Em São Paulo, ato em defesa da democracia reúne 500 mil na Paulista

Em todo o Brasil, mais de 1 milhão e 350 mil pessoas foram às ruas dizer não ao golpe e sim para democracia.

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Por Rute Pina*,
Do Brasil de Fato

As manifestações pela democracia que ocorreram nesta sexta-feira (18) em todos os estados reuniram mais de 1,3 milhão de pessoas em todo o país, segundo a Frente Brasil Popular (FBP). Em São Paulo, segundo os organizadores, cerca de 500 mil pessoas também foram às ruas contra a tentativa de “golpe” em curso com o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

A presença da periferia foi marcante na mobilização que, por volta das 16h, já contava com a participação de cerca de 80 mil pessoas na Avenida Paulista, local da concentração. A maioria dos manifestantes chegaram de ônibus e comboios de vários locais da cidade como M&”39;Boi Mirim e Butantã. As linhas Verde e Amarela do metro, que chegam até a Paulista, estavam tranquilas e muitos manifestantes subiram à pé desde a Praça Roosevelt (Clique aqui para conferir o balanço das mobilizações em todo o país).

Nivive Ferreira, 20, esperava colegas do bairro de Heliópolis que chegariam, segundo ela, em um comboio de 10 ônibus. “No domingo, não vi ninguém da minha comunidade participar. As pessoas estavam no bar! E a gente não participa destes atos porque é a gente que mais sofre com a polícia e com a falta de políticas públicas”, afirmou.

A estudante de comunicação, que trabalha na onganização não-governamental (ONG) União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS), afirma que os bairros de periferia também estão mobilizados contra um impeachment, que, em sua opinião, representaria um atraso ao Brasil. “Eu tô participando porque não quero um retrocesso das coisas, não quero um retrocesso dos direitos dos gays, das minorias, entre outros”, afirmou.

Pluralidade

O aposentado Edelcio Pereira, 56, afirmou que a vontade de sair às ruas na tarde desta sexta-feira se deu para “lutar pela democracia” e contra um possível golpe iminente no País. Ele, que acompanhou muitos protestos na década de 1980, aprovou a pluralidade dos atos. “Um país de uma minoria só é um país sem graça e é isso que a direita quer”, disse.

Grupos de feministas, sindicalistas, intelectuais, políticos e até de mães se aglomeravam na avenida Paulista. A professora de ioga, Julia Borges Calderone, 32, estava na manifestação com sua filha de nove meses. Ela e um grupo de mães fizeram de um apartamento nos arredores da Paulista uma base para as mulheres que precisassem dar uma pausa para descansar, amamentar ou trocar os bebês.

“O melhor presente que posso dar para minha filha é lutar pelo futuro. Parece piegas, mas fico pensando qual é o país que vou deixar para minha filha. Quando ela for adolescente ela vai viver em um país democrático ou repressivo?”, questiona Julia.

A quantidade de jovens impressionou Natalia Rampazzi e Datieli Albuquerque, ambas de 17 anos. “A média de idade aqui deve ser de 19 anos”, brincou Natália, estudante de filosofia. Ela e a amiga, que estuda Direito, entraram neste semestre como bolsistas pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) na Universidade São Judas. “Eu acho que tem mais jovens aqui. A gente tende a ser sentir mais revolta. E também porque sinto que o governo no PT [Partido dos Trabalhadores] tem mais políticas públicas voltadas para a juventude”, disse.

Elas estavam em frente à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) enquanto um grupo protestava contra a instituição. “Ão, ão, ão, cadê o filé mignon”, cantavam em referência ao almoço que a instituição ofereceu aos manifestantes pró-impeachment que ocuparam a avenida na quinta-feira (17). Alguns, entoavam também frases contra a Rede Globo.

Natália disse concordar com o protesto contra a emissora. Segundo ela, muito do clima de polarização política no país tem a ver com a cobertura da imprensa. “Conversar em casa, por exemplo, anda muito difícil. E antes todo mundo era petista. Acho que tem muito a ver com o fato de parecer que a crise nunca vai acabar. E eu acredito que vai passar”, afirmou. Datieli acrescentou: “Um impeachment não vai resolver a crise econômica, pode só agravar”.  

Movimentos

A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, afirmou que o movimento estudantil participava dos protestos pois “pensa no futuro”. “Muita gente se pergunta onde estavam a juventude e os estudantes no ato da direita. Na nossa opinião, quem quer derrubar Dilma não está preocupado com nossos direitos, por isso, temos uma participação decisiva hoje na Paulista”, disse.

Dentre as bandeiras e balões das centrais sindicais e de partidos, uma bandeira anarquista era erguida pelo professor Pedro**, 35. Ele afirmou  que decidiu participar do ato, mesmo não sendo partidário, por perceber um movimento de direita crescer na América Latina e para conter um movimento nacionalista fascista. O professor criticou quem desaprova a manifestação desta sexta contra o impeachment da presidenta. “Quem faz essa análise não entende a gravidade do que estamos vivendo”.

O filósofo Paulo Arantes, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), também estava presente na manifestação em São Paulo e defendeu uma união dos setores de esquerda. “O mais fundamental hoje é pensar no dia seguinte. A primeira providência é não brigar entre nós”, afirmou.

Já Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), teceu críticas ao Judiciário durante o ato que, segundo ele,  atravessou nos últimos dias  “uma fronteira perigosa”, atacando direitos constitucionais no país. “Mesmo fazendo duras críticas ao Governo, estamos aqui em defesa das garantias democraticas”, disse. “A participação na manifestação é importante, porque nós vivemos uma escalada e uma ofensiva de ataque aos direitos democráticos no país”.

Lula

Por volta das 19h30, o ex-presidente e agora ministro da Casa Civil, Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso inflamado onde prometeu que entrou no Governo para “ajudar Dilma a fazer o que tem que fazer”.

“Eu aceitei participar do governo porque ainda falta mais de dois anos de Governo Dilma e é tempo suficiente para a gente virar a história desse país. Para aqueles que nos odeiam, respeitam o voto de 54 milhões de brasileiros”, disse o ex-presidente. “A democracia é a única possibilidade possível”.

Após o discurso de Lula, vários artistas como Flora Mattos e MC Sofia, de 12 anos, se apresentaram para o público onde se posicionaram a favor da democracia.