Em Brasília, juventude Sem Terra debate prioridades do campo
Por Luiz Filho Wesley Lima
Da Página do MST
Jovens Sem Terra, da Pastoral da Juventude Rural (PJR) e de diversos movimentos sociais ligados à Via Campesina Brasil, estiveram em Brasília, entre os dias 23 e 25/02, para a construção de um Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural.
Na ocasião, também foi realizada a “Oficina de Diálogo sobre o Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural”, organizada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) com o objetivo de discutir e priorizar propostas que integrarão o documento final.
Entre os cinco eixos apontados como prioritários pelo PNJ, que dialogarão com grande parte dos ministérios e secretarias, estão: &”39;Terra e Território&”39;; &”39;Trabalho e Renda&”39;; &”39;Educação do campo&”39;; &”39;Qualidade de vida e Participação&”39; e Democracia.
Luiza Dulci, da assessoria de Juventude do MDA, reafirmou o lançamento do Plano Nacional de Juventude como ponto estratégico junto ao Plano Safra da Agricultura Familiar.
Esperamos que as pautas fiquem bem definidas, para que possamos caminhar de acordo com que os jovens estão propondo”, afirmou.
Ainda segundo Dulci, “não só o Brasil, mas, outros países, têm o desafio da sucessão rural”.
Durante a oficina de diálogo do plano, a juventude construiu duas cartas. Uma delas tem o objetivo de dar visibilidade a Juventude Camponesa LGBT, relatando as opressões e exclusões ligadas à estrutura patriarcal, machista e LGBTfóbica do sistema capitalista.
Afirmando o compromisso de continuar pautando e denunciando toda forma de opressão, os jovens finalizaram o documento garantindo que continuaram pautando a luta pela terra e território, trabalho e renda, educação do campo e participação e qualidade de vida.
Um trecho da carta diz: “Várias são as formas de invisibilidade da juventude LGBT no campo e, nós, os sujeitos e sujeitas se encontram sem direitos e condições de continuidade da vida que desejamos seguir. Sem condições de produzir na terra que crescemos e queremos permanecer”.
Para a secretária executiva do MDA, Maria Coelho, os documentos construídos trazem um aprofundamento das demandas por debater valores da sociedade. Ela caracterizou a criação do Plano como um momento histórico.
Leia abaixo o documento na íntegra:
CARTA DA JUVENTUDE CAMPONESA LGBT À OFICINA DE DIÁLOGO NACIONAL DE JUVENTUDE E SUCESSÃO RURAL
A construção do Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural é uma demanda histórica para os Movimentos Sociais Populares do Campo, das Águas e das Florestas, por compreendermos que ele nos desafia a sintetizar e articular as Políticas Públicas já existentes, pautando a elaboração de novas Políticas que promovam o acesso à terra, o fortalecimento dos territórios, trabalho, a renda, educação do campo, qualidade de vida, participação, comunicação e democracia.
A problematização da sucessão aponta que temos um rural diverso e que precisamos reconhecer e respeitar a identidade dos/as jovens do campo, das Águas e das Florestas, como: étnico/racial, regional, cultural, religiosa, identidades de gênero, orientação sexual e a condição social e econômica.
Como forma de potencializar a formulação do plano, apontamos a inserção das temáticas: étnica/racial, acessibilidade (pessoas com deficiência), de orientação sexual e de identidades de gênero como transversal a todos os eixos temáticos.
Por isso, nós, JUVENTUDE CAMPONESA LGBT, presentes na Oficina de Diálogos do Plano de Juventude e Sucessão Rural, diante das históricas opressões e exclusões ligadas a estrutura patriarcal, machista e LGBTfóbica, que atingi diretamente a juventude Lésbica, Gay, Bissexual, Transexual e Travesti no campo brasileiro, colocados e colocadas as margens dos limites da terra, propomos a incorporação dessa discussão e implementação desse tema nas políticas públicas voltadas ao rural.
Várias são as formas de invisibilidade da juventude LGBT no rural, e nós, os sujeitos e sujeitas se encontram sem direitos e condições de continuidade da vida que desejamos seguir, sem condições de produzir na terra que crescemos e queremos permanecer.
Muitos temas se agravam quando este é discutido, pois debater a permanência no campo, se torna mais complexa quando o sujeito e a sujeita LGBT é colocado em pauta. Uma liderança LGBT no meio rural é marcada por várias retaliações que terminam na sua invisibilidade dentro dos seus espaços de articulações, já que piadas machistas e LGBTfóbicas são escutadas a todos os momentos e o respeito muitas vezes se restringem as discussões de classe e lutas, que quando chegam na realidade do dia a dia e dentro das nossas áreas rurais só reina o preconceito e a discriminação.
Nossa pauta deve contemplar todas as conquistas e desafios colocados pelos vários Movimentos Sociais Populares do campo, sendo nossa articulação mais um espaço de fortalecimento das lutas e construção do Projeto Popular para o campo brasileiro.
Continuaremos pautando a luta pela terra e território, trabalho e renda, educação do campo, participação e qualidade de vida, porém não abriremos mão de trazer o recorte de afirmação LGBT nessas pautas. Queremos a quebra dos estereótipos criados sobre o ser homem e o ser mulher, com o respeito à autonomia e ao direito de construir o que queremos.
A nossa luta é todo dia, contra o racismo, machismo e LGBTfobia!
Brasília, 25 de fevereiro de 2016.