Sem veneno: acampamento do MST entrega alimentos à população de Passo Fundo, no RS

Famílias acampadas nas proximidades da BR-386 produzem orgânicos desde 2014 para subsistência e para vender na cidade
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Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

Para propiciar mais saúde e qualidade de vida aos consumidores, o Acampamento Terra e Vida do MST, localizado nas proximidades da BR-386 no Rio Grande do Sul, está intensificando a entrega de alimentos saudáveis para a cidade de Passo Fundo, na região Norte do estado. Uma das mais recentes entregas foi feita ao Grupo de Mulheres ‘Buscando Vitória’, que recebeu este mês 100 unidades de alface crespa e 200 maços de temperos com cebolinha e salsinha.

Os alimentos são produzidos sem agrotóxicos, em estufas, numa área de 500 metros quadrados. Os Sem Terra buscam agora a ampliação do local plantado, o cadastro de produtor rural, como já ocorre com acampados no Paraná, e a certificação orgânica da produção.

Conforme o camponês Everton Scherner, a ideia também é aumentar as variedades de produtos para vender, criar uma feira ecológica na cidade e consolidar novos grupos de consumidores. “Os orgânicos estão sendo vendidos no mercado a um preço muito alto, tornando-se inacessíveis aos trabalhadores. A nossa intenção é que chegue a eles alimentos limpos, de forma direta e com preços acessíveis”, declara o acampado.

As famílias começaram a vender frutas, verduras e legumes orgânicos em pequenas quantidades em 2014, mesmo ano em que ocuparam a fazenda ligada ao advogado Maurício Dal Agnol. No local, foi montado o Acampamento Terra e Vida, que hoje comercializa alimentos ao Sindicato dos Metalúrgicos, à ONG Amor e a outros grupos de consumo de Passo Fundo. 

“Queremos contribuir com os companheiros do MST na sua independência de sobrevivência e sua auto sustentação. E, neste sentido, a produção orgânica, que está sendo levada às comunidades e aos bairros, é vista com muito bons olhos por nós. Por isto, já desenvolvemos um grupo de consumo na direção”, explica o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Ailton Araújo.

Entre os alimentos produzidos de forma ecológica para a subsistência das famílias estão feijão, mandioca, batata-doce, amendoim, pipoca, alho, cebola, repolho, couve, brócolis, chuchu, moranga, abóbora e milho. No acampamento também tem galinha, suíno, coelho, ganso, pato, cavalo e cabrito. Para potencializar a venda com mais diversidade, os acampados vão começar a produzir morango, tomate, rúcula e cenoura.

Segundo o agroecólogo e acampado Antônio Prestes Braga, o modelo de produção do acampamento envolve a diminuição da penosidade no trabalho através da inserção nos processos produtivos de pequenos equipamentos, como microtrator, enxada rotativa para preparação do solo e carreta agrícola para transporte dos produtos. “Isto possibilita a redução do período de trabalho e, consequentemente, mais tempo para o trabalhador se dedicar a outras atividades que envolvem lazer, família e luta”, complementa.

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A área ocupada

A área onde os Sem Terra montaram o Acampamento Terra e Vida é ligada ao advogado Maurício Dal Agnol, que num período de 15 anos aplicou um golpe milionário em cerca de 30 mil clientes que venceram ações judiciais contra empresas telefônicas no Rio Grande do Sul. Segundo informações divulgadas em 2014 pela Polícia Federal, à época ele era proprietário de centenas de imóveis, inclusive um apartamento de quase R$ 14 milhões em Nova York.

As famílias do MST, oriundas das regiões Norte, Serrana, Centro e Alto Uruguai do estado, ocuparam o local em 2014, numa mobilização conjunta para defender os direitos das vítimas de Dal Agnol e exigir a desapropriação da fazenda de 350 hectares para a Reforma Agrária. Hoje, os acampados vivem num espaço de seis hectares, mas eles têm o controle de mais 90 hectares – 30% desta área é composta de mata nativa. 

De acordo com o Ministério Público, o advogado teria lucrado mais de R$ 100 milhões em causas que defendia contra empresas telefônicas – em algumas situações os seus clientes ganhavam entre R$ 300 a R$ 400 mil. Dal Agnol foi acusado de se apropriar de 90% do valor. Ele deve mais de R$ 31 milhões à Fazenda Nacional e tem todos os seus bens bloqueados pela justiça.