Mostra de Artes Plásticas traz outro olhar sobre a produção no Campo

A Mostra acontece durante o Festival Nacional de Artes e Cultura da Reforma Agrária, em Belo Horizonte.

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Por Maria Aparecida (Texto e Fotos)*
Da Página do MST

“A arte é, antes de tudo, um processo, e é, acima de tudo, um trabalho”. É assim que o artista plástico e educador popular, Anderson Augusto, nos apresenta os trabalhos que compõem a Mostra de Artes Plásticas do MST, durante o Festival Nacional de Arte e Cultura da Reforma Agrária que acontece em Belo Horizonte (MG). 

Segundo Anderson, a mostra, que acontece no Centro de Referência da Juventude, ao lado da Praça da Estação, surgiu com o intuito de dinamizar e mostrar que a produção da Reforma Agrária é mais ampla do que só a produção de alimentos. 

“Ela vem desde a produção concreta da terra, na conquista da terra e dos direitos, mas é também cultura, uma forma da gente apresentar os frutos artísticos do MST e de colaboradores, que sempre estiveram dispostos a contribuir na luta do Movimento, como por exemplo, na formação da brigada de artes”, pontua.

A Mostra é composta por uma coleção de fotografias que contam um pouco da história do MST, de autoria de vários fotógrafos, além de uma coleção que trata especificamente do Massacre de Eldorado dos Carajás, que neste ano completa 20 anos de impunidade. 

Outra parte diz respeito às esculturas, pinturas e intervenções feitas por artistas do Movimento e parceiros. “A temática da Mostra é direitos humanos, então a exposição de fotos e artes plásticas estão associadas aos episódios de violação desses direitos”, define Anderson.
 

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Tragédia de Mariana

Uma das instalações que chama bastante atenção é uma maquete que retrata o crime ambiental ocorrido em Mariana (MG). A maquete foi organizada pelo artista plástico e militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Wélidas Monteiro, conhecido popularmente como Preto, que viveu na pele a história da tragédia anunciada e sobreviveu para contá-la, não sem antes perder entes queridos, como a irmã, grávida de cinco meses, a sobrinha, de cinco anos de idade, e um tio, de 65 anos.

Segundo Wélidas, a instalação tem como principal objetivo mostrar às pessoas a realidade do que aconteceu em Mariana, “mesmo que não seja o suficiente para que as pessoas saibam de fato o que foi, mas já é um pouco e serve para conversar e denunciar o crime”. 

Wélidas ainda ressalta a preocupação não apenas com o que aconteceu, mas com o que ainda pode acontecer. O dique que a Samarco está construindo em Bento Rodrigues, por exemplo, é uma bomba relógio três vezes maior do que a barragem que se rompeu. Ela não tem segurança alguma”, denuncia.

A moradora de Belo Horizonte e visitante da mostra, Júnia Beatriz Mattos, foi convidada por um colega de trabalho para conhecer o espaço. Para ela, toda a mostra está sendo “maravilhosa, embora dolorido porque são casos tristes, o de Eldorado dos Carajás e da barragem de Mariana, dos sobreviventes contando suas vivências”.

Ela destaca a importância de mostras como estas. “Quem dera se as pessoas tivessem essa oportunidade, desde jovem, nesse espaço que é para a juventude [o Centro de Referência da Juventude]. Eu vou fazer de tudo que eu puder pra que minha neta passe a participar. Ela está com 16 anos e quero que ela tenha consciência política real, porque as pessoas falam de política vendo pela televisão, pela mídia. Agora, quando a gente vê na carne, aí a gente entende. A gente ouvindo, toma mais consciência”, afirma.
 

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Homenagem

Com toda a sua beleza, a Mostra de Artes Plásticas homenageia Domingos Sávio, um franciscano que esteve sempre presente na construção e desenvolvimento das brigadas de artes do MST, ajudando em inúmeras concepções e pinturas dos painéis usados em grandes eventos do Movimento, assim como nos processos de formação dos integrantes das brigadas, como a Cândido Portinari.

“A vida toda ele colaborou com vários grupos e movimentos populares, em particular o MST. Por isso, nada mais justo que esse evento o homenageie com o nome da mostra”, lembra Anderson.

Brigada Cândido Portinari

A Brigada Cândido Portinari, ainda que não fosse conhecida por esse nome, já vem desenvolvendo, há tempos, experiências nas atividades do MST. “A primeira experiência foi na construção dos materiais para os 20 anos do Movimento, quando ainda éramos apenas um grupo, sem uma dimensão nacional de representatividade”, relembra Evelaine Martines Brennand, artista plástica e uma das pioneiras da Brigada.

Segundo Evelaine, várias experiências significativas contribuíram na formação e consolidação da Brigada, como a produção e organização da Casa de Artes Frida Khalo, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), ou a construção de um painel de 272 m² para o 6° Congresso Nacional do MST, em 2014, além das formações propriamente ditas. 

“A Brigada vem de um processo de formação por meio de oficinas e atividades culturais, e sempre é desafiada a fazer uma criação artística que dialogue com o todo do Movimento. Não é uma experiência do olhar de fora do MST que vem nos representar. Construímos nós mesmos uma representatividade, uma simbologia a partir dessa vida militante”.

O nome para representar a Brigada surge pela notoriedade das obras e da vida do pintor e muralista brasileiro, Cândido Portinari. “Ele foi um artista-militante, que pintou seu povo e sua gente”, define Evelaine.

“Nos trabalhos buscamos fortalecer toda expressão coletiva, porque os sentimentos do Movimento são coletivos. Tentamos buscar através de uma produção coletiva de arte estes sentimentos, de arte, de luta pela Reforma Agrária, por transformação”, finaliza.

*Com contribuição de Nelsina Gomes