MST abre encontro estadual e aponta Reforma Agrária Popular para superar crises no país

Evento acontece até a próxima sexta-feira (15) e reúne cerca de 800 trabalhadores assentados e acampados na antiga fazenda Annoni.

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Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST
Fotos: Letícia Stasiak

 

Pautado especialmente pela efetivação da Reforma Agrária Popular, o MST do Rio Grande do Sul deu início nesta quarta-feira (13) ao seu 18º Encontro Estadual. O evento, que reúne cerca de 800 acampados e assentados de todas as regiões do estado, acontece no Assentamento 16 de Março, localizado na antiga fazenda Annoni, no município de Pontão, no norte gaúcho.

Segundo Silvia Reis Marques, da Direção Nacional do MST pelo RS, o encontro acontece a cada dois anos com o objetivo de discutir a situação dos acampamentos e assentamentos e de planejar ações para melhorar não apenas a vida das famílias Sem Terra, mas também de toda a sociedade brasileira. Neste sentido, são realizados diversos debates, que vão desde o fortalecimento da luta pela terra e pelos direitos dos trabalhadores, até a organização das famílias na produção de alimentos saudáveis.

“Vivemos tempos difíceis, de aumento do desemprego, de retirada de direitos fundamentais e de paralisia da Reforma Agrária. Nós acreditamos que somente o povo organizado irá combater estes retrocessos. É por isto que, nestes três dias, vamos formular diretrizes e definir ações a fim de pautarmos um novo projeto de sociedade para o país, que é a Reforma Agrária Popular, e para conquistarmos o socialismo. É um momento muito importante para o MST, onde valorizamos a construção coletiva de um planejamento para que todos os trabalhadores vivam em uma sociedade mais justa e igualitária”, explicou.

As análises de conjuntura política e agrária marcaram os primeiros momentos do encontro, que será realizado até a próxima sexta-feira (15), quando terá a posse da nova Direção Estadual do MST. Na mesa de abertura do evento, o economista Guilherme Delgado destacou que nos últimos anos, após o golpe contra a democracia brasileira, houve grande regressão de direitos agrários, sociais e econômicos e um forte avanço do que ele denomina &”39;mercadorização&”39;.

“Querem transformar a terra, a água e os demais recursos naturais em mercadoria. A política de Reforma Agrária e a proteção ao meio ambiente são fortemente afetadas por este processo. Nesta conjuntura, o MST e a sociedade como um todo têm que lutar para colocar o direito constitucional em primeiro lugar e para fazer as transformações sociais que não foram feitas até antes do golpe. É questão de não dar espaço aos retrocessos”, complementou. Delgado ressaltou ainda que o país vive um “momento crítico de ameaças contra os direitos trabalhistas e previdenciários e de legalização ampla da grilagem de terras”.

O coordenador nacional do MST, Gilmar Mauro, também contribuiu com a análise de conjuntura. Ele disse que o mundo enfrenta graves crises política, ambiental, social e econômica e que ocorre uma perda de direitos em “escala planetária”. Além disso, afirmou que há uma ofensiva das forças conservadoras que resulta no assassinato de jovens negros e no crescimento acentuado do fascismo no Brasil.

 

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Gilmar Mauro, da Direção Nacional do MST.

“Estamos vivendo uma crise civilizatória, que deve ser enfrentada em várias frentes. Nesta tarefa, o MST tem o papel importante de colocar o tema da Reforma Agrária Popular para toda a sociedade, porque ela não contempla apenas o Movimento Sem Terra. Temos que discutir com toda a população que tipo de uso queremos dar à terra, à água e aos recursos naturais, além do tipo de alimentação que ela vai querer comer”, argumentou.

Mauro acrescentou ainda que o povo brasileiro precisa enfrentar os retrocessos que vieram com o golpe e se colocar em luta permanente para obter conquistas. “Os tempos de crises são belas oportunidades, porque as contradições se afloram. Mas isto não significa que avançaremos se não fizermos luta. Nossa missão é articular todos os progressistas do Brasil e do mundo para enfrentarmos o fascismo e as crises, para estabelecermos laços societários de solidariedade e ampliarmos a democracia”, concluiu.

Encontro Nacional

O 18º Encontro Estadual faz parte das ações em preparação ao 14º Encontro Nacional do MST, que acontece em janeiro de 2018 no estado de São Paulo. Esta etapa está sendo realizada em todas as regiões do país. No Rio Grande do Sul, além de debater as conjunturas política e agrária e de construir um planejamento para ser executado nos próximos dois anos, o evento traz para debate a violência contra as mulheres e conta com momentos de integração e confraternização entre os Sem Terra e seus amigos. Diversas lideranças e autoridades deverão marcar presença até sexta-feira, entre elas o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Edegar Pretto.

Confira aqui as fotos do primeiro dia do encontro.

 

*Editado por Leonardo Fernandes