MST conquista latifúndio para assentamento no Vale do Paraíba paulista
Movimento luta pela arrecadação da Fazenda Bela Vista desde 2010 e garantiu a posse durante Jornada Nacional de Lutas.
Por Coletivo de Comunicação MST/SP
Fotos: João Pompeu
As famílias do Acampamento Egídio Brunetto, localizado no município de Lagoinha (SP), conquistaram a posse Fazenda Bela Vista, após oito anos de luta do MST. A conquista se deu no último dia 17, Dia Internacional de Lutas Camponesas, em plena Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária.
Com muito ânimo para seguir na luta e avançar na produção agroecológica, na tarde deste sábado (21), o MST convidou quem apoia a Reforma Agrária para festejar a conquista com a realização de uma Jornada Socialista, janta agroecológica e noite cultural.
A Jornada foi organizada pela Juventude Sem Terra que realizou seu encontro regional no pré-assentamento e teve início no antigo acampamento, em frente à Fazenda, com uma homenagem a Egídio Brunetto e, em marcha, participantes do ato seguiram até a porteira, aberta pelas crianças Sem Terrinha.
Durante a marcha e entrada na fazenda, a juventude puxou palavras de ordem e realizou intervenções em memória ao Massacre de Eldorado dos Carajás.

“É um momento de muita alegria para o MST e para as famílias acampadas aqui, porque nos traz mais vontade de continuar na luta. É a garantia da nossa conquista, ainda mais nessa conjuntura atual de golpe e paralisação da Reforma Agrária. Agora, com a posse, vamos conseguir escoar melhor a nossa produção agroecológica, dialogar com a sociedade e mostrar que é possível produzir alimento saudável”, comentou Tainara Lira, da coordenação do MST.
As famílias comercializam a produção na feira realizada no centro de Lagoinha e também se preparam para participarem da 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária, em maio.
Histórico
A Fazenda Bela Vista é reivindicada pelo MST desde 2010 por ser um latifúndio improdutivo, com 1650 hectares. A área foi vistoriada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e decretada para Reforma Agrária em 2012. Em 2014 a área foi arrecadada, mas por uma manobra judicial contra o MST, orquestrada pelo antigo proprietário, no mesmo ano as famílias foram expulsas da fazenda.
Naquele momento, o argumento usado contra o MST era que o Incra não tinha a licença ambiental estadual, necessária para a implantação do assentamento e que é emitida pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). O documento favorável à criação do assentamento foi emitido em dezembro de 2016 e por cerca de um ano ficou engavetado na superintendência do órgão em São Paulo.
Como resistência contra essa decisão que favorecia o latifúndio, o MST montou acampamento novamente na estrada em frente à área em novembro de 2015. Já em outubro de 2017, as famílias ocuparam a fazenda, dividindo os lotes e iniciando a produção agroecológica por conta própria, em um ato de rebeldia.
Após essa ocupação, o proprietário ainda pediu mais uma vez o despejo das famílias, que seguiram resistindo dentro da fazenda, mesmo sob ameaças de jagunços e iminência de despejo a qualquer momento. No último mês de fevereiro, o MST e forças aliadas realizaram na sede da fazenda a I Semana de Agroecologia do Vale do Paraíba, que reuniu cerca de 100 pessoas.
Juventude Sem Terra
Nos dias 21 e 22 de abril aconteceu o Encontro da Juventude Sem Terra do Vale do Paraíba. Durante o encontro foram debatidos temas como o papel da juventude sem terra na construção da Reforma Agrária Popular, análise da conjuntura política, diversidade sexual e o coletivo LGBT Sem Terra, entre outros.
Como exercício de síntese, a juventude criou um mural coletivo sobre o debate e realizou o encerramento com a Jornada Socialista da comemoração da conquista da terra, em que foram relembrados o militante Egídio Brunetto, a impunidade do massacre de Eldorado dos Carajás e a importância das crianças Sem Terrinhas.
Os encontros regionais também têm como objetivo o estudo preparatório para o 1° Encontro Nacional da Juventude Sem Terra, previsto para acontecer esse ano, além de fortalecer os coletivos de juventude de cada área.
“Importantíssimo a juventude dos acampamentos e assentamentos se reunirem. Foi muito boa a interação”, comentou Matheus Firmino, assentado na Comuna da Terra Olga Benário, de Tremembé/SP.
“Foi muito bom para sentir a necessidade de fortalecer esses encontros no assentamento onde eu moro”, disse Rebeca Beatriz, que vive no assentamento Nova Esperança, em São José dos Campos/SP.
Para a juventude acampada, o encontro trouxe mais ânimo. “Foi sensacional me sentir presente, fazendo parte da juventude”, destacou Claudio Igor do acampamento Egídio Brunetto.
*Editado por Rafael Soriano