Na Bahia, Sem Terra denunciam descaso do poder judiciário
Do Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST
As famílias cumpriram as exigências de uma liminar de despejo emitida pelo poder judiciário local, representado pelo juiz Rafael Siqueira Montoro.
Os Sem Terra reocuparam a fazenda após cumprir um primeiro mandato de despejo realizado de maneira desrespeitosa e truculenta no dia 22/10.
Na ocasião, os trabalhadores foram surpreendidos com uma ordem judicial solicitada pelo proprietário, Ivan José de Santana, que ameaçou destruir a produção e os pertences pessoais dos acampados.
Em resposta, as famílias impediram que seus pertences fossem destruídos, o que fez com que o juiz Montoro caracterizasse o segundo mandato de reintegração como “organização criminosa que faz uso de táticas de guerrilhas”.
Para direção estadual do MST, os trabalhadores são tratados como bandidos e baderneiros pelo poder público que deveria cumprir a função de proteger os cidadãos e garantir que a Constituição Federal, inclusive a lei que assegura a desapropriação de terra improdutiva para fins de Reforma Agrária se cumpra.
“Este modelo burguês de sociedade possui um lado e este não está em defesa dos interesses da classe trabalhadora, pois utiliza as instituições do estado para validar o seu poder. Não vamos parar de fazer luta e vamos avançar no diálogo com a sociedade”, destaca a direção do Movimento.
Pistolagem
De acordo com os Sem Terra, “além de sofrerem com a criminalização da luta por parte do poder judiciário, estão sendo ameaçados cotidianamente por seis pistoleiros que estão sob as ordens do latifundiário”.
Desde a última semana nos arredores do acampamento, circulam homens encapuzados em uma caminhonete. E, em alguns momentos, realizam disparos de armas de fogo com a intenção de coagir as famílias.
Violação dos Direitos Humanos
O latifundiário possui outra grande fazenda na região e os poucos trabalhadores de ambas propriedades vem denunciando sistematicamente o vínculo empregatício desumano que é adorado nas propriedades.
“Trabalhei de segunda a segunda em uma das propriedades do fazendeiro e nenhuma oportunidade era dada para a gente. Não tínhamos horário de descanso e quando saí da fazenda não tive direito a nada, mesmo depois de dois anos de serviços prestados”, destacou Manoel Firmino, que também é acampado.
De acordo com os Sem Terra, este método “desrespeita os Direitos Humanos e se caracteriza como trabalho semiescravo”.
Produção de alimentos
A ocupação é fruto da Jornada Nacional de Lutas em defesa da Reforma Agrária, realizado no mês de abril deste ano, para denunciar a concentração de terra e os altos índices de violência no campo.
Na ocasião, os Sem Terra relatam que encontraram a fazenda em total abandono.
“Aqui não tinha nada. A fazenda estava abandonada e os pastos estavam cheios de mato. Não tinha nenhum gado. Quando nós entramos e começamos a plantar, o fazendeiro alugou os pastos e colocou vacas e bois para maquiar uma falsa produção de gado leiteiro”, denunciou os trabalhadores.
Em apenas seis meses, as famílias construíram barracos, ruas no acampamento, estradas, garantiram água potável, energia e uma diversidade de produtos, como: milho, feijão, mandioca, verduras e temperos.
A produção estava sendo fornecida nas feiras, semanalmente, em Jucuruçu e povoados vizinhos.
“Eu sempre tive muita vontade de morar no campo de novo, mas nunca tive condições para comprar meu pedaço de terra. Junto com os outros companheiros, a única coisa que eu quero é plantar, colher e ter fartura na minha casa”, disse Marilene Brito, acampada.
Já Ueliton Meneses, também acampado, sonha em garantir o futuro melhor para seu único filho. “Quero que minha família possa ter vida digna e que meu filho possa cursar uma faculdade. Isso eu vou conseguir produzindo na terra”.
Após a saída dos trabalhadores da fazenda um trator derrubou os barracos, fogo foi ateado em alguns pertences e a produção destruída.
Neste momento, as famílias encontram-se acampadas a três quilômetros da fazenda, obedecendo a ordem judicial.