Famílias acampadas há doze anos lutam para resistir a despejo em Alagoas

Doze anos após a primeira ocupação da antiga Usina Ouricuri, em Atalaia (AL), uma nova ameaça está presente: o despejo anunciado para esta segunda.

 
Por Rafael Soriano
Da Página do MST

As terras da antiga Usina Ouricuri, em Atalaia (AL), são palco de um dos mais emblemáticos conflitos no campo alagoano. Após a falência da Usina no início da década de 1990, uma massa de trabalhadores rurais tinham na divisão das terras a esperança de uma compensação histórica  pela miséria e caos gerado no contexto social. Este interesse coletivo esbarra, entretanto, na ganância secular de uma classe agrária que concentra terra, renda e poder.

Ocupada por trabalhadores rurais desde 2004, a fazenda São Sebastião viu tombar durante um conflito o membro da direção estadual do MST, Jaelson Melquíades, em 29 de novembro de 2005. Doze anos após a primeira ocupação, uma nova ameaça se apresenta para as 80 famílias ali acampadas: o despejo anunciado para esta segunda-feira (15/02).

As movimentações de solidariedade já animam a resistência das famílias que, nas roças da região, produzem o alimento que chega às feiras do município e dão vida às famílias do campo e da cidade. No acampamento São José, além da produção agrícola, a cultura e a educação também fazem parte da história das famílias acampadas, com práticas educativas e culturais envolvendo homens, mulheres, jovens e crianças.

O argumento utilizado para o despejo dos trabalhadores acontece por um suposto usucapião da terra, em nome da família do antigo arrendatário das terras da Usina, Pedro Batista. “É uma triste constatação: saber que a mesma polícia que em mais de uma década não consegue resolver um crime de assassinato político do nosso companheiro, rapidamente se mobiliza para retirar violentamente as famílias da terra”, declara Débora Nunes da coordenação do MST.

A fazenda fica numa região em que diversas outras áreas também foram ocupadas por trabalhadores rurais e viraram assentamentos, com habitação digna, escola, atendimento de saúde e um outro modelo de produção e reprodução de vida. “A situação emblemática do acampamento São José apenas nos anima para continuar lutando por estabelecer este novo patamar de sociedade, a partir da vida digna nos assentamentos, com justiça social”, adverte Débora.

Segundo ela, enquanto não houver justiça para o caso Jaelson e para as famílias alijadas das riquezas no processo histórico da formação desta sociedade, os trabalhadores expressam disposição de seguir lutando pela partilha da terra.

O consórcio de latifundiários que disputam a terra onde está o acampamento, anteriormente liderado pelo grupo do ex-prefeito de Campo Alegre, Jorge Matias (PP), conta com o apoio de mais dois grupos de comerciantes das cidades de Maribondo e do próprio município de Atalaia que, supostamente, seriam “laranjas” do deputado federal, Cícero Almeida (PRTB).