo ENERA demonstra o compasso que o setor de educação vem fazendo com a luta pela terra”, e aponta que a situação política do país no primeiro encontro era semelhante com a atual, principalmente em relação aos cortes nas áreas sociais e nos direitos dos trabalhadores.

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Para Leher,  a educação deve estar sob domínio do poder público.

Já a professora da Universidade de Brasília (UnB), Mônica Molina, vê o primeiro ENERA como o “ventre” da discussão sobre a educação no campo. O encontro de 2015 seria “a sementeira de mudanças que, com novas lutas, traz avanços na construção da igualdade e justiça social”.

Molina vê a mercantilização da educação – a compra de instituições educacionais por grandes grupos empresariais -, como um dos maiores problemas a serem enfrentados pela luta dos educadores. A professora, entretanto, acredita que a educação no campo deve manter suas especificidades em relação às lutas universais pela educação.

“Embora, as pautas da educação escolar em geral sejam muito importantes, a educação no campo é mais do que isso, pois ela deve estar diretamente relacionada com luta pela terra. É impossível falar da educação no campo sem falar na questão agrária, da descentralização fundiária”, afirmou Molina.

O coordenador nacional do Levante Popular da Juventude e secretário da UNE, Tiago Wender, falou da “elitização” do ensino superior. “A nós sempre foi negado o direito a educação, o acesso à escola e a universidade de qualidade. A universidade sempre foi um espaço conservador e elitista para reproduzir os ideais da classe dominante, e ainda o é”, disse.

Para ele, “o MST consegue, em certa medida, levar a educação para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de ir para a universidade”, e critica a postura do governo Dilma que tentaria “conciliar o inconciliável, ou seja, os interesses dos trabalhadores e da burguesia”.

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Wender ponderou que ao dar acesso a universidade para a população mais pobre por meio dos programas de inclusão, beneficiaria os interesses da burguesia, uma vez que, “na medida que dá mais acesso a educação, também dá milhões para os empresários da educação”, acrescenta.
 

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Roberto Leher, reitor da UFRJ, também questionou a mercantilização da educação ao citar os casos das Organizações Kroton e Anhanguera, que juntas teriam o mesmo número de alunos de todas as universidades federais do país, cerca de 1,2 milhões de alunos. 

O reitor acredita que a educação deve estar sob domínio do poder público e não privado. “Temos que manter objetividade na luta política, não podemos passar a formação das juventudes para as corporações”, enfatiza.