‘O campo é o corpo’

Composição é resultado de uma parceria entre o cantor pernambucano Lira e o músico mineiro Dan Maia, para homenagear a inauguração do Campo Dr. Sócrates, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF).
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Os compositores da música O Campo é o corpo, Lira e Dan Maia.

 

Por Leonardo Fernandes
Da Página do MST

 

“O campo de asfalto, o campo do mato, o campo sem dono, o campo cercado, o campo negro, o campo caboclo”. Muitos campos estão retratados nos versos da música &”39;O Campo é o corpo&”39;, uma parceria de dois grandes artistas, o pernambucano Lira e o mineiro Dan Maia. A composição foi criada especialmente para homenagear a construção do Campo Dr. Sócrates Brasileiro, que será inaugurado no próximo sábado (23), na Escola Nacional Florestán Fernandes, em Guararema, São Paulo.

“Essa música é sobre a nossa comunhão com o espaço que ocupamos com nossos corpos, com nossos sonhos e também com a nossa esperança. A bola simboliza a busca por esse espaço, por esse lugar que queremos construir”, afirmou Lira, em entrevista à Página do MST.

A visceralidade do já conhecido timbre de voz do cantor pernambucano agrega sentido e emoção à letra forte que remete a um ritual, segundo o parceiro de Lira na composição e gravação da música, o mineiro de Belo Horizonte, Dan Maia. “Transportamos para o arranjo a ideia do corpo como campo, como se estivéssemos em um ‘toré’ indígena, um ritual sagrado que baliza as diferenças, ao mesmo tempo em que celebra a amizade e o sentimento de coletividade”, afirma. “O desafio de produzir com Lira é alcançar com timbres e música o estado febril que ele atinge ao colocar uma ideia”, destaca.

Cada detalhe da canção foi pensado para evocar, segundo Maia, o jogo, e tudo o que ele representa. “Tem as cordas de um piano, tocadas com baquetas e um rádio sendo sintonizado, remetendo ao estádio, ao jogo ‘oficial’. Acho que assim evocamos ‘todos os campos’ e ‘todos os corpos’, e indo além, ‘todas as lutas’, ‘onde balança a esperança, eterna dança, jogo sem fim’”, completa, citando versos da música.

Um jogo de lutas, como as travadas pelos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra na construção de um novo projeto de país que, para Lira, passa pela tarefa de jogar luz sobre as histórias perdidas de grandes brasileiros e brasileiras, como Sócrates.

“Uma das coisas que mais me impactou quando eu conheci a Escola Nacional Florestán Fernandes foi saber que lá há uma plenária com o nome de Patativa do Assaré, um artista do povo. E essa homenagem ao Dr. Sócrates se soma a diversas outras homenagens que o MST vem fazendo, iluminando essas histórias que fazem parte da história do nosso país, e que muitas vezes são silenciadas pela elite dominante”, destaca.

“Eu tenho um profundo respeito e admiração pelas ações do MST e por esse trabalho de iluminar a nossa memória. A inauguração do campo é uma celebração à memória do Dr. Sócrates, que é um personagem brasileiro que entendeu a mística do futebol na vida coletiva do nosso país e fez da sua presença nesse espaço uma trincheira de luta pela democracia, por um mundo mais solidário”, argumenta Lira, com palavras carregadas de poesia.

A inauguração do Campo Dr. Sócrates Brasileiro acontece no sábado (23) na Escola Nacional Florestán Fernandes e contará com a presença de artistas, intelectuais e políticos convidados, entre eles, Chico Buarque e o ex-presidente Lula. O jogo inaugural do campo, marcado para as 13:30, horário local, será transmitido ao vivo pela Rádio Brasil em Movimento.

 

 

O campo é o corpo
(Lira / Dan Maia)

O campo de asfalto
O campo do mato
O campo sem dono
O campo cercado
O campo negro
O campo caboclo
O corpo que joga
O corpo feroz, hei

O campo de barro
O campo capim
O campo de areia da beira do mar
O campo come
O campo clareia
O corpo de pedra
O corpo de lama, hei

Ô bola, ô bola, ô bola lá
Vai ligeira, vem maneira, vai por mim
Onde balança a esperança
Eterna dança, jogo sem fim
O campo é o corpo

 

 

*Editado por Rafael Soriano