Encontro estadual reúne representantes de 23 cooperativas do MST no RS
Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST
As crises que afetam principalmente a classe trabalhadora após o golpe contra a democracia brasileira, que colocou Michel Temer (PMDB) na presidência da República, têm levado o Movimento Sem Terra no Rio Grande do Sul a organizar suas cadeias produtivas para garantir às famílias assentadas renda, trabalho e qualidade de vida no campo. Neste sentido, nos dias 24 e 25 deste mês, foi realizado o Encontro Estadual das Cooperativas do MST no Assentamento Filhos de Sepé, localizado no município de Viamão, na região Metropolitana de Porto Alegre.
De acordo com a coordenadora do Setor Estadual de Produção do MST, Salete Carollo, o intuito do evento, que reuniu representantes de 23 cooperativas, foi avaliar o que foi feito nos últimos anos na área da produção, além de pensar estratégias de gestão e comercialização para impulsionar as cadeias produtivas do arroz, leite, suco, sementes, feijão e farinha nos assentamentos. “Temos capacidade de produzir e processar, mas temos um gargalo que é a questão do mercado. A nossa missão é atingir o mercado local, seja via tradicional ou institucional. Por isto estamos aprofundando o tema da comercialização e definindo como fortalecer de forma articulada e organizada a venda dos nossos produtos”, explica.
Desde que Temer assumiu oficialmente o governo federal, em agosto do ano passado, o desmonte de políticas públicas consideradas fundamentais para incentivar a produção da agricultura familiar e dos assentamentos, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), ocorre de forma acelerada. Uma das mais recentes medidas considerada “perversa” pelos trabalhadores do campo é a proposta do Orçamento para a política de Reforma Agrária e a agricultura familiar para 2018. Em relação a 2017, os recursos para assistência técnica aos assentados caem de R$ 85,403 milhões para R$ 12,636 milhões (85,2%) e para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) passam de R$ 318,627 milhões para R$ 750 mil (corte de 99,8%).
Para Cedenir de Oliveira, dirigente estadual do MST, nesta conjuntura de retirada de direitos e de crises política, social e econômica, quem mais perde é a classe trabalhadora. Por isto, segundo ele, este momento exige organização social e construção de resistência popular, sendo as cooperativas fundamentais para garantir a sobrevivência das famílias assentadas e o desenvolvimento das cadeias produtivas nos territórios conquistados. “Neste pouco período de golpe tem ocorrido o aumento da violência, da miséria e da fome de forma muito rápida. Ainda hoje há pessoas no país que moram no campo e passam fome, porque tem um cenário local e regional que impede o processo de desenvolvimento. Neste contexto, as cooperativas têm um papel importante na organização das famílias assentadas, porque isto lhes dá condição de resistência para encarar este momento difícil, permanecer no campo e viver com dignidade”, destaca.
Estratégia comercial
Para driblar as crises e fazer chegar à mesa da sociedade brasileira os produtos da Reforma Agrária, com preço justo e acessível, durante o encontro foram debatidas as estratégias comerciais e de gestão que irão nortear os trabalhos das cooperativas e das famílias assentadas nos próximos anos.
Conforme o coordenador da Frente Estadual de Comercialização do MST, Leodimar Ferreira, parte das grandes experiências do Movimento na produção de panifícios, laticínios, grãos, sucos e sementes de hortaliças já está inserida no mercado tradicional e institucional. Entretanto, se passará a investir também em feijão e farinha. “São duas cadeias importantes que vão transitar do convencional para o orgânico. Já há uma base produtiva, mas falta organizar a indústria, a certificação e o processo de logística”, complementa Ferreira.
Entre as medidas apontadas para impulsionar o desenvolvimento das produções também está o tensionamento para garantir a execução do PNAE e do PAA, o acompanhamento permanente das cooperativas na área de gestão por parte da Cooperativa Central dos Assentamentos do RS (Coceargs) e a inserção de mais famílias assentadas em feiras locais. “As feiras são espaços de comercialização e de diálogo do MST com a sociedade. Nós temos o desafio enorme de potencializá-las nas regiões e de construir coletivamente como entrar num mercado mais justo e solidário”, acrescenta Ferreira.
Encontro Nacional
Nos meses de novembro e dezembro o Assentamento Filhos de Sepé sediará o Encontro Nacional das Cooperativas do MST. Segundo Salete, o evento vai abordar novamente os temas da organização das cadeias produtivas e a comercialização dos alimentos da Reforma Agrária. Além disto, trará o debate da soberania alimentar e o Projeto da Reforma Agrária Popular.
Editado por Maura Silva