Lutar por saúde é lutar pela vida
Por Wesley Lima
Da Página do MST
Ter saúde é ter a possibilidade de lutar contra o que nos agride e nos ameaça, inclusive a doença. Ou seja, a intervenção em saúde deve fortalecer a capacidade de lutar. Foi baseado nessa ideia, que o MST, em 34 anos de existência e luta permanente contra o capital, considera a saúde como um instrumento importante de organização dos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra.
Neste mês de junho, essas questões serão reafirmadas no Encontro Nacional do Setor de Saúde, que acontecerá entre os dias 21 e 24, em São Luís, no Maranhão. O encontro pretende reunir representantes do setor de saúde, médicos populares e militantes do MST de todo país para discutir os rumos do debate em torno da saúde popular no atual momento político e, paralelo a isso, comemorar 20 anos de organização e luta.
O Setor de Saúde existe desde o início do MST. Mercedes Queiroz, militante do setor há 12 anos, conta que desde as primeiras ocupações de terra, sempre existiram pessoas que cuidavam das outras, que ficavam com os doentes ou levavam para os centros de saúde ou hospitais quando necessário. “Pessoas, em sua maioria, mulheres que tinha o conhecimento das plantas, de cuidados populares, e, mais do que tudo, com um imenso desejo de ajudar, com solidariedade e disposição para superar os grandes desafios na conquista da saúde”, destaca.
A organização de um setor dentro do Movimento responsável para articular as dimensões do cuidado e da luta se constituiu em 1998 de maneira coletiva. A necessidade da formação e a articulação com pastorais, profissionais da área e representações coletivas foi fundamental para dá vazão ao processo organizativo que existe hoje. Mercedes lembra que o primeiro curso de saúde do MST reuniu militantes e dirigentes de todo Brasil. “São as precursoras e os precursores do setor de saúde do MST que temos hoje. Então, juntaram-se as realidades dos diversos cuidados populares em saúde nas áreas de Reforma Agrária, o debate do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e as bases da Reforma Sanitária Brasileira, para construir o setor”, explica.
Práticas de cuidado
Hoje, o Setor de Saúde está organizado em 23 estados e acompanha a dinâmica das lutas do MST em cada território, compreendendo suas especificidade e desafios. Em muitos dos estados tem ganhado espaço e as práticas de cuidado tem se destacado no dia a dia das famílias assentadas, acampadas e nas mobilizações.
Ventosaterapia, argiloterapia, auricoloterapia e a massagenterapia são algumas das práticas desenvolvidas pelo coletivo de cuidadores e cuidadoras do Movimento, que ao participar de atividades diversas contribuem na saúde preventiva. Nesse sentido, as práticas tem como objetivo melhorar a qualidade de vida e prevenir de doenças.
Saúde Coletiva
Ao falar sobre luta pela Reforma Agrária Popular, Mercedes afirma que a saúde no Brasil, um país agrário e desigual, a luta pela terra é fundamental. “Conquistar e fortalecer a saúde coletiva, com saberes e práticas tradicionais, educação popular, lutas em defesa do SUS, cuidado com o povo trabalhador, resgate da cultura alimentar saudável, dentre outros, são possibilidades de construir e consolidar a Reforma Agrária Popular”.
Nesse mesmo contexto, ela comenta que neste atual cenário político, de perdas, golpe e desmonte das conquistas dos trabalhadores e trabalhadoras é preciso perceber o quanto a democracia faz bem à saúde.
“Ou seja, é somente quando temos a possibilidades real de participação, de organização, luta e de políticas públicas é que podemos conquistar a saúde. Caso contrário, veremos a cada dia o povo adoecido, explorado, morrendo e sem condições dignas de cuidados necessários para restabelecer a saúde, tanto humana quanto ambiental. O projeto de Reforma Agrária Popular propõe esta saúde em luta, numa disputa do projeto de sociedade livre, justa e democrática”, conclui.
Num cenário de golpe e também de de lutas permanentes por direitos, a realização do Encontro Nacional do Setor de Saúde e as comemorações dos 20 anos de organicidade do debate no MST apontam diversos desafios e, paralelo a isso, a perspectiva de rememorar as conquistas históricas em torno da Saúde Popular.