Hércules Santos: negro, gay e do candomblé na luta pela diversidade

Para o militante, o debate LGBT tem avançado dentro dos movimentos populares, mas ainda é preciso discutir preconceito contra religiões afro-brasileiras
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Para ele, a organização da juventude, com toda sua diversidade, é fundamental para ampliar o debate sobre as opressões como o racismo e a LGBTfobia. Foto: Matheus Alves

Por Rute Pina
Especial para Página do MST

 

Nos intervalos da programação do 2º Acampamento Nacional da Juventude Sem Terra, a delegação do estado da Bahia chama a atenção com os batuques improvisados com pratos e talheres. Entre eles, o jovem Hércules Santos, de 21 anos, empresta sua voz e batucada para cantos que representam sua identidade como Sem Terra, negro, gay, nordestino e do candomblé.
 

Ele é um dos 500 no Acampamento, que ocorre em Corumbá de Goiás (GO), e que também vão participar da Marcha Nacional Lula Livre.
 

O jovem baiano é filho de assentados e vive no Acampamento Abril Vermelho, em Juazeiro (BA). Hércules, aos 17 anos, se tornou babalorixá — ou pai de santo, como também é conhecido o sacerdote de religiões afro-brasileiras.
 

Ele relata a dificuldade de se afirmar como LGBT, a princípio, por conta da homofobia e da invisibilidade da pauta no campo. “No início, foi bastante difícil porque a sociedade, em si, acha que só existem sujeitos LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) na cidade. Mas no mato, no campo e na roça também existem bichas, homens e mulheres trans que lutam por direitos”, diz.
 

Hércules afirma que o debate tem avançado, mas confusões sobre termos, por exemplo, persistem. “Ainda há uma ideia errada sobre a diferença entre opção e condição. Eu nasci negro, gay e com cabelo duro. Opção é quando você opina, escolhe e decide. Hoje estamos derrubando cercas em torno da homofobia”, explica o jovem. E há outras pautas, como a intolerância religiosa, que ainda são grandes desafios para a juventude camponesa, afirma.
 

Há um ano, em janeiro de 2017, Hércules abriu o terreiro Ilê Axé Ojú Omin – Casa de Axé Olhos D&”39;Água em sua casa, no acampamento, como resposta a comentários preconceituosos.
 

“Surgiu, dentro do acampamento, essa conversa que a gente não tinha conseguido a posse da terra ainda porque havia um macumbeiro que era o que impedia nossas bênçãos”, lembra ele.
 

“E na Bahia, onde temos a capital mais negra do mundo, cidades com a maior concentração de candomblé e centros espírita. Infelizmente, ainda ocorrem estes tipos de episódios.”
 

Por isso, a luta contra o preconceito religioso é mais uma batalha. “Quando a gente ocupa uma terra, a primeira coisa que se pensa em fazer é um galpão e uma igreja evangélica ou católica. Por que não um terreiro também?”, questiona.
 

Para ele, a organização da juventude, com toda sua diversidade, é fundamental para ampliar o debate sobre essas pautas nas cidades e, principalmente, no campo. Ele lembra, por exemplo, do quanto a discussão sobre diversidade sexual e identidade de gênero avançou dentro do MST.
 

“Sempre houve LGBTs no campo, mas eles nunca podiam se expor muito. Algumas pessoas diziam &”39;ah, ele é bicha, mas tem compromisso&”39; e a gente conquistava algum espaço. Mas hoje a gente tem um coletivo agindo, o que está sendo muito maravilhoso.”
 

A partir dos debates dentro do Movimento, o Coletivo Nacional LGBT do MST foi fundado no início de 2018.

 

*Editado por Geanini Hackbardt