Famílias assentadas organizam produção em torno de agroindústrias

Repesentantes de cooperativas do MST discutiram o andamento dos projetos aprovados por meio de programa de agroindústrialização

 

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Em Nova Santa Rita, está sendo construído um abatedouro e frigorífico de suínos e bovinos, que vai beneficiar 206 famílias de cinco assentamentos.

Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

Assentados do MST na região Metropolitana de Porto Alegre (RS) receberam, na última quinta-feira (9), representantes de entidades que integram o Comitê Gestor Nacional e o Comitê de Investimentos do Programa Terra Forte, que tem como objetivo implantar ou modernizar agroindústrias em assentamentos criados ou reconhecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O intuito da atividade foi discutir o andamento dos projetos das cooperativas do MST, já aprovados pelo programa.

A reunião dos dois comitês foi realizada em Nova Santa Rita, no Assentamento Capela, onde a Cooperativa de Produção Agroecológica de Nova Santa Rita (Coopan) está construindo um abatedouro e frigorífico de suínos e bovinos, que vai beneficiar 206 famílias de cinco assentamentos. Este é o único projeto do país já contratado e com obras em andamento.

Conforme Nilvo Bosa, presidente da Coopan, as obras e a liberação da estrutura para funcionamento devem estar concluídas até junho de 2018, e, inicialmente, serão garantidos 40 postos de trabalho no abatedouro e agroindústria. A meta de produção das famílias é de 250 porcos e 50 cabeças de gado por dia. “Vamos começar produzindo cortes de carne, embutidos e alguns frios para distribuição na região Metropolitana da Capital. Isto vai gerar trabalho e renda para os filhos dos associados e outras pessoas do município”, explica Bosa.

A comitiva também esteve na Unidade de Beneficiamento de Sementes da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados de Porto Alegre (Cootap), localizada no Assentamento Lanceiros Negros, no município de Eldorado do Sul, onde está prevista a construção de uma agroindústria de beneficiamento e parabolização de arroz agroecológico. O projeto já foi aprovado e vai beneficiar 1.236 famílias de 39 assentamentos. Agora, os assentados aguardam a análise jurídica do Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES).
 

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Comitiva visitou a Unidade de Beneficiamento de Sementes da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados de Porto Alegre

Incentivos à agroindustrialização

O Terra Forte é um programa voltado à agroindustrialização e à comercialização da produção dos trabalhadores rurais assentados pelo Incra. O Comitê Gestor Nacional é presidido pelo Incra e o Comitê de Investimentos fica a cargo da Fundação Banco do Brasil (FBB). Também são parceiros o BNDES, Banco do Brasil (BB), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Em 2013, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, ocorreu a aprovação de 138 propostas, das quais 32 foram selecionadas para a Carteira de Trabalho Terra Forte. Seis delas são do RS: Coopan, Cootap, Cooperativa de Produtores Orgânicos da Reforma Agrária de Viamão (Coperav), Cooperativa de Produção Agropecuária Vista Alegre (Coopava), Cooperativa dos Assentados de Santana do Livramento (Cooperforte) e Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados de Charqueadas (COPAC). Além destas, outras duas cooperativas do MST foram contempladas com o programa: Cooperativa Regional de Industrialização e Comercialização Dolcimar Luiz Brunetto (Cooperdotchi), em Santa Catarina; e Cooperativa de Reforma Agrária e Erva-mate (Copermate), no Paraná.

Segundo Salete Carollo, do setor de Produção do MST/RS, os programas de agroindústrias contribuem para o desenvolvimento de cadeias produtivas nos assentamentos e permite a viabilização da permanência dos agricultores e seus filhos no campo. Também possibilita às famílias, a partir da matéria-prima que produzem, obter renda por meio do beneficiamento e da diversificação da produção.

“As agroindústrias são fundamentais não somente no aspecto econômico, mas também para a organização social das comunidades, uma vez que homens, mulheres e jovens se reúnem e realizam diversos debates. O conhecimento também é outra questão importante. O agricultor, que até então pensava apenas na qualificação da produção, vai além. Ele passa a dominar a área da indústria, gestão e mercado. Tudo isso contribui para melhorar a qualidade do trabalho e dos alimentos que as famílias produzem”, complementa Salete.