A resistência do comércio agroecológico no coração da Lapa carioca

O Terra Crioula comemora um ano de sucesso nesta semana. Sem incentivos do Estado, o espaço funciona com base na cooperação entre produtores e consumidores.

 

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Por Geanini Hackbardt
Da Página do MST 

Há um ano o Espaço de Comercialização Terra Crioula oferece alimentos saudáveis aos moradores do Rio do Janeiro e já comercializou 18 toneladas de produtos da Reforma Agrária. Até o dia 30, a comemoração traz feira de produtos agroecológicos dos assentamentos e acampamentos do MST, atrações culturais, oficinas e debates para a Rua da Lapa, n 107. 

Dentre as atividades rotineiras, está a entrega das cestas de produtos, a cada 15 dias, para cerca de 45 consumidores. Quem participa do projeto, pode escolher o produto que vai compor o kit. Uma semana antes o MST envia uma lista dos produtos disponíveis, a pessoa seleciona o que mais lhe agrada, com o custo mínimo de 30 reais e busca na semana seguinte. 

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Aipim, batata doce e verduras são os mais procurados, mas é possível adquirir também arroz, suco, geleias e cafés, das cooperativas nacionais do Movimento. Além de produtos cosméticos do Setor de Saúde, como o xampu livre de parabenos, o condicionador especial para cabelos afros, gel, sabonete, repelente, etc. 

“Nosso maior desafio é garantir a presença de produtos de todas as regionais a um preço acessível. Nesse momento de golpe no Estado brasileiro, a Reforma Agrária foi paralisada, por isso a assistência técnica das famílias é feita somente por militantes do Setor de Produção. Mesmo assim, criamos o espaço. Sem nenhum tipo de incentivo do Estado, nem do município. A gente procura superar a distância para tentar garantir o transporte de todas as regiões até a capital”, explica Ruth Rodrigues, do Setor de Produção.

O apoio e incentivo que existe é todo dos consumidores, numa relação de colaboração mútua com os produtores e produtoras. Por isso, no primeiro dia de festividade, o MST realizou um ato de agradecimento aos que contribuem na construção e na resistência do projeto. 

A advogada do movimento, Fernanda Vieira, explicou que a produção sem terra é um enfrentamento cotidiano ao capital. “Aqui a gente entendeu que só avançamos com vocês compreendendo o quão difícil é lutar contra um sistema que nos convence que a única forma de produzir é a propriedade privada, que serve às grandes empresas”. 

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De acordo com Vieira, nem todos os produtos são constantemente acessíveis. Isso ocorre pela ineficiência das políticas públicas para a reforma agrária, que foram totalmente paralisadas após o golpe. “A falta algum produto não é uma expressão de ineficiência ou incompetência da produção das famílias dos trabalhadores sem terra, mas de um sistema que nos estrangula brutalmente e diariamente. De uma lógica de organização da nossa sociedade que fez com que no ano passado tivéssemos zero pro cento de reforma agrária”, completa Fernanda. 

Para ela, o Espaço Terra Crioula é símbolo da resistência. “A gente entendeu que só é possível pensar outro mundo, com esperança em projetos emancipatórios, se a gente perceber que é tempo de partilhar. Por isso a gente convida para partilhar uma experiência, que é não só do alimento saudável que chega à mesa de vocês, mas da possibilidade de um futuro em que o viver seja pleno, seja de uma vida mais justa, humana, fraterna e, por que não, socialista”, comemorou a advogada. 

A marca Terra Crioula organiza os produtos de 19 assentamentos ligados ao MST, distribuídos nas regiões Norte Fluminense, Região dos Lagos, Sul Fluminense e Baixada Fluminense. Os assentamentos se organizam também em cooperativas e 20 associações, entre as cooperativas temos a COOPATERRA, COOPSCAMP e COOPAMAB.

Confira a programação diária 

29/08 – Quarta-feira
9h – Feira agroecológica
15h30 – Cinema da Terra
18h – Ato Político: 1 Ano de Construção Coletiva do Terra Crioula
19h30 – Samba Brilha
30/08 Quinta-feira
A partir das 9h – Feira Agroecológica
9h – Roda de Conversa: “Diálogo dos Saberes”
12h – Culinária da Terra
15h30 – Roda de Conversa: “Unindo Campo e Cidade: Como construir espaços de comercialização popular?”. Experiências: Terra Crioula (MST), Armazém do Campo (MST), Rede Ecológica, Rede Carioca de Agricultura Urbana, Raízes do Brasil (MPA)

*Editado por Iris Pacheco