Alfabetizar é emancipar
Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST
Sem educação não há Reforma Agrária Popular. A construção desse princípio é um dos desafios debatidos cotidianamente pelos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra, que ainda convivem com os altos de índices de analfabetismo e o não acesso à educação de qualidade no campo.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE) divulgados em 2015, no Brasil cerca de 13 milhões de pessoas não sabem ler ou escrever. Isso corresponde a 8,3% da população total.
No extremo sul da Bahia, esses dados são reafirmados, tendo em vista, que de acordo com o último senso levantado pela Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, também de 2015, cerca de 20% da população adulta e idosa nas áreas de Reforma Agrária não foram alfabetizadas.
Diante disso, ao longo dos 30 anos de luta e organização do MST na Bahia, a ocupação do latifúndio agrário foi seguida pela ocupação do “latifúndio do saber”. Isso se refletiu na construção de escolas e de um amplo processo de formação às famílias assentadas e acampadas em todo estado. Porém, alfabetizar foi o primeiro passo.
“Vivemos em mundo letrado e portanto, existe uma necessidade coletiva de conhecermos as letras. Neste contexto, as desigualdades se acentuam, já que a educação não foi pensada para classe trabalhadora”, explica Eliane Kai, do setor de educação do MST.
“Nossa tarefa é levar a escolarização a todos e todas, pois entendemos que ao ler e escrever o sujeito entende o mundo de outra forma, questiona de outra forma e defende seus direitos de outra forma”.
Kai destaca ainda, que o processo de alfabetização cumpre um papel importante na ocupação do latifúndio, por ser um dos primeiros passos que dão vazão à construção de sujeitos emancipados. “Reafirmamos que a leitura e escrita são instrumentos de emancipação e se dão na formação humana com intensões bem definidas, como a de questionar a realidade imposta pelo capital”.
“Que valores? Que ideologia? Que transformação?”, essas questões são apontadas por Djacira Araújo, também do setor de educação do MST, ao pensar a leitura e escrita como instrumentos indispensáveis de emancipação e construção de sujeitos.
“Estamos falando de uma construção social do ser humano, que está vinculada a linguagem, ao desenvolvimento humano, ao ponto de vista da oralidade, mas também no campo da expressão”.
Nesse sentido, Araújo comenta que aprender a ler e escrever tem um papel na memória histórica que é fundamental para o desenvolvimento social. “Precisamos pensar esses elementos, que são carregados de cultura, mas também, focar nos sistemas de linguagem. Isso quer dizer que as palavras carregam ideologia e é importante para emancipação. Porém, não podemos esquecer, que também pode ser utilizada para não emancipação”.
Ela conclui e destaca ainda que se apropriar desses elementos e colocá-los na perspectiva da transformação de mundo, de maneira igualitária, é o caminho e instrumento para construir sujeitos coletivos e emancipados.