Após dez anos de luta, 45 famílias são assentadas no sudeste goiano
Por Maisa Lima
Da Página do MST
Num momento em que lutadores da Reforma Agrária se encontram encarcerados em Goiás, 45 famílias ligadas ao MST comemoraram na sexta-feira (23) a posse dos 1,3 mil hectares da antiga Fazenda Buriti/Corumbá Velho, que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) declarou de interesse social após a propriedade ter utilizado trabalho análogo à escravidão.
O assentamento Ana Ferreira se tornou realidade após dez anos de luta e está localizado em Ipameri, no sudeste goiano, distante cerca de 200 quilômetros de Goiânia. No município de 26 mil habitantes existia até então somente o assentamento Olga Benário, onde vivem e produzem mais de 90 famílias.
“É muito importante a posse dessa terra no momento em que a luta pela Reforma Agrária está sendo criminalizada. Mantém viva a esperança naqueles que continuam buscando o acesso à terra para nela viver e produzir. O MST permanece organizado e na luta.
Não se resume a esta ou aquela pessoa. A prisão de um líder motiva ainda mais o movimento a permanecer unido nessa luta, que é por justiça e pela vida”, afirma Dom Guilherme Antônio Werlang, Bispo da diocese de Ipameri e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que realizou no assentamento um ato ecumênico pela vida, pela preservação da terra e por alimentação saudável.
Comemoração
Na sexta-feira as famílias assentadas, dirigentes do MST e convidados puderam comemorar a posse da terra com um jantar e uma festa. Não faltou a mística, música, poesia e exposições de pintura e artesanato. A região é uma das maiores produtoras de soja e milho transgênico de Goiás e agora ganha o compromisso dessas 56 famílias de produzir alimentos saudáveis.
“Aqui vamos produzir comida limpa. Onde antes havia apenas um dono, agora são 45 famílias empenhadas em oferecer sua produção aos moradores de Ipameri e região. Vamos firmar uma parceria para produzir sementes crioulas e trabalhar com a agroecologia.
Temos a mesma proposta, nós e o MST”, pontua o coordenador do Movimento Camponês Popular (MCP) na região, José Melchior de Souza.
O Papa Francisco tem dito que “a Reforma Agrária é, além de uma necessidade política, uma obrigação moral”. O MST em Goiás vem construindo com as famílias a perspectiva da Reforma Agrária Popular, que será a base do planejamento do Assentamento Ana Ferreira e das lutas futuras das famílias ali assentadas.
“Em meio ao agronegócio da soja e do milho transgênico, não será fácil garantir a produção diversificada e agroecológica, devido às pulverizações na área, à baixa logística para comercialização de produtos diversificados e voltados para consumo dos municípios da região.
Mas as famílias, que lutaram durante tantos anos pela desapropriação daquele latifúndio, estão determinadas a ter mais essa conquista”, adianta Luiz Zarref, um dos coordenadores do MST em Goiás.