Violência no Pará: a parte que te cabe neste latifúndio
Por Júlia Dolce, de Marabá, no Pará
Do Brasil de Fato
“Aqui o poder é que impera, o latifúndio está ‘se achando’”. Com esta frase, o Sem Terra conhecido como Marx começa a entrevista na ocupação Hugo Chávez, do MST, na zona rural de Marabá, no Pará. A ocupação é uma das 20 que estão sob ameaça de despejo no Sudeste do estado.
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De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), somente nesta região houve um aumento de 53% no número de conflitos por terra em 2016, na comparação com o ano anterior. Isso representa um total de 55 conflitos envolvendo 8.127 famílias.
Ainda de acordo com a organização, houve um agravamento dos casos em 2017. Os dados parciais indicam 20 assassinatos no Pará e 64 no Brasil, até o momento. No ano passado, 61 assassinatos foram registrados no país, sendo seis no Pará.
Juntas, as regiões Sul e Sudeste do estado têm hoje, pelo menos, 160 disputas por terra, com 14 mil pessoas envolvidas.
Diante desse cenário, as milhares de famílias que vivem em acampamentos e assentamentos na região estão cada vez mais ameaçadas. O exemplo mais emblemático é o do massacre que ocorreu na pequena cidade de Pau D’Arco, há exatos seis meses, vitimando dez trabalhadores rurais. E ainda fica na memória o de Eldorado dos Carajás, que ocorreu na mesmo região, em 1996, quando 21 sem-terra foram assassinados.
O retorno da forte violência no campo está diretamente relacionado ao golpe vivido no país. É o que opina a dirigente estadual do MST, Izabel Rodrigues Lopes Filho, que há 25 anos luta pela reforma agrária. “O momento mais marcante foi Eldorado dos Carajás, mas, em termos de dificuldades na luta pela terra e pela reforma agrária, agora está pior do que nunca”, disse.
Segundo o advogado da CPT José Batista Afonso, medidas implementadas pelo governo golpista de Michel Temer (PMDB) reforçam a impunidade e dão “carta branca” aos latifundiários. Ele cita algumas destas, como o fim do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), cortes no orçamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), além de ações que prejudicam o combate ao trabalho escravo e flexibilizam a regulação fundiária.
“Com isso, o governo fechou a possibilidade de solução de conflitos, deixou que o latifúndio resolvesse por conta própria, empregando seus meios violentos para expulsar famílias e reconquistar as propriedades ocupadas”, afirmou.
Para reportar esse cenário, o Brasil de Fato visitou ocupações ameaçadas e vítimas de violações no Sul e no Sudeste do Pará, historicamente uma das regiões mais violentas em conflitos agrários no país. No especial Violência no Pará: a parte que te cabe deste latifúndio, produzimos quatro reportagens sobre a atual situação dessas comunidades e dos movimentos de luta pela terra no estado, além do histórico de violência da região.
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*Editado por Rafael Soriano