Campo Dr. Sócrates Brasileiro | “A festa foi bonita, pá…”

Mais gente adentrará pelos portões da ENFF e poderá vivenciar outros momentos de estudos, futebol e política

 

Por Rosana Fernandes
Da Página do MST

A Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) é uma escola da classe trabalhadora do mundo, construída por muitas mãos, através da solidariedade nacional e internacional, das doações econômicas ao trabalho voluntário de milhares de pessoas.

A estrutura física da ENFF é intencionalmente planejada para atender a demanda política e pedagógica dos processos formativos que nela são organizados. Nesse sentido, toda a construção existente possibilita o conhecimento individual e/ou coletivo.

Ressalta-se que alguns espaços foram nomeados em homenagens aos intelectuais, às lutadoras e lutadores significativos para a história das lutas e cultura populares, desde a sua atuação direta ou pela capacidade de análise e contribuição teórica. Alguns exemplos são os auditórios Pagu, Patativa do Assaré, Rosa Luxemburgo, bliblioteca Antônio Cândido, casa de artes Frida Kahlo, ciranda infantil Saci Pererê, refeitório Josué de Castro, dentre outros.

É uma Escola em construção, que a cada tempo vamos inaugurando um novo espaço pedagógico, como é o caso do Campo Dr. Sócrates Brasileiro, por meio da colaboração na campanha na plataforma Catarse, coordenada pela Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes (AAENFF). A arrecadação chegou a 68 mil reais, com a contribuição de mais de 600 pessoas. Futuramente, iremos fazer um mural com todos os nomes dos colaboradores dessa campanha.

A homenagem feita ao Dr. Sócrates Brasileiro vem ao encontro do legado histórico que o mesmo deixou para o povo brasileiro, transformando uma paixão nacional, o futebol, em algo mais que uma partida, mas sim, a possibilidade de, através dela, refletir questões sociais e políticas que se inserem no contexto brasileiro. Legado esse que compartilha com os ideais do MST, de um processo democrático na política do nosso país, das mudanças estruturais na sociedade e a luta por direitos humanos.

Assim, o campo de futebol da Escola Nacional torna-se um espaço pedagógico no qual as centenas de militantes das organizações populares, brasileiras e internacionais, possam sociabilizar, refletir e proporem mudanças sociais necessárias em todo o mundo. É um espaço de confraternização, de memória, de política e de futebol.

Para prestigiar a inauguração do Campo Dr. Sócrates Brasileiro, os portões estavam abertos desde o dia anterior ao 23 de dezembro de 2017, para as centenas de pessoas – pelo menos 1,5 mil – que adentraram os portões, sem pagar ingresso algum, trazendo a sua alegria, o seu entusiasmo e o seu corpo para testemunhar mais um belo momento da unidade na diversidade.

Foi um dia para festejar, para se alegrar, se confraternizar entre amigos/as, companheiros e companheiras, camaradas que acreditam num projeto do povo brasileiro; vivenciando os valores do companheirismo, da solidariedade, da beleza, da gentileza e do respeito.

Nesse dia o sol foi generoso. Após vários dias seguidos de chuvas pesadas, ele apareceu com luz total para abrilhantar mais ainda essa celebração. O calor do sol se juntou com o calor humano, ao receber ilustres convidados: Chico Buarque, que pela primeira vez se fez presente na ENNF, sendo ele um dos colaboradores para a construção, quando cedeu o seu CD Terra para a campanha de arrecadação de recursos econômicos. Chico foi homenageado pela Central Única dos Trabalhadores, ouvindo a sua música “Apesar de você” ser declamada por uma artista militante; também participou da homenagem ao cantor e compositor Daniel Viglietti descerrando a sua foto no mural em memória aos educadores/as que passaram pela ENFF e já nos deixaram.

Contamos também com a presença do camarada Lula, contagiando a todos/as com a sua alegria e esperança. A família do Doutor, representados por seus irmãos e seu filho Gustavo. Da área futebolística, as presenças do artilheiro Reinaldo, do Atlético Mineiro, do comentarista José Trajano, do jornalista Juca Kfouri – que foi juiz da primeira partida no campo Dr. Sócrátes, se autodenominando “Juca Moro” – , da ex-goleira da seleção brasileira Maravilha e da jogadora Maike.

Também estiveram presentes os ex-jogadores Afonsinho e Nei Conceição, personalidades da música como Ana Cañas, Aline Calixto, Renegado, Mano Brown, além de atores televisivos como Orã Figueiredo e Chico Díaz.

Além de todos esses, as centenas de amigos e amigas, membros da AAENFF, dirigentes e militantes do MST e das organizações sindicais e populares, simpatizantes da causa pela reforma agrária e defensores da democracia: adultos, jovens, mulheres e crianças ocuparam, com sorriso no rosto, a nossa Escola.

Ao som da música “O campo de asfalto. O campo do mato. O campo sem dono. O campo cercado. O campo negro. O campo do corpo. O corpo que joga. O campo de barro. O campo capim. O campo de areia da beira do mar. O campo come. O campo clareia. O corpo de pedra. O corpo de lama. O bola, o bola, o bola, lá….” (O Campo é corpo -Lirinha e Dan Maia), os oito times previstos para jogarem naquela tarde, adentraram o gramado acompanhados de dezenas de bandeiras, bolas e ferramentas. Mas isso foi só o começo!

Como diz o poeta (desconhecido) “O futebol é um poema. Às vezes, metricamente perfeito. Outras tantas, propositadamente inexato. Mas nunca prosa, nem quando zero a zero. Jogar bola é declamar com os pés. Verso que acaba em gol, rima obrigatória dos craques”.

E neste dia dizemos que futebol é também concentração, oração, celebração. Sendo assim, houve a benção ecumênica ao Campo Dr. Sócrates Brasileiro, com as presenças do Ogan Fabrício, do Pastor Ariovaldo, do Sheik Hussein Klhalillou e de Frei Betto.

A bola rola no gramado pela primeira vez entre os times Amigos do Chico e Veteranos do MST. Logo nos primeiros minutos há cartão vermelho, fazendo jus o juiz “Juca Moro”. Os times mistos, com a participação expressiva de mulheres militantes, fizeram bonito em campo. O primeiro gol de estréia foi marcado pelo artilheiro Reinaldo, o qual foi comemorado com uma bateria de fogos de artifícios. Outros times também entraram em campo naquela tarde quente: Democracia Futebol Clube, Prerrogativas, ENFF, Misto das torcidas organizadas, MST- RS, MST-SP e Celeste Proletário.

E o dia que já era uma grande festa, aqueceu ainda mais com a alegria das crianças correndo pelo pátio, se divertindo nos brinquedos, acompanhadas de seus pais e mães. Aqueceu com os abraços solidários de felicitações, num brinde com uma bebida fresca e ao sabor de algo especial para comer. Aqueceu com a roda de samba, na quadra da ENFF, Partido do Samba fazendo o melhor da música brasileira, afinal futebol e samba, tudo a ver.

A festa finaliza exitosa, graças ao trabalho voluntário de dezenas de militantes do MST do Estado de Minas Gerais, de São Paulo, do Rio de Janeiro, dos diferentes espaços nacionais, que colocaram a mão nas diversas tarefas das equipes da alimentação, da recepção, dos alojamentos, da comunicação, da saúde, da organização das partidas, da infraestrutura, da limpeza, dos equipamentos de som, dentre outras.

Com certeza quem esteve presente terá muito mais para contar além do que aqui foi relatado. Há muitas coisas inusitadas dos bastidores que não cabem em palavras apenas, cada um poderá contar detalhes diferentes dessa bonita festa. Os portões da ENFF não foram fechados, muito mais gente adentrará por ele e poderá vivenciar outros momentos de estudos, futebol e política.

Viva Dr. Sócrates Brasileiro!

Viva a democracia!

 

*Rosana Fernandes é integrante da Coordenação Política Pedagógica da ENFF.