Agroecologia: uma luta em defesa da vida
Por Wesley Lima
Da Página do MST
Fotos: Via Campesina
Estão enganados aqueles que consideram a agroecologia apenas como um conjunto de técnicas utilizadas no manejo produtivo. Segundo Rilma Roman, da Associação Nacional de Trabalhadores Pequenos (ANAP) de Cuba, a produção agroecológica é um modo de vida, e mais, um “modo de lutar e de resistir ao capitalismo”.
Essas questões abriram as discussões desta quinta-feira (28) do Seminário Continental dos Processos de Formação em Agroecologia, da Via Campesina, na Escola Nacional Florestán Fernandes (ENFF), em Guararema (SP).
As atividades do seminário sistematizam o acúmulo teórico e prático dos movimentos e organizações, vivenciado no debate sobre agroecologia. Nesse sentido, uma mesa composta por Rilma e Peter Rosset, técnico militante da Secretaria Operativa Internacional da Via Campesina, apontou a trajetória dessas discussões nos diversos espaços de articulação, formação e luta, sem perder de vista as experiências que aglutinam esse processo, como é o caso dos Institutos de Agroecologia Latino-Americano (IALAs) espalhados pelo continente.
Peter destacou no início de sua fala que a agroecologia é um modelo que se contrapõe a lógica de produção do agronegócio, considerado como um “modelo de morte”, pois destrói a natureza, invade os territórios e explora o trabalhador e trabalhadora. Por outro lado, a agroecologia, segundo ele, possui como base a defesa da vida no campo, a transformação coletiva, o respeito ao modo de ser e viver, apontando a luta política pela conquista da terra e da soberania alimentar.
Nesse sentido, foi feito um resgate das diversas atividades que a Via Campesina tem construído para fomentar a prática agroecológica. Exemplo disso, foram as campanhas das sementes, a construção de uma Comissão da Agricultura Camponesa Sustentável, encontros, cursos e congressos, ambos com caráter auto-organizativo dando a linha política e formulando a partir da perspectiva dos povos indígenas, camponês e trabalhadores da cidade.
“Estamos fazendo uma ‘sopa’ com vários ingredientes saborosos e construindo um processo de diálogo importante para avançarmos na luta”, explica Peter, ao afirmar que os trabalhos e estudos começaram com 45 processos agroecológicos e hoje, mais de 300 experiências são vivenciadas. “Por isso, a importância da escolarização e formação política. De camponês para camponês, uma de nossas tarefas é a de potencializar essas experiências e garantir a realização de um intercâmbio”, afirma.
Nessa perspectiva, Rilma acredita que cada processo construído dentro da Via Campesina é forte e necessário. “Temos uma grande responsabilidade no continente americano, pois precisamos pensar como vamos conectar todos os processos de formação formais ou informais”.
O debate apontou ainda a importância da participação das mulheres e da juventude nos processos produtivos, para fortalecerem os elementos políticos que constituem o acúmulo coletivo da Via acerca da agricultura camponesa, da soberania alimentar, na construção de uma rede de formadores, nos intercâmbios, na elaboração de materiais de estudo, no acesso as políticas públicas e, principalmente, nas ações dirigidas e formação de opinião pública.
Agroecologia na prática
Na prática, os IALAs são experiências que têm aglutinado os elementos políticos debatidos sobre a agroecologia e têm formado camponeses e camponesas a partir de um método educativo popular, coletivo e horizontalizado.
Ao contextualizar o momento histórico que a América Latina viveu para construção dos espaços de formação, Ayala Ferreira, da Direção Nacional do MST, diz que as escolas de agroecologia se formaram num período de protagonismo das lutas populares no ciclo da hegemonia neoliberal no continente. Ou seja, num período de composição de governos &”39;populares&”39;. “Porém, nesse mesmo período, o agronegócio se fortaleceu, deixando claro o papel político e emergencial que as escolas teriam”.
“A construção de nossas escolas foi feita com nossas próprias mãos. São produto dos nossos esforços que compõe a Via Campesina”. E continua: “percebemos que o acesso à tecnologia nesse campo de disputa é difícil e que a formação em agroecologia é mais difícil ainda. Por isso, refletirmos acerca da perspectiva de formação que queremos implementar”.
Mesmo dialogando sobre as dificuldades, Ayala diz que existem duas ideias muito fortes que impulsionam os processos. A primeira é o desejo e a força de vontade militante para construir o debate; e a outra, o desafio de massificar o movimento agroecológico, pensando numa verdadeira transformação dos territórios.
“Temos percebido que nossas construções se materializam em experiências diversas, porém com fundamentos comuns, como o processo histórico, os desafios para o camponês e a formação dos sujeitos”, analisa.
Hoje, só na América do Sul, sete escolas de agroecologia, em diferentes países, têm tocado o desafio da formação técnica e política de maneira permanente, sem contar as diversas comunidades e espaços construídos no continente que abarcam essas discussões cotidianamente nos distintos territórios.
Do Brasil à Venezuela encontramos elementos que aproximam as experiências, que vão desde o exercício prático com as localidades onde estão inseridas, até a integração latino-americana como um princípio revolucionário.
*Editado por Leonardo Fernandes