30 anos de arte e cultura na Bahia
Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST
No dia 7 de setembro o MST completa 30 anos de luta, resistência e conquistas no estado da Bahia. Ao longo dessa história uma das bases de construção de uma identidade Sem Terra foi a valorização das manifestações artísticas e costumes populares dos diversos sujeitos que constroem a luta pela terra a partir de seus assentamentos e acampamentos. Um verdadeiro mosaico étnico e cultural.
A valorização e o fortalecimento dessa cultura é encarada enquanto instrumento indispensável na luta contra o agronegócio, sem perder de vista inclusive, a participação de mulheres, homens, jovens e crianças.
Várias experiências se destacam neste berço histórico e a banda “Um de Cada Canto” é avaliada pelo MST como uma das mais importantes construídas no último período, tendo em vista que é impossível pensa-la desassociada das ocupações de terra, das marchas, feiras e dos encontros, pois se apresenta enquanto parte fundamental da luta.
A banda, composta por trabalhadores e trabalhadoras de diversas regiões do estado, construída em 2012, encontra no ritmo musical e nas letras de denúncias uma ponte de diálogo permanente com toda sociedade.
Neusa de Jesus, uma das integrantes do grupo, explica que as músicas da grande mídia não são cantadas. “Nossa tarefa é divulgar aquilo que construímos nestes 30 anos de Movimento na Bahia. Valorizando a ancestralidade presente no estado e as canções que fazem parte do dia a dia das trabalhadoras e dos trabalhadores”.
Sem um grupo fixo, a banda se reinventa e procura mobilizar o maior número de pessoas possíveis. Em sua grande maioria, a juventude se apropria do espaço e constrói diversos gritos de ordem, paródias, novas canções, poesias, piadas e causos.
“Nossas produções precisam passar uma mensagem política às pessoas. Quando a gente questiona o modelo de sociedade que vivemos e pautamos a Reforma Agrária Popular a partir da arte, colocamos a responsabilidade da transformação social nas mãos de todas e todos”, afirma Neusa.
Uma cultura ancestral
Paralelo a isso, algumas expressões culturais estão presentes nos assentamentos e acampamentos do Movimento, como o Samba de Roda, no Recôncavo, e o Maculelê, no Extremo Sul. Essas duas danças populares fizeram parte do processo de resistência dos negros e negras ao escravismo e a imposição de uma ordem que desumaniza o sujeito e os valores ancestrais.
Dançadas com os pés descalços, em contato com a terra, e roupas longas, coloridas, com muita agilidade nas mãos e um rebolado marcante, os ritmos embalam o dia a dia das comunidades.
O Maculelê é uma manifestação cultural oriunda da cidade de Santo Amaro da Purificação, berço também da Capoeira. Nos movimentos teatrais realizados enquanto se dança o ritmo a história do povo negro é contada. Diz a lenda local, que a dança nasce quando um jovem guerreiro conseguiu defender sua tribo de outra tribo rival usando apenas dois pedaços de pau.
O Samba de Roda é acompanhado por atabaques, ganzá, reco-reco, viola e violão. O solista entoa cantigas, seguido por um coro e pelo grupo, que numa grande roda inicia o samba. Ligado ao culto de orixás e caboclos, a dança teve início por volta de 1860, como forma de preservação da cultura dos negros africanos.
De acordo com Rosalvo José, artista da Reforma Agrária, a cultura popular é um instrumento que nasce do povo, independentemente do local onde se vive. “Quando o Sem Terra produz alimento, ele produz música e produz cultura. O Samba de Roda e o Maculelê são a expressão do povo e nós, enquanto movimento popular, possui a tarefa de fazer de nossas áreas um espaço onde se celebre essa cultura” e destaca, “nossa cultura é nossa vida. Não podemos perder jamais”.
Feira da Reforma Agrária
Uma experiência que tem aglutinado diversas expressões da arte Sem Terra são as feiras da Reforma Agrária, que além de impulsionar a comercialização de alimentos saudáveis tem levado as principais cidades da Bahia a valorização da cultura popular, através de artesanatos, danças, painéis, quadros, livros, músicas e intervenções artísticas.
Essas questões só apontam que um dos objetivos das Feiras é o de realizar uma ampla troca de saberes entre os trabalhadores do campo e da cidade, para celebrar a luta e as conquistas da classe trabalhadora.
Para Evanildo Costa, da direção nacional do Movimento, é marcante e plural as representações culturais vindas dos assentamentos e acampamentos dos quatro cantos da Bahia. “Nossa feira, nada mais é, que o encontro de nossas dez regiões e suas peculiaridades que se apresentam a partir das relações e produções artísticas locais”.
As Feiras são realizadas todos os anos e neste primeiro semestre 15 cidades, em todo estado, pararam para comprar os alimentos saudáveis da Reforma Agrária e apreciar a cultura de resistência construída na luta pela terra.
As três décadas de existência do MST tem produzido uma diversidade cultural, seja na plantação de alimentos, nas músicas, nas danças ou religião, que expressam a preservação da identidade de um povo que não se cansa de lutar por terra, educação, saúde e dignidade política para construir um projeto de sociedade mais fraterno e igualitário.
*Editado por Maura Silva