Juventude Sem Terra sobe o Quilombo dos Palmares em homenagem a luta da povo negro
Por Gustavo Marinho
Da Página do MST
Eram cerca de 280 jovens Sem Terra de diversos acampamentos e assentamentos do estado de Alagoas que, no dia da Consciência Negra, quando se recorda a morte de Zumbi dos Palmares, no dia de 20 de novembro, subiram a Serra da Barriga, rumo ao Quilombo dos Palmares, o centro da resistência negra no Brasil e símbolo da luta dos escravos por liberdade, no município de União dos Palmares (AL).
Com suas bandeiras, faixas e palavras de ordem no topo da Serra, a Juventude Sem Terra de Alagoas relembrou o extermínio da juventude negra, pobre e periférica, da violência contra as mulheres e dos ataques homofóbicos aos LGBTs, além de denunciarem a concentração de terras no estado.
“É nessa terra cheia de contradições que forjamos uma juventude disposta a continuar a história de Zumbi, Dandara e de todos e todas as lutadoras do povo”, declarou os jovens durante a intervenção.
Para José Neto, do coletivo de juventude, a subida até o Quilombo dos Palmares serviu como um marco no compromisso da Juventude Sem Terra em dar continuidade à luta pela transformação da sociedade.
“Somos herdeiros e herdeiros da luta travada pelo povo negro. Fomos até o símbolo de resistência para beber dessa fonte mística da luta de Zumbi dos Palmares, reforçando o compromisso da juventude em dar continuidade a essa luta. Conhecemos mais do nosso passado para fortalecer os passos que daremos na luta pela Terra, pela Reforma Agrária Popular e pela transformação da sociedade”, disse.
Este momento aconteceu durante o Encontro Popular da Juventude, que entre os dias 19 e 21 de novembro se reuniram na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Maceió.
Para a jovem Nynna Souza, ir até o topo da Serra da Barriga foi um dos momentos mais emocionantes do encontro.
“Conhecer onde Zumbi e seu povo viveram em liberdade e as nossas raízes de luta foi inesquecível. Nossa identidade de Juventude Sem Terra foi fortalecida, mostrando que cada um de nós tem um papel fundamental, que é ir à luta para mudar Alagoas, o Brasil e toda a sociedade.”
Encontro da Juventude
Entre palestras, rodas de discussão, oficinas e atividades culturais, durante os três dias de encontro os jovens apontaram a necessidade do fortalecimento da luta pela Reforma Agrária Popular.
“Nosso encontro é fruto de um bonito processo de organização da Juventude Sem Terra nos acampamentos e assentamentos, debatendo o papel da juventude no nosso Movimento e as nossas tarefas na construção da Reforma Agrária Popular”, disse José Neto.
Com a Universidade ornamentada com pipas e o grande coro que chamava a juventude para voar, a atividade trouxe em sua programação o debate em torno da vida da juventude no campo e na cidade.
Nas místicas, intervenções e jornada cultural, os jovens resgataram os números e índices que colocam Alagoas como um dos piores lugares para as mulheres, os LGBTs e a juventude negra e pobre viverem.
Raul Amorim, do coletivo nacional de juventude do MST, destacou a importância desse debate para os jovens e para o conjunto do MST. “Termos na Ufal os jovens camponeses de Alagoas dispostos a também discutir os problemas colocados para a juventude que vive na cidade é fundamental para avançarmos na luta e na construção da Reforma Agrária Popular”.
“Estamos inseridos numa sociedade de classes, repleta de contradições em que a juventude é disputada cotidianamente, a mídia é responsável pela formação da juventude e muitos jovens já não se reconhecem enquanto jovens… Preciso cada vez mais ousarmos ser exemplo de rebeldia, ousadia e conquistar o conjunto da juventude da classe trabalhadora para as lutas”, completou Raul.
Comunicação, cultura e agroecologia
Diversas oficinas no campo das linguagens da comunicação e da cultura, além das experiências agroecológicas, envolveram a Juventude Sem Terra no espaço dedicado ao aprendizado e ensinamento de várias práticas. Da dança de rua ao fanzine, passando pelos biodefensivos, turbantes e a capoeira, estimularam a criatividade dos jovens na formação de novos multiplicadores dessas práticas.
Para Amanda Diony, do coletivo de juventude do MST em Alagoas, todo o processo do encontro serviu para que a Juventude Sem Terra pudesse se enxergar.
“Tudo que construímos neste processo foi de extrema importância para abrirmos os olhos e se reconhecer enquanto Jovem Sem Terra, fortalecendo nossa identidade e sabendo o nosso lugar de luta na disputa que a sociedade faz com a juventude”, ressaltou Amanda.