Movimentos populares do Brasil lançam chamado de solidariedade com a Venezuela
Por Leonardo Fernandes
Da Página do MST
“Qual moral tem um usurpador como Michel Temer para falar em democracia, violando a própria Constituição de nosso país, ao adotar posições que ofendem a independência venezuelana?”, lança a pergunta, o Comitê Brasileiro pela Paz na Venezuela, através de um manifesto publicado logo após a realização da eleição para a Assembleia Nacional Constituinte no país, no último dia 30 de agosto.
O Comitê é formado por movimentos populares, como o MST, o Movimento de Pequenos Agricultores, centrais sindicais, como a CUT, a Intersindical e a CTB, além de partidos, coletivos de juventude e de comunicação popular. No documento, as organizações repudiam a postura do governo brasileiro ao aliar-se ‘a governos que conspiram contra uma nação livre’ em uma clara postura intervencionista em assuntos soberanos do povo venezuelano.
“Repudiamos as manobras de bloqueio e agressão que estão sendo tramadas nas sombras da Organização dos Estados Americanos (OEA), sob a batuta da Casa Branca e com a cumplicidade do governo golpista de nosso país”, diz o documento.
Além do Comitê pela Paz, a Articulação de Movimentos Populares da ALBA Brasil, tomou uma série de iniciativas para chamar a atenção da população brasileira para a gravidade da situação da na Venezuela, observando as verdadeiras causas e o interesse das potências estrangeiras na radicalização da violência opositora. “Deputados da direita disseram publicamente que a sua tática é produzir mais violência, mais caos, com ampla cobertura da mídia internacional, para provocar uma intervenção estrangeira no pais”, afirma uma circular dos Movimentos Populares da ALBA.
A Articulação popular convoca os movimentos sociais de toda a América Latina a se manifestarem de maneira contundente contra a ingerência dos Estados Unidos com assuntos internos de outros países. “Como denunciou Julian Assange, o governo Trump que criar um novo Iraque na América do Sul, não podemos nos calar diante disso”, declara.
Dia 22/08: Dia Internacional de Solidariedade com a Venezuela
Os movimentos da ALBA também convocam para 22 de agosto a realização de um Dia Internacional de Solidariedade com a Venezuela, no qual serão programadas ‘ações simultâneas em diversas cidades do mundo’, em embaixadas, consulados e empresas dos EUA. Nesse dia, as organizações sociais pretendem entregar às autoridades estadunidenses uma carta pública direcionada ao governo e aos parlamentares daquele país.
A carta também está disponível para a adesão de assinaturas. No documento, os movimentos populares exigem do governo de Donald Trump o respeito ao direito internacional e a autodeterminação do povo venezuelano. O texto rejeita ainda as sanções adotadas pelo governo estadunidense contra autoridades da Venezuela, em uma clara tentativa de intervir na realização da Assembleia Nacional Constituinte no país.
“Condenamos qualquer tentativa ilegal, violenta e inconstitucional de derrubar o governo democraticamente eleito de Nicolás Maduro”, diz um trecho da carta que ainda defende o diálogo e a diplomacia como forma de resolver as divergências que possam existir em os governos dos Estados Unidos e da Venezuela.
Contexto
No último dia 30 de julho, foi realizada a eleição para uma Assembleia Nacional Constituinte, convocada pelo governo de Nicolás Maduro, como uma forma de resolver a crise política do país. Com uma Assembleia Nacional em desacato, e frente ao recrudescimento da violência dos grupos de oposição, o governo venezuelano convocou o povo, de maneira soberana, a decidir sobre seu futuro.
A oposição se negou a participar do processo eleitoral, no qual votaram mais de oito milhões de eleitores. Enquanto isso, seus líderes têm feito constantes chamados à intervenção estrangeira no país, o que fere de morte o princípio de soberania, independência e autodeterminação do povo da Venezuela.
Leia abaixo a íntegra do “Manifesto pela paz na Venezuela”, publicado pelo Comitê de Solidariedade pela Paz na Venezuela:
Manifesto pela paz na Venezuela
O povo venezuelano, livre e soberano, retomou em suas mãos o poder originário, elegendo massivamente representantes para a Assembleia Nacional Constituinte.
Mais de oito milhões compareceram às urnas, apesar do boicote e da sabotagem de grupos antidemocráticos, em um processo acompanhado por personalidades jurídicas e políticas internacionais que atestaram lisura e transparência.
Todas as cidades, classes e setores estão presentes, com seus delegados, na máxima instituição da democracia venezuelana.
A Constituinte é o caminho para a paz e a normalidade, para retomar o caminho do desenvolvimento e da prosperidade, para superar a crise institucional e construir um programa que reunifique a pátria vizinha.
De forma pacífica e democrática, milhões de cidadãos e cidadãs disseram não aos bandos terroristas, às elites mesquinhas, aos golpistas e à ingerência de outros governos.
Homens e mulheres de bem, no mundo todo, devem celebrar esse gesto histórico de autodeterminação da Venezuela, repudiando as ameaças intervencionistas e se somando a uma grande corrente de solidariedade.
Também no Brasil se farão ouvir as vozes que rechaçam a violência e a sabotagem contra o governo legítimo do presidente Nicolás Maduro.
Qual moral tem um usurpador como Michel Temer para falar em democracia, violando a própria Constituição de nosso país, ao adotar posições que ofendem a independência venezuelana?
O Brasil não pode passar pela infâmia de se aliar a governos que conspiram contra uma nação livre e se associam a facções dedicadas a tomar o poder de assalto, apelando para o caos e a coação.
Convocamos todos os brasileiros e brasileiras à defesa da democracia e da autodeterminação de nossos irmãos venezuelanos, ao seu direito de viver em paz e a definir o próprio destino.
Repudiamos as manobras de bloqueio e agressão que estão sendo tramadas nas sombras da Organização dos Estados Americanos (OEA), sob a batuta da Casa Branca e com a cumplicidade do governo golpista de nosso país.
Denunciamos o comportamento repulsivo dos meios de comunicação que manipulam informações e atropelam a verdade, para servir a um plano de desestabilização e isolamento.
Declaramos nossa solidariedade ao bravo povo de Bolívar. Sua luta pela paz também é nossa.
COMITÊ BRASILEIRO PELA PAZ NA VENEZUELA
São Paulo, 01 de Agosto de 2017
PRIMEIRAS ADESÕES:
Articulação brasileira dos movimentos sociais da ALBA
Brasil de Fato
Campanha Brasil Justo para todos e para Lula
Revista Caros Amigos
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB
Central Única dos Trabalhadores – CUT
Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz – Cebrapaz
Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
Conselho Mundial da Paz – CMP,
Consulta Popular
Democracia no Ar
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC
Fundação Perseu Abramo
Instituto Astrojildo Pereira
Intersindical – Central da Classe Trabalhadora
Levante Popular da Juventude
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
Partido Comunista do Brasil – PCdoB
Partido dos Trabalhadores – PT
Resistência
Sindicato dos Arquitetos
Sindicato dos Bancários de Santos
União Brasileira de Mulheres – UBM
União Brasileira dos Estudantes Secundaristas – UBES
União da Juventude Socialista – UJS
União Nacional dos Estudantes – UNE.
Confira aqui a Carta Pública “Sobre vossa ingerência nos assuntos internos da Venezuela”, dirigida ao governo dos Estados Unidos da América e aos congressistas e organizações do povo estadunidense.
Leia também a circular divulgada pela Articulação de Movimentos Populares da ALBA Brasil.