Falemos de nós! Que falem das mulheres Sem Terra, da nossa resistência coletiva!

As mulheres constroem diariamente seu “instante de transgressão” à ordem. Para isso, ousam construir reflexões sobre uma subjetividade revolucionária a partir da ocupação do saber
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Dos Setores de Gênero e de Comunicação do MST
Para Página do MST

 

Em tempos de grandes encruzilhadas políticas do nosso país, de enfrentamentos e acirramento da luta de classes, as mulheres tem sido o motor provocativo da inquietude de propor e construir novas formas de produção e resistência coletiva dos povos, da revolução com unidade combatente.

No MST, as mulheres constroem diariamente seu “instante de transgressão” à ordem. Para isso, ousam construir reflexões sobre uma subjetividade revolucionária a partir da ocupação do saber, da realização de espaços como o Curso de Feminismo e Marxismo que possibilita a travessia pelo rio enorme e caudaloso, que é a história da luta pela transformação social, com ousadia, força, beleza e poesia.

“Um espaço de estudo, debate e reflexão extremamente rico para as mulheres, para que possamos, de fato, nos reconhecer e nos afirmar como mulheres dirigentes”, é assim que Polly Soares descreve um dos espaços coletivos mais acolhedores e formativos para as mulheres Sem Terra.

“Participar do curso me deu mais segurança como militante. Senti que não estou sozinha, que tenho amigas conspiradoras, companheiras… senti a unidade entre as mulheres da região Amazônica”, segue refletindo Polly.
O Curso de Feminismo e Marxismo, que ocorre em caráter nacional na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e é organizado em conjunto com o Setor de Gênero do MST, também tem sido organizado nas grandes regiões e estados.

Entre os dias 15 e 17 de fevereiro, as mulheres Sem Terra Amazônicas reuniram seus pés e suas asas para construir a conspiração dos gêneros em São Luís do Maranhão, na terceira etapa do Curso de Feminismo e Marxismo da região, fortalecendo a importância da participação das mulheres nos movimentos sociais, no MST.

A Sem Terra maranhense Gilvânia Ferreira descreve o espaço como um momento de debate político, mas, sobretudo, de fortalecimento da resistência das mulheres. “Percebemos que a apropriação do conhecimento é essencial para o processo de transformação da sociedade capitalista patriarcal, que explora e oprime a classe trabalhadora. O curso é também um momento da nossa escuta, escutar as nossas companheiras e nos escutarmos, refletirmos, planejarmos as ações de luta e fortalecimento da organização das mulheres na base e nas demais instâncias do MST”.

“Não dou a outra face!”

 

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Falemos de nós! Que falem das mulheres Sem Terra, da nossa resistência coletiva! Alcançar a outra margem do rio caudaloso da história requer que sejamos críticas da nossa própria prática e ousadas em nossa ação política organizativa.

Não dar a outra face significa que diariamente nos reinventamos nas trincheiras de luta para manter viva a mística feminista que tem o poder de nos mostrar o quanto somos fortes e essenciais para a sociedade e a para o próprio MST, nos lembra a Sem Terra maranhense, Caroline da Silva.

E dessa travessia pode parecer que na outra margem chegue “uma mulher estraçalhada”, mas não. Aprendemos que na vida seguir firme na construção da esperança não significa nos endurecer e sim nos reencontrarmos com as partes de nós mesmas perdidas no tempo pela violência do capital e suas tantas expressões; tema tratado com muita sensibilidade numa atividades com contos sobre a violência contra a mulher, tecidos pelas mãos da Frente de Literatura do MST – Palavras Rebeldes.

“É muito gratificante participar de momentos como este, de estudo e debates sobre a força e o papel da mulher na sociedade, na política e também sobre nosso papel como construtoras de uma nova sociedade… O curso me provocou a enfrentar dois desafios: estudar e me soltar mais, no sentido de socializar minhas ideias e reflexões, que é um dos meus maiores limites, mas que agora sei que foi construído pelo patriarcado e que podemos desconstruir juntas!”, se encoraja Carol.

A nossa resistência coletiva tem nos ensinado que ser forte, revolucionária, é ter a ousadia poética de nos refazer, é compreender que na travessia muito de nós precisará ser deixado para que do outro lado da margem chegue uma nova mulher, um novo homem.

Falemos de nossos atrevimentos… em colocar no curso da história os nossos passos contra o racismo e o patriarcado em suas diversas formas de violências, sobretudo contra as mulheres e LGBT. Da construção de espaços como o cabaré literário “Mulheres subversivas: sexo e revolução”, onde pudemos expressar livremente nossa sexualidade, questionando ousadamente padrões estabelecidos estruturalmente em nossa sociedade e reafirmando a centralidade da luta contra o patriarcado na construção do socialismo. LGBT Sem Terra, o paraense Pablo Neri entende que, “enquanto não rompermos com a questão da subjugação da mulher não será possível avançar na luta LGBT”.

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“Quem não se movimenta não sente as correntes que a prendem”

Em tempos de golpe com ataque direto aos direitos já conquistados pela classe trabalhadora brasileira, a perda de direito das mulheres esteve combinada com aumento do índice de violência contra seus corpos e ameaça às suas vidas.

Nesse período intenso, as mulheres Sem Terra seguiram organizadas nos rincões do país contra o capital e o patriarcado. “Em tempos de intensificação da ofensiva do capital na expropriação de nossa condição humana, o curso de feminismo e marxismo se configurou como importante momento de formação de nós, mulheres sem terra. Nos proporcionou reflexões e elementos que subsidiarão nossa militância e luta, certas da necessidade urgente de avançarmos na organização e formação de mulheres e homens para derrotarmos o patriarcado”, é o que Aline Mendes, militante do MST no Maranhão aponta.

Mais do que um espaço de estudo, o Feminismo e Marxismo coloca as mulheres Sem Terra em conexão com seu sagrado, onde força e beleza poética se combinam perfeitamente no enfretamento e resistência na luta pelo direito à terra e a Reforma Agrária Popular; contra o machismo e a violência contra as mulheres e as LGBT. O ciclo de resistência permanente ocorre em várias trincheiras, pois &”39;quem não se movimenta não sente as correntes que a prende!&”39;

Nós, mulheres Sem Terra que amamos a Revolução, seguiremos resistindo!
Muitos marços de luta virão, até que todas sejamos livres!