A luta pela educação no Assentamento Terra Vista

As conquistas em torno dessa experiência educativa farão parte do 19º Encontro Estadual dos Educadores e Educadoras da Reforma Agrária
02 - curso Técnico em agropecuária no Assentamento Terra vista.jpg
Turma do curso técnico em agropecuária no assentamento Terra Vista

Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST

Durante a trajetória de lutas e conquistas dos povos, um dos maiores desafios foi e continua sendo, a conquista da educação para além dos muros das escolas. No Assentamento Terra Vista, localizado em Arataca, no Sul da Bahia, não foi diferente.

Entre 1992 e 94, a partir da construção de um acampamento, os primeiros passos em busca de uma educação de qualidade no campo foram dados e com a conquista da área, os processos de luta por uma educação de caráter emancipatório tiveram centralidade na comunidade.

Foi nessa perspectiva, que o Centro Integrado Florestan Fernandes e o Centro de Educação Profissional da Floresta do cacau e do chocolate Milton Santos foram construídos para atender as famílias assentadas e acampadas da região, assim como, moradores de comunidades rurais e urbanas localizadas nas proximidades.

06 - centro estadual de educação profissional do campo milton santos.jpg
Centro estadual de educação profissional do campo Milton Santos

Uma história construída por várias mãos

No período de emissão de posse, as famílias acampadas decidiram que ao conquistar a terra iriam construir uma escola para os filhos e filhas serem “doutores”.

A história da educação no assentamento não é diferente de outras áreas do MST. Isso quer dizer que logo após o acampamento ser consolidado, o melhor espaço da casa da fazenda ou o melhor barraco de lona preta foi destinado para escola. “Isso mostra a preocupação da organização com a educação de suas crianças e no Terra Vista não foi diferente”, explica Solange Brito, da coordenação do assentamento.

Solange conta também que a luta, pela construção das escolas no assentamento, teve início quatro anos depois que as famílias se assentaram. “Após muitas reivindicações do MST foi possível conquistar em 1998 a escola de educação básica que recebeu o nome de Centro Integrado Florestan Fernandes, atendendo os níveis da educação infantil, do ensino fundamental I, do ensino fundamental II e Educação de Jovens e Adultos (EJA)”.

Após estruturar a escola de ensino fundamental, o assentamento iniciou outra luta.  As famílias assentadas sentiram a necessidade de construir uma escola que atendesse o ensino médio na comunidade.  Nesse sentido, em conjunto com outras comunidades da região, foram em busca de uma escola que ofertasse o ensino médio no assentamento.

A iniciativa se deu com a construção de uma escola de ensino profissionalizante para atender os filhos de assentados e oferecer educação a toda sociedade que assim desejasse estudar no assentamento. Desta forma, a escola foi inaugurada em 30 de novembro 2010 com o nome de Colégio Estadual Milton Santos, logo depois foi alterado para “Centro Estadual de Educação Profissional do Campo Milton Santos e atualmente chama-se Centro Estadual de Educação Profissional da Floresta do Cacau e do chocolate Milton Santos. “Foi o primeiro centro temático do Campo criado no estado”, afirma Solange.

05 - Centro Integrado Florestan Fernandes.png
Centro Integrado Florestan Fernandes

Experiências que deram certo

Hoje, a escola abrange cerca de oito municípios do Território Litoral Sul e forma profissionais na área de Agroecologia, Meio Ambiente, Zootecnia, Informática, Agroindústria, Segurança do Trabalho, Alimentos e os cursos em alternância de Técnico em agroecologia (PROEJA  e PROSUB) para os povos indígenas, quilombolas, pequenos agricultores, assentados, acampados, moradores de bairros das cidades atendidas e defensores da agroecologia.

Já o Centro Integrado Florestan Fernandes não atende apenas a educação infantil e do ensino fundamental I e II, mas também cursos de nível médio, técnico e superior.

O Centro formou a 1ª turma do Curso Técnico em Agropecuária, pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), em 2010, com 35 técnicos para atender a demanda dos assentamentos no estado da Bahia.

A partir dos resultados dessa experiência formou também a 1ª turma de Bacharelado em Engenharia Agronômica, com ênfase em Agroecologia. O curso foi uma parceria com a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), com o Pronera, em 2013. 41 trabalhadores Sem Terra participaram da turma.

Em 2014, o centro formou ainda a 1º turma de Pós-Graduação da Especialização em Agroecologia Aplicada a Agricultura Familiar, no modelo de residência agrária.

Nessa turma, 34 estudantes saíram especialistas para atuarem nos assentamentos e comunidades. Participaram do curso filhos de assentados, técnicos extensionistas da reforma agrária e agricultura familiar.

Intervindo na realidade

Fruto do processo de organização educacional no assentamento, desde 2002 a agroecologia tornou-se a matriz produtiva do Terra Vista.

Diversas atividades vêm sendo desenvolvidas na localidade para fortalecer esse debate, como a Rede de Sementes, com objetivo de realizar trocas com outras localidades,- indígenas, quilombolas e agricultores familiares.

No longo processo de conscientização com os moradores da comunidade e fora dela, o assentamento recuperou a mata ciliar do Rio Aliança, que banha a área, as nascentes foram recuperadas e mantém a preservação de uma área de 313 hectares de Mata Atlântica.

Foi nesse contexto, que o assentamento e as escolas lutam por uma educação que tenha como base a transformação do sujeito. “Uma educação para o trabalho, com a premissa de que o conhecimento é construído nas ações e discussões coletivas. Uma escola para o trabalho emancipatório, com processos de formação permanente. Uma escola que dialogue com a natureza”, conclui Solange.

00 - Primeira turma de alunos do acampamento.jpg
Primeira turma de alunos do acampamento

Encontro estadual

As conquistas em torno dessa experiência educativa, assim como a de diversos assentamentos e acampamentos do MST no estado da Bahia, farão parte do 19º Encontro Estadual dos Educadores e Educadoras da Reforma Agrária que acontecerá entre os dias 26 e 28/10, no Jequitaia, em Salvador.

Cerca de 400 educadores populares são esperados para debaterem os desafios e perspectivas na construção de uma educação pública, popular e socialista.