Bancada ruralista tem poderes para derrubar ou manter presidentes

Comitê Brasileiro de Defensores dos Direitos Humanos analisa atuação da bancada em defesa de interesse particulares, e públicos. "O Congresso tem suas mesas manchadas de sangue"

Da Rede Brasil Atual 
Da Página do MST 

“A bancada ruralista não está lá pelo interesse público. O que vivemos não é bem uma democracia. O Congresso tem suas mesas, suas pautas e suas gravatas manchadas de sangue.” As palavras foram ditas pelo geógrafo e jornalista do portal De Olho nos Ruralistas Alceu Castilho, que participou ontem (26), como testemunha de acusação contra práticas espúrias do Congresso Nacional, do Tribunal Tiradentes.

O jornalista apresentou um conjunto de dados coletados pelo Comitê Brasileiro de Defensores dos Direitos Humanos, divulgados ontem, que revelam aspectos que orientam a ação da bancada ruralista em âmbito nacional. O primeiro ponto levantado por Castilho o aumento da violência política. “Em 2017 foram 63 assassinatos de defensores dos direitos humanos. Segundo o Comitê, é a maior ofensiva desde os anos 1980. Em 2016 foram 61 assassinatos por motivos políticos. No primeiro semestre deste ano, já foram 51 mortes.”

“O Comitê atribui a parlamentares parte da responsabilidade, cita a CPI da Funai e do Incra, criada pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Cita projetos que contribuem para esse caldeirão de violência. Isso, diante de um governo que extinguiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário e paralisou a reforma agrária”, disse. “Resumo: temos um banho de sangue no Brasil que passa por Brasília.”

De acordo com levantamento do jornal Folha de S.Paulo, o governo de Michel Temer (PMDB) já aprovou 13 das 17 pautas dos ruralistas. Entre elas: nenhuma homologação de terras indígenas, paralisação de demarcação de terras quilombolas, redução e parcelamento da dívida de deputados ruralistas, liberação de agrotóxicos, venda de terras para estrangeiros e lei da grilagem. “Temer costuma frequentar a mansão onde esses parlamentares se reúnem em Brasília”, afirma Castilho.

Democracia em xeque

O apoio de Temer aos ruralistas se reflete em sua base de sustentação, o que para o jornalista é sintoma de que a democracia brasileira não possui efetividade nem representatividade no Congresso. “Não à toa, 80% dos membros da FPA votaram contra a Dilma na votação do impeachment em 2016 e a favor de Temer em agosto deste ano, réu por corrupção passiva.”

“A bancada ruralista derruba e mantém presidente. Cruzei todos os dados possíveis das votações do impeachment de Dilma e do processo contra Temer. Conclusão um: 50% dos votos que derrubaram Dilma por pedaladas fiscais saíram da FPA. E tem ruralista que nem está nesta frente. Conclusão dois: 51% dos votos que mantiveram Temer, réu, saíram da FPA (…) A FPA tem o poder de tirar e manter presidente. Não por nenhuma outra coisa que conste dos autos, mas sim por seus interesses”, disse.

Conflito de interesses

De acordo com o estudo do “De Olho nos Ruralistas”, Temer frequenta a mansão mantida pela bancada. “A bancada ruralista se move por interesses privados, isso está na sua matriz, na sua origem. Começa com o financiamento da mansão onde eles se reúnem todas as terças-feiras. Essa mansão é financiada por um instituto chamado Pensar Agro, entidade privada financiada por associações da soja, do milho, entre outras”, disse.

“Ali, fazem um almoço, onde discutem o que chamam de ‘cardápio da semana’. Pode ser uma nova lei de destruição ambiental, ou de liberação de agrotóxicos, de transgênicos ou uma CPI como a da Funai. Ou mesmo um projeto que regulariza a grilagem, ou a destruição do cerrado e da Amazônia (…) Eles chegam a expulsar jornalistas nessas reuniões, aqueles que não fazem perguntas simpáticas ao agronegócio. Isso aconteceu comigo em novembro”, completa.

Os dados completos levantados podem ser consultados na página De Olho nos Ruralistas na internet, bem como os 124 deputados que derrubaram Dilma e salvaram Temer.