Ato celebra produção de alimentos saudáveis na 1° Feira Nacional da Reforma Agrária
Por Rafael Soriano
Da Página do MST
Na tarde desta sexta-feira (23), centenas de camponeses se reuniram com representantes do governo para oficialmente lançar a 1ª Feira da Reforma Agrária, que acontece até o próximo domingo (25) no Parque da Água Branca, em São Paulo.
Como de costume nos encontros entre movimentos populares e representantes do poder público, apesar da celebração do momento criado pela Feira, o clima também foi de cobranças.
A mística de abertura trouxe a reflexão sobre os limites entre “os remendos e o direito ao casaco, entre o pedaço de pão e o acesso ao pão verdadeiro, entre mais salário e toda a fábrica” (Clique aqui para ver mais fotos da feira).
Com estética de teatro popular as apresentações questionaram aos políticos presentes: “eu vim cobrar! Que tem vocês?”
A presidente Dilma Roussef enviou uma mensagem em vídeo saudando a Feira dos “companheiros do MST”, e parabenizou o que considerou como um “admirável poder organizativo de força produtiva”.
Na avaliação da chefe de Estado, “a Reforma Agrária continua a ser uma luta fundamental para a construção do Brasil desenvolvido com que sonhamos, uma Reforma Agrária que garanta o acesso à terra e também assegure apoio à produção sustentável, crie os canais de comercialização justa e garanta qualidade de vida às famílias nos assentamentos”. “Que venham muitas outras Feiras!”, parabenizou. Confira a íntegra da mensagem:
“Louvamos a saudação da Presidenta, mas não vivemos só flores. Dilma está em dívida com a reforma agrária. Cadê a efetivação do Plano de agroecologia? Não saiu nem um centavo! E as providências para passar parte da Conab para o MDA? O Governo na teoria é contra os agrotóxicos, mas na prática a ministra Kátia Abreu quer acabar com a Anvisa. Nós não vamos permitir!”, disse Stedile.
Brasil sem veneno
Após muito debate junto à comunidade científica, finalmente a Organização Mundial de Saúde (OMS) admitiu a nocividade do glifosato, um dos herbicidas que mais tem causado danos ao meio ambiente e também para o ser humano.
No Brasil, maior consumidor de agrotóxicos do mundo, o componente representa 35% do veneno derramado na agricultura, enquanto que já é proibido em diversos outros países.
Para o membro da coordenação nacional do MST, João Pedro Stedile, por muito tempo as esquerdas confundiram “desenvolvimento das forças produtivas com a presença de máquinas e veneno no campo”.
Ele alerta: “trator e agroquímico é o atraso, do século 20! Hoje o progresso está em produzir com técnicas sem veneno em equilíbrio com a natureza, aumentando a produtividade da mão-de-obra e do espaço físico”.
Perigo à mesa
Segundo o Dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), avaliações toxicológicas recentes revelam a presença de 15 a 17 tipos de substância agrotóxicas presentes na alimentação dos brasileiros.
O documento alerta para a ausência de estudos sobre as consequência para a população exposta a essas substâncias. A saída para um cenário de ecatombe: a transição à agroecologia.
Em referência à recorrente afirmação de que o governo quer assentar até o final do atual mandato “todas as famílias hoje acampadas” (120 mil), o ministro Patrus Ananias, da pasta do Desenvolvimento Agrário (MDA), foi enfático: “não falamos no tom de promessa. Vamos enfrentar as dificuldades juntos.”
Defendendo o acesso das famílias à terra e uma transição ao modelo agroecológico, Patrus mencionou as políticas que classificou como “ousadia”, a exemplo do Fome Zero e da construção de 1 milhão de cisternas no Semi Árido brasileiro.
“Se não sonharmos e ousarmos inovar não realizamos. Lembrem das críticas da direita e de todos os lados que o presidente Lula sofreu à época do lançamento do Fome Zero, e hoje celebramos a retirada do Brasil do Mapa da Fome. Hoje, no Ceará acabamos de acordar com o Governador uma forma para assentarmos todas as famílias do estado que vivem sob a lona.”
No ato estiveram presentes em celebração ao lançamento do evento de caráter nacional os diversos parceiros, das esferas públicas municipal, estadual e nacional, bem como da sociedade civil. A realização da 1ª Feira Nacional da Reforma Agrária é fruto da interseção dos esforços do Movimento e dos vários atores que se somaram na luta pela alimentação saudável para toda população.