A luta pela educação no Assentamento Terra Vista
Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST
Durante a trajetória de lutas e conquistas dos povos, um dos maiores desafios foi e continua sendo, a conquista da educação para além dos muros das escolas. No Assentamento Terra Vista, localizado em Arataca, no Sul da Bahia, não foi diferente.
Entre 1992 e 94, a partir da construção de um acampamento, os primeiros passos em busca de uma educação de qualidade no campo foram dados e com a conquista da área, os processos de luta por uma educação de caráter emancipatório tiveram centralidade na comunidade.
Foi nessa perspectiva, que o Centro Integrado Florestan Fernandes e o Centro de Educação Profissional da Floresta do cacau e do chocolate Milton Santos foram construídos para atender as famílias assentadas e acampadas da região, assim como, moradores de comunidades rurais e urbanas localizadas nas proximidades.
Uma história construída por várias mãos
No período de emissão de posse, as famílias acampadas decidiram que ao conquistar a terra iriam construir uma escola para os filhos e filhas serem “doutores”.
A história da educação no assentamento não é diferente de outras áreas do MST. Isso quer dizer que logo após o acampamento ser consolidado, o melhor espaço da casa da fazenda ou o melhor barraco de lona preta foi destinado para escola. “Isso mostra a preocupação da organização com a educação de suas crianças e no Terra Vista não foi diferente”, explica Solange Brito, da coordenação do assentamento.
Solange conta também que a luta, pela construção das escolas no assentamento, teve início quatro anos depois que as famílias se assentaram. “Após muitas reivindicações do MST foi possível conquistar em 1998 a escola de educação básica que recebeu o nome de Centro Integrado Florestan Fernandes, atendendo os níveis da educação infantil, do ensino fundamental I, do ensino fundamental II e Educação de Jovens e Adultos (EJA)”.
Após estruturar a escola de ensino fundamental, o assentamento iniciou outra luta. As famílias assentadas sentiram a necessidade de construir uma escola que atendesse o ensino médio na comunidade. Nesse sentido, em conjunto com outras comunidades da região, foram em busca de uma escola que ofertasse o ensino médio no assentamento.
A iniciativa se deu com a construção de uma escola de ensino profissionalizante para atender os filhos de assentados e oferecer educação a toda sociedade que assim desejasse estudar no assentamento. Desta forma, a escola foi inaugurada em 30 de novembro 2010 com o nome de Colégio Estadual Milton Santos, logo depois foi alterado para “Centro Estadual de Educação Profissional do Campo Milton Santos e atualmente chama-se Centro Estadual de Educação Profissional da Floresta do Cacau e do chocolate Milton Santos. “Foi o primeiro centro temático do Campo criado no estado”, afirma Solange.
Experiências que deram certo
Hoje, a escola abrange cerca de oito municípios do Território Litoral Sul e forma profissionais na área de Agroecologia, Meio Ambiente, Zootecnia, Informática, Agroindústria, Segurança do Trabalho, Alimentos e os cursos em alternância de Técnico em agroecologia (PROEJA e PROSUB) para os povos indígenas, quilombolas, pequenos agricultores, assentados, acampados, moradores de bairros das cidades atendidas e defensores da agroecologia.
Já o Centro Integrado Florestan Fernandes não atende apenas a educação infantil e do ensino fundamental I e II, mas também cursos de nível médio, técnico e superior.
O Centro formou a 1ª turma do Curso Técnico em Agropecuária, pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), em 2010, com 35 técnicos para atender a demanda dos assentamentos no estado da Bahia.
A partir dos resultados dessa experiência formou também a 1ª turma de Bacharelado em Engenharia Agronômica, com ênfase em Agroecologia. O curso foi uma parceria com a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), com o Pronera, em 2013. 41 trabalhadores Sem Terra participaram da turma.
Em 2014, o centro formou ainda a 1º turma de Pós-Graduação da Especialização em Agroecologia Aplicada a Agricultura Familiar, no modelo de residência agrária.
Nessa turma, 34 estudantes saíram especialistas para atuarem nos assentamentos e comunidades. Participaram do curso filhos de assentados, técnicos extensionistas da reforma agrária e agricultura familiar.
Intervindo na realidade
Fruto do processo de organização educacional no assentamento, desde 2002 a agroecologia tornou-se a matriz produtiva do Terra Vista.
Diversas atividades vêm sendo desenvolvidas na localidade para fortalecer esse debate, como a Rede de Sementes, com objetivo de realizar trocas com outras localidades,- indígenas, quilombolas e agricultores familiares.
No longo processo de conscientização com os moradores da comunidade e fora dela, o assentamento recuperou a mata ciliar do Rio Aliança, que banha a área, as nascentes foram recuperadas e mantém a preservação de uma área de 313 hectares de Mata Atlântica.
Foi nesse contexto, que o assentamento e as escolas lutam por uma educação que tenha como base a transformação do sujeito. “Uma educação para o trabalho, com a premissa de que o conhecimento é construído nas ações e discussões coletivas. Uma escola para o trabalho emancipatório, com processos de formação permanente. Uma escola que dialogue com a natureza”, conclui Solange.
Encontro estadual
As conquistas em torno dessa experiência educativa, assim como a de diversos assentamentos e acampamentos do MST no estado da Bahia, farão parte do 19º Encontro Estadual dos Educadores e Educadoras da Reforma Agrária que acontecerá entre os dias 26 e 28/10, no Jequitaia, em Salvador.
Cerca de 400 educadores populares são esperados para debaterem os desafios e perspectivas na construção de uma educação pública, popular e socialista.