E não mais nos calaremos

Manifesto das mulheres do Pará contra violência da PM na última terça-feira (8).

Por Coletivo de Mulheres do Pará
Da Página do MST

Antes que termine março e o episódio da violência policial na Marcha das mulheres Sem Terra no final da manhã de 8 de março em Parauapebas, Pará, passe para o esquecimento geral, decidimos que seria importante dizer algo mais, motivadas, sobretudo, por dois fatos: um de indignação, outro de agradecimento.

A truculência da Polícia Militar do Pará não é mais novidade para ninguém, quantos de nós não vivenciamos ou conhecemos alguém que tenham sido agredido, mal abordado nas “operações policiais” nos bairros, preso sem explicação aparente ou  por “desacato à autoridade”?

Mas alguém se perguntou o que eles – os comandantes – fazem quando terminam suas ações? Ontem, nós, mulheres do Pará, vimos. E isso despertou ainda mais minha indignação.

Major Sousa chegou na tarde de terça-feira (8), na delegacia  muito alegre e vestido com uma roupa esportiva, daquelas que usamos no domingo quando estamos descansando de uma longa jornada de trabalho; para ele seu trabalho foi dar uma lição naquelas mulheres, segundo ele, um bando de desocupadas que mereciam levar bala de borracha, spray de pimenta, bombas de efeito moral,  apanhar, correr e serem presas por terem ousado cruzar o seu caminho; ele andava com olhar triunfante; confiante que de fato era um “bom comandante”.

Bom comandante?  Como assim? Comandante que perde a noção, andando de um lado para o outro, impaciente, dando ordens aos seus policiais para avançar contra mulheres, cuja única arma que tinham era suas faixas, suas bandeiras, suas ferramentas de trabalho na roça e sua voz?

Vozes que foram silenciadas ao prenderem o carro de som e seu motorista, para dar condições de travarem uma operação abusiva deixando mulheres marchantes e pessoas que estavam próximas, perplexas diante de tanta truculência.

Nossa perplexidade não foi o fato de terem nos tirado da rua, mas o descontrole emocional que levou-o a gritar palavrões, a dar ordens descabidas no momento ou ter feito “seus homens” correrem três quadras disparando balas de borracha e bombas contra mulheres que haviam recuado de sua ação.

Um bom comandante, major Sousa, é aquele que sai com a missão realizada, consciente de ter trilhado o melhor esquema tático que é o do dialogo, deixando sua tropa orgulhosa e não envergonhada por ter batido em mulheres no dia 8 de março, dia de comemoração e luta por direitos conquistados. 

Mas não é com você que queremos terminar esse relato, queremos terminar com um bom sentimento: o do agradecimento – razão principal desse escrito -,  queremos falar de nós, mulheres que ousamos lutar pelos nossos direitos: saímos com desejo de seguir crescendo como fermento na massa até o dia em que nos tornaremos mais e mais, ao ponto de não sermos mais vozes caladas e perseguidas. 

Saímos alegres e conscientes do nosso despertar; saímos conscientes que demos o melhor de nós pelos nossos sonhos e de tantas outras e outros que ainda não se somaram, mas que um dia se somarão na luta contra todas as formas que nos priva de sermos verdadeiramente livres e felizes.

Saímos acreditando no que pode ser o ser humano e, é para eles que vai o nosso mais profundo agradecimento: no momento da perseguição, das balas de borracha, das bombas de “efeito moral”, vimos pessoas que se indignaram, que abriram com muita coragem suas casas, seus comércios para nos proteger, que gritaram em suas motos contra os policiais: para que tanta violência?!

E, como para dizer que não estávamos sozinhas, levaram nossos símbolos de protesto pelas ruas da cidade, silenciada todos os dias pela ação violenta da policia a mando dos donos do poder privado e estatal.

Para aqueles e aquelas que se solidarizaram conosco e com nossa mobilização, recebam nosso abraço.

Seguiremos em marcha, não nos calaremos e avançaremos na defesa da DEMOCRACIA, DA JUSTIÇA, DA LIBERDADE E DA VIDA!

 

Pará, 10 de março de 2016

Coletivos de Mulheres do MST – Pará