Incêndio destrói escola do campo no Espírito Santo
Por Mariana Mota
Da Página do MST
Fruto do descaso do Governo do Estado do Espírito Santo com a Educação do Campo e a proposta pedagógica das escolas de assentamentos no estado, na manhã desta última terça-feira (04), um incêndio destruiu parte da escola do campo no Assentamento Valdício Barbosa, como a sala de informática e a secretaria. Parte dos documentos e equipamentos foram queimados, assim como o teto, forro de PVC e paredes. Rastros de destruição ficou espalhado nas salas e pátio da escola.
A angustia, tristeza e revolta dos estudantes, educadores e famílias, assim como as cinzas do material queimado, também espalhou pelo assentamento, atingindo toda a comunidade. Os estudantes produziam os materiais para uma exposição na próxima semana, durante a III Feira Estadual da Reforma Agrária, no centro de Vitória.
Fábio Ribeiro, pai de estudante, expressou durante a assembleia, seu repúdio em relação a negligência do Estado, dizendo para a equipe da Superintendência Regional de Educação (SRE) que cada um deles deveria se colocar no lugar dos pais, diante os prejuízos materiais e simbólicos. “E se o incêndio fosse durante o turno escolar e atingisse um estudante?” indagou o pai a equipe da SRE.
O Assentamento Valdício Barbosa está localizado no município de Conceição da Barra no norte do estado do Espírito Santo, na comunidade vivem 89 famílias assentadas, e outras 40 famílias, como é o caso de filhos e outros integrantes das famílias.
A Escola Estadual de Ensino Fundamental Valdício Barbosa funciona desde o início do Assentamento, que foi criado em abril de 1996, a partir de uma ocupação organizada pelo MST em outubro de 1995. O espaço de ensino funciona em três turnos e atende aproximadamente 96 estudantes do assentamento e comunidades camponesas vizinhas, que estudam desde a educação infantil aos anos finais do ensino fundamental e educação de jovens e adultos. Sua proposta pedagógica é orientada pelos princípios da Pedagogia do Movimento e Pedagogia da Alternância.
“Foram as famílias que além de cobrar e acompanhar todo processo de construção da escola, também participaram da construção, doando parte do material e força de trabalho na construção do refeitório.” Afirma Adelso Rocha Lima, pai de estudante.
O incêndio como sinal de descaso do poder público
Esta já era uma tragédia anunciada, pois o problema da rede elétrica foi constatado e informado à Superintendência Estadual de Educação – SRE no ano de 2016, mas até o momento nada havia sido feito para resolvê-lo.
Uma equipe do Tribunal Regional Eleitoral – TRE fez visita à escola, no intuito de funcionar nas dependências da mesma, uma sala para o processo eleitoral em outubro desse ano. Nessa ocasião a equipe constatou que havia problema na rede elétrica e que precisa ser realizado amplo reparo, pois o problema estava em todas as dependências da escola. Isso foi constatado quando os estudantes tomavam choque ao contato com parte metálica que sustenta o teto das varandas. As lâmpadas e ventiladores haviam sido queimado. O problema elétrico que pode ser a causa do incêndio, em função das evidencias já relatadas e consta em arquivo da escola, parte destes, exposto ao Concelho de Escola.
Em reunião do Conselho de Escola da referida escola, realizada aos 20 dias do mês de agosto do corrente ano, como consta em ata, foi exposto e discutido sobre os riscos evidentes dos problemas elétricos sobre o patrimônio público, servidores da escola e dos estudantes. Mas que, mesmo já informado e cobrado do órgão competente (SRE), o mesmo ainda não havia tomado as devidas providências para sanar o problema.
Para Ronimárcia Martins Lima educadora e integrante do Setor de Educação do MST o incêndio é consequência do processo de sucateamento das escolas do campo do estado, principalmente as escolas de assentamentos. “é muito triste ver parte da nossa escola destruída pelo fogo, pois no campo a escola não é só um lugar de conhecimentos científicos, mas de organização, de cultivar a nossa história e a nossa memória”.
Ronimárcia ainda afirma que o sentimento que se tem em relação ao incêndio na E.E.E.F. Valdício Barbosa dos Santos é de indignação com a negligência do estado com a Educação do Campo. “A SEDU Secretaria Estadual de Educação do ES, já havia sido alertada sobre os riscos de incêndio que corria a escola. E mesmo assim nada foi feito” afirma a educadora.
Já Adelso Rocha Lima enfatiza que “a presença, expressão e intervenções de pais durante a assembleia realizada na tarde deste dia 4 de setembro demonstra o quanto a escola é importante paras as famílias”.
Defendemos a escola pública, não apenas por ser estatal, mas por ser do povo, do público. Educação do Campo, direito nosso, dever do Estado.
*Editado por Iris Pacheco