MST repudia massacre em terras Guarani Kaiowá no MS
Da Página do MST
O MST emitiu nesta sexta-feira uma nota condenando veementemente o massacre ocorrido no interior do Mato Grosso do Sul contra a comunidade Guarani e Kaiowá, ocorrido no último dia 14/06, quando 20 foram feridos à bala e o indígena Clodiodi Aquileu Rodrigues foi brutalmente assassinado. “Repudiamos o clima cotidiano de terror, tensão, medo, dor e angustia provocado nas crianças e idosos indígenas que vivem nessa região”, diz parte da nota. E complementa: “a cana-de-açúcar, a carne bovina e a soja no Mato Grosso do Sul tem sangue indígena”.
Confira a íntegra da nota:
OPERAÇÃO-MASSACRE DE INDÍGENAS NO MATO GROSSO DO SUL
Esta ocorrendo uma “operação-massacre” contra os povos indígenas Guarani e Kaiowá! Denunciamos o avanço do modelo de produção do agronegócio no estado do Mato Grosso do Sul: o agrocrime!
Era uma manhã fria e ensolarada, 14 de junho em Caarapó. Poderia ter sido mais um dia normal da semana, mas foi um dia de terror: na fazenda Yvu, onde estavam famílias indígenas, entre elas senhoras idosas, jovens, homens, mulheres e crianças (seres humanos como nós), bem ali, na retomada de sua terra ancestral, mais uma vez o chão do Brasil foi regado com sangue do irmão indígena. Desta vez foi Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza de 26 anos, pai de família e agente de saúde, assassinado durante a operação-massacre pelas balas que matam. Nas palavras dos indígenas, “a sua alegria silenciou”. Honrando seu juramento como agente de saúde, Clodiodi correu corajosamente para atender outro indígena baleado. Não pensou duas vezes, no meio da chuva de balas, foi atingido, caiu, levantou de novo, tentou correr e caiu já sem vida. Todo seu corpo ficou vermelho em poucos segundos.
Uma máquina escavadeira estava no local e junto com ela mais de 160 caminhonetes. Segundo informação dos sobreviventes, os assassinos também queriam o corpo do Clodiodi. Pretendiam jogar seu corpo dentro de um buraco onde colocaram todos os pertences das famílias indígenas, roupas e alimentos que ardiam em fogo. Numa ação de valentia, tentando retirar o corpo tombado entre meio às balas letais e de grosso calibre, outros indígenas conseguiram resgatar Clodiodi mas também foram alvejados. Muitos estão ainda no hospital com três, quatro ou cinco tiros em regiões da cabeça, coração e abdômen, atiraram neles para matar. O massacre produziu mais de 20 feridos, entre estes uma criança de 12 anos internada em estado grave com o fígado e rim atingidos e mais quatro adultos no mesmo nível de gravidade. Neste 16 de junho, no ritmo do mbaraka e rituais indígenas Guarani e Kaiowá, Clodiodi foi enterrado com lágrimas, tristezas e muita revolta.
Por estes fatos repudiamos a ação deliberada paramilitar e paraestatal, realizada pelo agronegócio e os declarados “produtores rurais” com apoio explícito dos meios de comunicação, especialmente da afiliada local da Rede Globo, a TV Morena, que se coloca ao lado dos assassinos e distorce a verdade dos acontecimentos. Repudiamos a queima de todos os barracos e poucos pertences dos indígenas. Repudiamos o clima cotidiano de terror, tensão, medo, dor e angustia provocado nas crianças e idosos indígenas que vivem nessa região. Nenhum fazendeiro foi ferido nem intimado. Não houve inquérito policial nem boletim de ocorrência imediatos. O chamado setor agroexportador de commodities agrícolas é quem assassina indígenas. A cana-de-açúcar, a carne bovina e a soja no Mato Grosso do Sul tem sangue indígena.
Repudiamos também que em agosto de 2015, quando foi assassinado o líder Simeão Vilhalva no tekoha Ñanderu Marangatu, foram registrados mais de 26 ataques paramilitares contra comunidades do povo Guarani e Kaiowá no estado. Há uma clara demonstração de rasgar a Constituição Federal de 1988, e junto com ela as conquistas dos povos do campo dando carta branca para os latifundiários agirem na completa impunidade e ilegalidade e pelas próprias mãos, que seguem ameaçando próximo às retomadas e prometem matar mais indígenas.
Solidarizamos-nos e somamos as nossas forças com os irmãos indígenas, saibam que um morto indígena é um dos nossos, o seu sangue derramado nessa terra é o nosso sangue. Não vamos baixar as bandeiras perante as balas que matam. A cada gota de sangue e lágrima nos tornamos mais fortes e solidários. Nem um minuto de silêncio, sim uma vida toda de luta!
Que vivam os irmãos Guarani e Kaiowá! Sua luta é a nossa luta.
*Editado por Rafael Soriano