Cerca de 1200 mulheres do MST e do MAB ocupam a Yara Fertilizantes em Porto Alegre
Da Página do MST
Cerca de 1200 mulheres MST e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) ocuparam na madrugada desta terça-feira (8), o pátio da empresa Yara Fertilizantes, em Porto Alegre, na Capital do Rio Grande do Sul.
Segundo a dirigente estadual do Setor de Gênero do MST, Roberta Coimbra, o objetivo da ocupação é denunciar o uso abusivo de fertilizantes sintéticos e de agrotóxicos na produção de alimentos no Brasil.
“O modelo do agronegócio tem ocupado áreas que deveriam ser para a reforma agrária, e está excluindo as famílias do campo e impedindo a produção saudável de alimentos pela agricultura camponesa”, denuncia a assentada.
Roberta explica que as mulheres são as mais prejudicadas com essa conjuntura agrária, pois ela dificulta o desenvolvimento da agroecologia no campo e o acesso a incentivos para este tipo de prática. “Hoje, toda política governamental direciona os recursos da agricultura para o agronegócio, que só traz lucros para grandes empresas e multinacionais, contamina o meio ambiente e causa doenças nas pessoas”, argumenta.
As mulheres do MST e do MAB também pretendem trancar vias da Freeway, no sentido Canoas-Porto Alegre, para conscientizar motoristas sobre o tema. Em contraponto à agricultura convencional, apresentarão a produção agroecológica realizada por elas nos assentamentos do estado, com a entrega de material de denúncia e uma quantidade simbólica de arroz orgânico.
Histórico
A Yara é uma empresa norueguesa, e no Brasil tem sede em Porto Alegre. A transnacional, junto a Bunge e a Mosaic, é responsável pelo grande cartel que controla o mercado de fertilizantes no mundo.
Segundo a assentada do MST e engenheira agrônoma Dayana Machado, esta é a razão do elevado custo dos fertilizantes e, consequentemente, do preço dos alimentos. “O lucro da Yara no último ano foi mais de 490 milhões de dólares. A empresa que tem esse lucro não está preocupada com o planeta, nem com a saúde das pessoas”, complementa.
Conforme Dayana, a produção de fertilizantes sintéticos requer o uso de matérias-primas não renováveis, que são extraídas de rochas ou fósseis como petróleo, e provoca grandes danos ambientais. Entre os problemas que eles geram estão a degradação do solo, a poluição das fontes de água e da atmosfera e aumento da resistência das pragas.
“Criou-se o mito de que não se pode mais produzir sem os fertilizantes. As empresas, os bancos e os cientistas adotaram essa estratégia mentirosa para obter lucros. Existe um uso abusivo de fertilizantes, e somente em 2014 os produtores agrícolas consumiram 32 toneladas. A natureza e os seres humanos pagam um preço alto por isso”, explica a agrônoma, acrescentando que o uso excessivo desses químicos gera plantas doentes, induzindo a aplicação de agrotóxicos e produzindo alimentos envenenados e com baixo teor de nutrientes.
Segundo a Organização das Nações Unidas, o uso de fertilizantes sintéticos à base de nitrogênio, como a amônia e a ureia, é hoje um dos maiores responsáveis pelo aquecimento global e mudanças climáticas.
Jornada Nacional de Luta
A ocupação da Yara Fertilizantes faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Camponesas, que este ano tem como lema “Mulheres na luta em defesa da natureza e da alimentação saudável, contra o agronegócio.”
A iniciativa denuncia o capital estrangeiro na agricultura brasileira por meio das empresas transnacionais, chamando a atenção da sociedade sobre o modelo destrutivo do agronegócio para o meio ambiente, a ameaça à soberania alimentar do país e à vida da população brasileira, o que atinge de forma direta a realidade das mulheres.
As lutas em todo o Brasil também denunciam a impunidade em relação à violência contra as trabalhadoras e os trabalhadores camponeses.
Ao mesmo tempo, a jornada coloca como alternativa a agricultura agroecológica e propõe a luta em defesa da soberania alimentar e da construção de uma nova sociedade através do projeto da Reforma Agrária Popular.