São João Sem Terra: tempo de celebrar, colher e repartir a fartura da luta pela terra
Por Gustavo Marinho
Da Página do MST
É fogueira queimando, forró tocando e sorriso pra dar e vender. O mês de junho carrega tanta riqueza, que com muita luta e firmeza faz o Nordeste crescer.
Tem dia de Santo Antônio, de São Pedro e de São João, mas é o tempo pra festejar a colheita do milho que misturam esses santos com muita folia e animação. A festa veio de Portugal, quando eles comemoravam o trigo que colhiam, mas aqui no Brasil foi o milho na palha e o coração cheio de amor que fez ter tanta ternura nesse período como nunca se viu.
Desde então é sagrado: junho tem palhoça e festa na roça. Com a benção dos santos e fartura na mesa, junho carrega a certeza da força na luta e a alegria na colheita. Fartura que junta homens, mulheres, jovens e crianças ao redor das fogueiras, que montam suas palhoças, agradecem e celebram sua luta verdadeira.
Nos assentamentos e acampamentos as festas são ainda mais gostosas: lá celebramos com muito gosto o resultado formoso da luta pela terra. Tem dificuldade, tem necessidade, mas quando o chega o tempo rico da colheita, não tem trabalhador que não queira comemorar, pois é tempo de com muita agilidade fazer a festa também brotar.
Se a colheita é farta, vem logo a partilha: a festa é coletiva, pois nenhum Sem Terra é uma ilha. O povo quer é estar junto, comemorar junto, sorrir junto e fazer planos em coletivo. E se a festa é da partilha esse povo é profissional, plantando sem veneno, colhendo saúde e vida, a partilha com o povo Sem Terra tem que ser sensacional.
Tocando o forró, xote, xaxado, moda de viola ou baião, não tem quem fique quieto com uma sanfona, uma zabumba e um triângulo juntos a tocar na orquestra que todo nordestino ama de paixão. Na mesa tem a pamonha, o bolo, a canjica e milho de todo o tipo, nos cheiros e sabores que só o mês de junho guarda para nosso olfato e paladar, tem até quentão para esquentar as noites de luar.
Ao redor da fogueira os Sem Terrinha brincam, cantam e dançam. Tem quadrilha e tem coco, numa pisada e um ritmo que contagia adulto, jovem e até idoso. Tem ainda as brincadeiras, as simpatias, as anedotas… É uma mistura tão grande que fica difícil de descrever. Cheia de cores, cheia de vida, quem vai numa palhoça uma vez é difícil de esquecer.
Nas noites ou no amanhecer do Sertão, bom mesmo é poder visitar um pouquinho do Nordeste e sentir de perto a mística que esse mês carrega na palma de mão. É o tempo da fartura, da cultura e da mistura. São João Sem Terra é ainda mais bonito. Não tem quem não se encante com tanta belezura, quando até a plenária vira palhoça.
O São João Sem Terra daria até para escrever um repente, mas o tempo corre é rapidamente. Ainda temos São Pedro para comemorar, mas a certeza é que esse arraiá não tem data pra acabar, logo, logo a gente tem outra colheita para celebrar, pois aqui tem é de tudo pra gente saborear.
Se eu fosse você não ficaria de fora, chegava logo era junto nessa história!
Tem acampamento e assentamento para tu visitar ou até na sua cidade, na feira que esse povo faz pra te mostrar que é em todo o tempo do ano que com a Reforma Agrária Popular, temos o que comemorar.